Lendo e comentando Josenio Parente – segunda opinião sobre “presidencialismo de coalizão “

Duas questões que me parecem importantes dialogar com o Professor Josênio Parente em seu artigo “Bolsonaro: mais um momento de inflexão da política brasileira”:

 

1) O conhecido argumento classificado por Sérgio Abranches, esposo de Miriam Leitão, como “presidencialismo de coalizão”, para outros autores, nada mais é do que um eufemismo das condições estruturais postas para a manutenção das barganhas partidárias, herdadas da ditatura militar, na composição de maioria congressual que fragiliza a governança pelo executivo. Foi (ou ainda é) uma ferramenta analítica criada por Abranches para dar *galhardia* ao amplo balcão de negócios ocorridos nos governos do PSDB do príncipe Fernando Henrique Cardoso.

 

Márcio Pochmann, economista do IPEA e da Fundação Perseu Abramo, advoga que um dos grandes erros da Nova República foi o de não realizar uma reforma política e eleitoral que viabilizasse uma maioria simples para os chefes de governo eleitos para minimizar esse balcão de negócios. Algo que parece não ser do interesse da oligarquia político-partidária. Como lembra Robert Michels, em a Sociologia dos Partidos Políticos, “quem diz organização, diz oligarquia: uma organização com uma estrutura altamente burocratizada, comandada por um conjunto de dirigentes profissionais muito mais preocupados com a manutenção de suas posições internamente e com a sobrevivência da organização do que com os objetivos políticos que inspiraram a sua criação”.

 

 

2) A “inflexão” assim chamada pelo professor Josênio poderia ter sido melhor contextualizada, pois da forma como está apresentada em seu artigo tem-se a impressão de que o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff foi legítimo, não foi um golpe. Como atesta o professor Wanderley Guilherme dos Santos, muitas vezes tem-se a tendência a pensar que os golpes políticos, clássicos ou híbridos, possuem como causa um universo alheio ao mundo democrático, como sendo resultado de mecanismos alienígenas. Ledo engano. O ritual do golpismo parlamentar contemporâneo mantém quase que intocados todos os procedimentos costumeiros democráticos, obedecendo, entretanto, a um “ROTEIRO ESPECIAL” para poder-se atingir a subversão da ordem política, econômica e social até então em vigor. Para se efetuar um Golpe, primeiramente toma-se o poder, como ocorreu com o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Para tanto, no caso brasileiro, foi necessário prepará-lo por meio da criação de um clima de ódio e conflagração social, como atestei em meu recente artigo, orquestrado pelo oligopólio midiático – A Rede Globo com suas parceiras – juntamente com outra estrutura operante golpista, a denominada Operação Lava Jato, comandada por Moro e Dallagnol, buscando manipular a desestabilização moral do governo eleito democraticamente, seus líderes e suas entidades partidárias, bem como organizações econômicas – estatais, privadas – e culturais alinhadas com o governo vigente, como tão bem estão a demonstrar-nos as reportagens do site The Intercept Brasil.

Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .

Mais do autor

Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .