Existe solução fora da política? por Gilvan Mendes

A crise política e econômica que o Brasil vem enfrentando reviveu uma espécie de pessimismo exacerbado na população. É comum ouvirmos pessoas nas ruas dizendo que o ”Brasil não tem jeito” ou  ‘‘aqui é assim mesmo , é melhor lá fora” com um tom dramático e melancólico. Esse sentimento , vem acompanhado com uma descrença absoluta na política e nos políticos para a resolução dos problemas nacionais. A corrupção , a ineficaz gerência dos recursos públicos , e a falta de respostas para a violência urbana parecem ser  as principais queixas dos cidadãos atualmente , e o não enfrentamento dessas questões alimenta uma mentalidade salvacionista e redentora entre os brasileiros.   

Aqui um breve relato pessoal. Conversando com um amigo de infância , refleti bastante  ao ouvi-lo tão bravo com as irresponsabilidades dos governantes , principalmente com os casos de corrupção. O Brasil só vai prafrente quando elegermos um representante honesto , dizia. Argumentei que é inútil buscarmos um político probo ,se nós mesmos não somos assim no cotidiano , preferimos subornar o guarda ao invés de pagar corretamente a multa de trânsito , por exemplo. Meu amigo rebateu afirmando que ”não adianta um fazer o certo quando os outros fazem o errado ,  pouco depois mudamos de assunto.

O raciocínio implícito na fala do meu amigo é refletido por boa parte da população , e consegue ser  radicalizado. Em fóruns de discussão na internet ,  é fácil visualizar comentários que além de desprezarem a política em si ,clamam por uma forma alternativa de organização política que não seja errática como a  democracia representativa. Esse leque de opções vai de entusiastas da ditadura militar até liberais mais atirados que pedem uma sociedade sem Estado e funcionando só pelos mecanismos de mercado , passando por reivindicações de autogestão completa e solidariedade social , sem  esquecer dos separatismos.  

Porém , na prática a teoria é outra. As sociedades modernas não conseguiram encontrar um substituto eficaz e duradouro para a democracia representativa , não raro as tentativas desembocaram em  ditaduras , seja de esquerda ou de direita. É claro que isso não é um convite ao comodismo , precisamos democratizar a democracia para atendermos as exigências do mundo em que vivemos . Em relação à política , também não alcançamos uma alternativa global e possível que atue em seu lugar  , talvez , nossa irritação seja consequência de uma interpretação idealista , de que a política está aqui para que possamos sanar todos os nossos males. Maquiavel já traz uma visão mais sofisticada , observando que a política é uma constante correlação de forças da sociedade. Não conseguiremos o céu com ela , mas podemos evitar o inferno , e issoos mecanismos democráticos parecem conseguir.

Os casos passados e atuais  de corrupção são graves. O cidadão comum tende a culpar integralmente a classe política , e em grande parte não estão errados. Entretanto , nossos representantes são o espelho de nós e de nossasatitudes , não estamos  assim por acaso. Constantemente preferimos o caminho mais curto , o famoso ”jeitinho brasileiro ao trajeto mais longo e racional. Precisamos mudar ,  sem esperar que uma operação lava-jato davida faça isso por nós. Com essas e outras ações , talvez , conseguiremos sair dessa crise mais fortalecidos enquanto sociedade. Para isso acontecer ,  não basta somente apontar o dedo para a classe política , mas também uma reflexão pessoal de nossas formas de sociabilidade cotidiana. Tarefa dura.

Gilvan Mendes Ferreira

Cientista social graduado pelo Universidade Estadual do Ceará-UECE, com interesse nas áreas de Teoria Política , Democracia e Partidos Políticos.

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Gilvan Mendes Ferreira

Cientista social graduado pelo Universidade Estadual do Ceará-UECE, com interesse nas áreas de Teoria Política , Democracia e Partidos Políticos.

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