Fabril

O tempo passa tão rápido.

Sinto que os dias são cada vez mais curtos ou será que eu que sou lenta?

Quando percebo estou a mil. O coração, a respiração e a cabeça. Se paro um pouco logo penso: tempo perdido, não posso parar.

Tento lembrar de respirar fundo, segurar a respiração por alguns segundos e soltar lentamente. É tudo tão mecânico e o mecânico faço, mas o tal sentimento de paz me falta.

Lembro, às vezes, de uma música do Leoni em que ele cita um mantra “om mani padme hum”.

Não lembro o que significa, mas lembro de repetir, repetir e repetir.

Foi minha oração por um tempo. Oração mecanizada.

O mecânico faço bem. Não me alegra, não me excita, mas faço bem.

Me exige o corpo, a mente e a história, mas faço bem.

Quando o mecânico para, vem o maquinar.

Do que gosto? Não vivo.

O que gosto não provo.

Outrora lambuzada, ou com memórias distorcidas de um doce que não tenho mais, hoje pareço renegar, repensar e agir da maneira esperada.

O mecânico faço bem.

O mecânico paga as tristezas, desesperos e memórias do que OUTRORA lambuzava-me.

O mecânico paga o amor que distante não pode se fazer presente em presença.

O mecânico mata, todo dia um pouco. Todo dia falo para mim mesma “Não importa, pois, o mecânico faço bem”.

Construo para o outro com a intenção de construir para mim, mas não há “eu/meu” que fique comigo quando apenas dou. O maquinar é meu.

Planos! Planos! Pecados, perigos, paixões, piadas, pinga. PSIU! SHIIII!

Cala, não maquina, o mecânico você faz bem.

O medo, as rugas, a idade, a ignorância, a decepção. Até quando o mecânico será feito bem?

Respira, “om mani padme hum”

Quem sabe alguns dias, meses ou anos mais. Conta até 10 e vai! Afinal, o mecânico, por hora, você faz bem.

Jessika Sampaio

Curiosa, tagarela, viajante, feminista, caótica e contraditória. Ignorante sobre quase tudo e em constante aprendizado sobre o vazio da existência. Além de ser bicho humano, já atuei como jornalista, radialista, assessora de imprensa e de comunicação, coordenadora de comunicação e em lutas ambientais e LGBTQIA+. Em processo de aceitação da escritora que grita aqui dentro.

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Jessika Sampaio

Curiosa, tagarela, viajante, feminista, caótica e contraditória. Ignorante sobre quase tudo e em constante aprendizado sobre o vazio da existência. Além de ser bicho humano, já atuei como jornalista, radialista, assessora de imprensa e de comunicação, coordenadora de comunicação e em lutas ambientais e LGBTQIA+. Em processo de aceitação da escritora que grita aqui dentro.