EM APENAS CINCO MINUTOS

Bastaram apenas cinco breves minutos para a médica cardiologista, professora associada da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), integrante do corpo de cardiologia intensiva da Rede D’Or, Ludhmila Hajjar, desenroupar as vestes macabras da política de saúde adotada pelo governo federal em relação à pandemia Covid-19, em entrevistas concedidas, ontem, no dia 15/03, aos canais de televisão da mídia corporativa nacional e a blogs especializados em política. Além de estar nu, Ludhmila revalidou o que muitos já sabiam: o rei é um desqualificado.

Numa resposta à jornalista Andréa Sadi, pela recusa ao convite a assumir a Pasta da Saúde, a médica fez pontuações precisas, claramente condenatórias do horror que vem sendo adotado pelo desgoverno bolsonarista, apresentando diversos questionamentos sobre as inações e indeterminações daquele ministério. Para a cientista, é preciso clareza, honestidade e firmeza científica na definição de protocolos. Há que reunir os especialistas e as sociedades médicas numa ação conjunta coordenada pelo Ministério da Saúde. Em vez disso, a presidência do Brasil alimenta uma discussão patológica ao buscar colocar em xeque as decisões dos governadores. Mas é na porta dos governadores e prefeitos que a população bate buscando soluções reais. Além disso, o presidente se fixa na discussão do passado, como cloroquina e ivemerctina, contrário ao uso de máscaras e promovendo aglomerações. Ludhmilla concluiu afirmando que “o cenário é bastante sombrio. O Brasil em breve chegará a 600 mil mortes. Quem for substituir o general Pazuello no Ministério da Saúde tem que ter total autonomia em relação à politica a ser adotada de combate à pandemia”.

Por sua vez, o site Poder 360, dirigido pelo jornalista Fernando Rodrigues, foi um pouco mais incisivo na postagem das informações coletadas em seu blog político. Primeiramente anotou que a rede digital de milicianos bolsonaristas disparou inúmeros ataques públicos à pessoa da cientista, chegando inclusive a ameaçá-la de morte. Esse massacre digital demonstra que mesmo antes da entrevista com a doutora Ludmilla, Bolsonaro já a havia descartado. Atendê-la em reunião foi apenas uma formalidade para dar uma satisfação à sua base parlamentar, em particular ao presidente da Câmara, deputado federal Artur Lira (PP – AL).

Além disso, na conversa, com a participação do filho Zero 03, a médica foi submetida a uma sabatina envolvendo temas como ARMAS. Logo em seguida, Bolsonaro perguntou-lhe sobre o seu pensamento quanto ao uso da CLOROQUINA, demarcando uma divergência radical entre o pensamento da cientista com o do capitão. Por fim, sobre a temática do “lock down”, o site Poder 360 apurou que o capitão em um determinado momento dirigiu-se, com a sua notória descompostura verbal, à doutora Ludhmilla, matraqueando: Você não vai fazer lock down no Nordeste para me foder e eu depois perder a eleição, tá ok?. Portanto, o rei além de estar nu e ser um desqualificado, só pensa no seu umbigo, como bem afirmou anteriormente o deputado federal Rodrigo Maia (DEM – RJ).

Lembremos que em 17 de março de 2019, 75 dias após a sua posse, em jantar com representantes da extrema-direita estadunidense, o capitão admitiu haver chegado ao poder para levar adiante um projeto de desconstrução de inúmeras conquistas nacionais. Afirmou: O Brasil não é um terreno aberto onde iremos construir coisas para o nosso povo. Nós temos de desconstruir muita coisa”. Entre tantas destruições estão a do SUS, da Educação Pública e Gratuita, dos planos de carreira dos Servidores Públicos.

Em entrevista ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU, o economista Guilherme Melo, doutor pela Universidade de Campinas e coordenador do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica do Instituto de Economia – IE/Unicamp, destaca que o objetivo da PEC 186 enviada por Bolsonaro ao Congresso, aprovada no último dia 12/03, foi o de criar mais arrocho fiscal, por meio denovos gatilhos para o corte de recursos públicos, proibindo a criação de novos gastos, a contratação de pessoal, a reposição salarial pela inflação e promoção de servidores públicos (Artigo 167). Isso tudo num momento em que o gasto público se faz mais do que necessário.

Originalmente a PEC previa a destruição das políticas sociais no Brasil, principalmente Educação e Saúde, com a extinção dos vínculos constitucionais dessas políticas. Caso tivesse sido aprovada na íntegra, com a proposta do governo Bolsonaro-Guedes de extinção do mínimo de investimento de 25% do orçamento dos Estados e Municípios, e de 18% da União para a Educação, a própria emenda do Novo Fundeb seria inviabilizada, assim como o piso salarial nacional dos profissionais da Educação, com a consequente destruição das redes de educação municipais e estaduais, além do fechamento das universidades e institutos federais.

Num momento que a pandemia com suas consequências recrudescem no País, o governo Bolsonaro, por meio da PEC, propôs um teto de gastos para o auxílio emergencial de escassos R$44 bilhões, deixando de fora recursos para leitos de UTI e auxílio a microempresas. Em 2020, graças a autonomia da Câmara Federal, por ação dos partidos de esquerda, plenamente acolhida pelo então presidente Rodrigo Maia, o aporte para o auxílio emergencial foi da ordem de R$320 bilhões.

É amplamente visível que as condições sanitárias, sociais e econômicas agora em 2021 só fizeram deteriorar, como bem atestou a cardiologista Ludhmila Hajjar. Enquanto a maioria dos países têm apresentado vigorosas medidas de proteção social, o governo Bolsonaro friamente resolve adotar uma política que penaliza a população brasileira trabalhadora e fortemente empobrecida desde 2019. Um rei nu, desqualificado e egocentrista. Será que todos estão vendo, ou somente a doutora Ludhmilla? O que fazer diante de um governo federal como este que aí está?

A Uol Notícias publicou ontem, de forma detalhada, que a Família Bolsonaro, com o Capitão e seus filhos Zero Um, Zero Dois, Zero Três e Zero Quatro, é suspeita de desenvolver um esquema de corrupção de apropriaçãocriminosa de dinheiro público – vulgarmente conhecida como rachadinhas – desde à época que o capitão era deputado federal. Muito provavelmente mais um novo atributo será conferido ao rei. Vamos aguardar o desenrolar dos fatos e das investigações. E pensar que um governo com essa estatura tem o apoio das Forças Armadas. A que nível o Brasil foi rebaixado?

Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .

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Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .