Impossível sair da lembrança dos cearenses, mesmo das gerações mais jovens, o deplorável episódio da agressão do senador Cid Gomes no encontro com a militância petista, por ocasião da realização do segundo turno da eleição de 2018 para a presidência da República.
Naquela ocasião, o irmão Ciro Gomes, diante da derrota no primeiro turno, já havia lavado as mãos e zarpado para Paris. Coube assim a Cid comparecer ao evento de apoio à candidatura do ex-ministro da educação Fernando Haddad na disputa com Jair Bolsonaro, candidato do grande Capital nacional e da Mídia corporativa.
Sintomático o editorial do jornal O Estadão, de longa tradição golpista, publicado no dia 8 de outubro, colocando no mesmo patamar político “o capitão Jair Bolsonaro (PSL-RJ), truculento apologista da ditadura militar, que admitiu ser um ignorante em economia, havendo se escondido de debates na televisão com seus concorrentes”, e Fernando Haddad (PT-SP), professor de Ciência Política da USP, advogado, mestre em Economia, doutor em Filosofia, ministro da Educação por oito anos (2005-2012), prefeito de São Paulo (2013-2016), com um histórico público lapidar, de causar inveja aos grandes líderes nacionais.
Naquele encontro, diante de opiniões contrárias ao discurso que estava proferindo, Cid Gomes, de forma arrogante e descontrolada, disparou contra algumas pessoas da plateia: “Lula está preso, babaca!”. Depois dessa descabida agressão, o clima ficou insustentável, sendo necessária a intervenção do então reeleito govenador Camilo Santana interrompendo o discurso de Cid Gomes. Este fato ganha importância para nossa breve reflexão a partir de dois aspectos.
Primeiramente em relação ao comportamento do eleitorado diante das próximas eleições. No mês de julho passado, tivemos a oportunidade de participar de uma pesquisa qualitativa, utilizando como metodologia o diálogo em grupos focais, com jovens da faixa entre 18 a 25 anos de idade. Compomos seis grupos de conversa, cada qual contando com oito participantes. Foram momentos muito ricos, sem nenhum roteiro rígido ou censura às opiniões apresentadas. Em função do limitado espaço editorial, destacamos três dos pensamentos expostos nas conversas, nos quais encontramos originalidades para nossas análises.
Um dos jovens relembrou justamente o fato ocorrido em 2018 quando a militância petista foi chamada de “Babaca”, diante dos vídeos reproduzidos para todo o Brasil, pelo senador cearense. Disse o jovem: “Com sua raiva, ao chamar as pessoas de babacas, o senador atacou a população em geral. O senador desrespeitou a opinião daquele eleitorado. Como representante do povo, ele não podia ter agredido a plateia daquela forma”.
Outra jovem ponderou: “Aqui no Ceará, ficar próximo a quem lhe ataca constantemente, difamando publicamente a pessoa do presidente Lula, é algo muito perigoso para esses políticos do PT, porque o Nordeste é a região do Brasil onde há mais petistas e lulistas. Como irão explicar isto para o eleitorado?”.
Por fim, citamos a terceira opinião: “Essas agressões fazem o agressor ficar igualzinho a Bolsonaro. Esses agressores se consideram o centro do poder. São coronéis e vão fazer de tudo para acabar com Lula de qualquer jeito. Eu não sei como é que Camilo (Santana) fará para explicar para a população que ele estará ao lado dessas pessoas que atacam Lula e o PT o tempo todo”.
O segundo aspecto a ser considerado, trata da conjuntura política atual diante da necessidade de somar forças para derrotar o projeto bolsonarista militarizado no poder.
Em entrevista concedida, no dia 26 de abril de 2019, aos jornais Folha de São Paulo e El País, ainda recluso nas instalações da Polícia Federal em Curitiba, o ex-presidente Lula quando indagado sobre este episódio, respondeu: “Não precisava chamar as pessoas de babacas. Era só ler os jornais para constatar que eu estou preso”. Lula complementou: “O Ciro Gomes deveria aprender uma lição elementar: é preciso aprender a ouvir coisas de que você não gosta. Suportar os contrários. Conviver na diversidade. Ele precisa aprender essa lição mínima. Porque com essa sua virulência ele não faz mal ao PT, ele causa mal a si mesmo”.
Corroborando com este pensamento de Lula, numa recente análise, o presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), o pernambucano Carlos Siqueira, afirmou que “o momento não é para brincadeira”. Siqueira é muito claro e seguro em seu posicionamento: “Nós do partido socialista já estabelecemos o alvo a ser atingido: Jair Bolsonaro, um fascista no poder. Por isso, qualquer coisa diferente disso representa fugir do alvo. Acho que Ciro Gomes erra quando faz ataques ao ex-presidente Lula. E a gente tem que ter clareza: o inimigo da democracia se chama Jair Bolsonaro. Eu discordo inteiramente de Ciro. Não estamos num momento de ter brincadeira. Precisamos levar a sério a ameaça que estamos sofrendo”, disse o presidente nacional daquele partido.
Também na mesma direção expressou-se o governador do Maranhão, Flávio Dino. Numa entrevista concedida ao programa Direto da Redação, da Revista Carta Capital, no dia 21/06, Dino alertou para esta questão, destacando que os posicionamentos beligerantes e irascíveis de Ciro Gomes (PDT-CE) dificultam a composição de palanques no primeiro turno para a disputa de governos estaduais e senado federal. Para o governador maranhense, é importante criar o clima amistoso para manter as portas abertas, mediante uma sinalização clara de civismo e de grandeza na disputa política.
Lula está livre e solto, falando abertamente ao Brasil e ao Mundo, mesmo se para a infelicidade e o desespero de algumas figurinhas da política. A juventude local, com a qual conversamos em julho passado, resume em uma única palavra a força de Lula: LULA É A ESPERANÇA.
No dia 20 próximo, Lula terá a oportunidade de encontrar-se frente a frente com as lideranças petistas. De que lado se posicionarão esses líderes do PT cearense: Do lado de Lula ou de Ciro? Comporão o palanque de Lula ou o de Ciro? A conferir.