Eis, morto aos teus pés, o tempo imóvel,
Inocente, pego de surpresa, feito uma criança prodígio
Que morresse de tifo sem realizar esperança alguma
Nem frustrar de uma outra forma as cruéis expectativas
Ou de fraqueza, muito antes da possibilidade das palavras,
Ainda mais absolvida e, mesmo assim, condenada injustamente,
E nem sabíamos do que poderia ter sido capaz,
E se não tivéssemos já lhe dado um nome
Nem sequer nos apegaríamos. Os nomes, outros nomes,
Na mente se acumulam: sem a força do amor é o peito
Um relógio emperrado e sem conserto que se guarda por vaidade
E por ganância, pela ilusão de que ainda valha alguma coisa,
Como se pudéssemos vender ou fazer paredes e colunas
Com os ossos dos mortos ou empalhar seus corpos como troféus de caça
Na casa do homem branco e colonizador. Essa gente de pele tão branca
Que dá vontade de escrever nela pra que, enfim, nos diga alguma coisa
Que não seja ausência e presunção de santidade: eu não vivi,
Diz a pele alva, histérica, ressecada, e levo à terra
Uma carne santificada e sem história. O tempo,
Tão jovem quanto o segundo que virá,
Tão velho quando o segundo que passou,
Que cores traz na carne que se tornará pó escoará no furo
Que se abre e afunda sobre o corpo cada vez mais leve
Do teu esquecimento?