A FEROCIDADE ROMÂNTICA, por Rui Martinho

O romantismo é associado ao comportamento amoroso, que é uma de suas formas, mas a ferocidade não está excluída. O verbete romantismo, no dicionário, contém palavras e expressões como fez prevalecerem o sentimento sobre a razão, a imaginação sobre o espírito crítico, a imaginação sobre o racional, maior inserção de subjetivismo, sentimentalismo exacerbado, desprovido de senso prático (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa). Romântico, no mesmo dicionário, contém palavras como exaltação, devaneio, eleva acima da realidade, arrebatado, apaixonado, narrativa imaginosa. O subjetivismo exaltado, ignorando a realidade, leva ao titanismo. Titã, semidivino, herói romântico, queria escalar o céu, superar limites, alcançar o absoluto.

A política vive dias de intolerância e agressividade. A desilusão com as instituições e a crise generalizada contribuem para tanto. A falta de representatividade dos partidos, sindicatos e Congresso; crise econômica; escândalos alimentam a exaltação. O populismo e a cegueira ideológica estimulam ideias mirabolantes, como solução inodora; escalar o céu, como o Titã, usando como escada o Estado provedor; desprezo pela realidade das contas públicas; crescimento sem investimento; endividar-se sem pagar juros. Prevalecem os sentimentos sobre a razão, a imaginação sobre o racional, a elevação acima da realidade, a narrativa imaginosa.

Quando céu pode ser alcançado, mas não o fazemos, algum malvado nos impede. A busca do “mundo melhor” passa a apontar culpados, exigir punições, elaborar teorias conspiratórias. Não importa que os românticos tenham governado fazendo dívidas junto ao capital financeiro, que desfrutou os maiores lucros durante o governo dos titãs. Impor a subjetividade com a força do gigante é buscar o absoluto. É totalitarismo que impõe uma consciência oficial, agride a moral do outro como preconceito, criminalizando-a; instituindo delito de opinião. A intolerância em face dos conceitos do outro; da racionalidade e com quem diz que os pródigos não podem culpar o capital financeiro por atender à demanda por crédito é o ódio titânico. Interesses corporativos, populismo e desinformação se aliam para produzir a intolerância e ódio.

Rui Martinho

Doutor em História, mestre em Sociologia, professor e advogado.

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Rui Martinho

Doutor em História, mestre em Sociologia, professor e advogado.