Diria sim, diria assim, a Fortaleza que há em mim.
Os cigarros que não fumei, o pulmão que eu preservei.
As árvores que abracei e os gatos que da rua salvei.
O dedo na cara que eu apontei
e a unhada no pescoço que desenhei
Os banhos nua que eu tomei na ressaca da noite, na boca da praia.
As rabissacas que eu dediquei esnobando a pobreza de rico metal.
Quem apontou meu sotaque dizendo que ele era forte demais, e num delírio sugeriu até mudar o meu nome: “deixar mais moderno e até parecido com a atriz Halle Berry”.
- Não, obrigada, estou bem assim.
Os livros que eu ganhei, os irmãos mais velhos que adotei.
As bocas que eu beijei e as distantes que só desejei.
Os amores que conquistei e as paixões que eu sepultei.
As páginas que escrevi, as letras que eu engoli e as palavras que depois recitei.
Os “nãos” que me salvaram,
os ‘sins” que me apaixonaram,
os sábios que me alertaram
e os sapos que evaporaram.
Os segredos que descobri
e o cofre invisível onde eu escondi.
As guerras que eu não criei
e as batalhas que sempre enfrentei.
A posição que eu não tomei
e a luta que ignorei
a bandeira que não levantei
e o objeto que não investiguei.
Os meninos que eu não salvei
e as mães que não acalentei
as desculpas que eu não pedi
e o Estado que não confrontei.
O tesão que direcionou
a paixão que ressuscitou
o grito que explodiu num gozo que nunca acabou.
O compromisso de uma palavra
e o assombro da linha em branco
a potência de uma escrita no enigma do que não foi dito.