DESAMPARADAS

Observando os lamentáveis ataques ocorridos no Santuário de Aparecida (SP), dia 12, perpetrados pelos bolsofascistas, juntamente com mais uma série de mentiras disparadas pela pastora Damares Alves durante a campanha eleitoral, é possível compreender um pouco melhor o movimento de destruição cultural colocado em ação pelo bolsofascismo desde que chegou ao poder em 2019, à medida em que eles vão revelando a sua verdadeira face.

Num rápido diagnóstico do tempo presente, por um lado se tem que o Capitalismo Global é uma Religião Monoteísta cujo deus é Mamon (Dinheiro, Poder e Prestígio). Por outro lado, as igrejas e movimentos religiosos que mais funcionam, ganhando novos adeptos e visibilidade midiática, são aquelas mais identificadas com o capitalismo, adaptando sua hermenêutica bíblica às exigências doutrinais do Deus Mercado. Como bem expressou recentemente, de forma categórica, um sacerdote franciscano católico alemão: “Para o nosso trabalho o melhor é a direita”.

Essas igrejas e associações religiosas se desenvolvem visando conquistar os mercados da fé, ao mesmo tempo que o Mercado Financeiro funciona como uma Religião única, doutrinando seus fiéis seguidores para impor sem maiores obstáculos seus dogmas e o seu deus Mamon. Esse é um registro importante para poder compreender a unidade dialética que comanda o movimento histórico contemporâneo atuando sobre uma massa de desamparados e deserdados pelos estados-nações submetidos ao império do Capital global.

Para atuar o seu Plano de Poder, as igrejas cristofascistas e cristocapitalistas necessitam de mistificadores (pastores, pastoras, padres, gurus) cuja função é gerar uma perturbação nos corações e mentes de seus fiéis, disparando de forma estruturada e continuada mentiras e ilusões em massa, impedindo-os de desenvolver uma capacidade reflexiva e crítica, mantendo-os num estágio emocional e reflexo da consciência, estimulando-os a fornecer respostas condicionadas pela catequese orientada. O objetivo é dirigir o pensamento das pessoas, alimentar o delírio, para manter uma situação de caos produzido e orquestrado.

O Fascismo é tipicamente uma arquitetura do caos em relação às massas. Para dominar as massas humanas é necessário ao fascismo impedir que elas desenvolvam um pensamento crítico. O pensamento crítico permite o esfacelamento das massas irracionais, possibilitando que elas se tornem grupamentos humanos orgânicos e pensantes, capazes de se opor ao caos arquitetado, fazendo-lhe resistência.

Assim, a mentira e a ilusão estruturadas são um dispositivo de poder. Vai desde a ação de operadores que produzem o engajamento de trouxas crentes num cardápio de fake news (como aquela propagada por Damares de ter visto “Jesus na goiabeira”, ou a ilusão perpetrada pela Globo em torno da “santidade” de Sérgio Moro como salvador da pátria), passando pela atuação de repetidores voluntários que não recebem dinheiro mas são compensados emocionalmente por seu engajamento no fluxo de produção grupal, chegando a expoentes, como Damares Alves, que orientam o gado, dele retirando grande proveito político e financeiro.

Esses expoentes são abusadores da fé alheia. A fé é o lugar existencial onde o outro é mais frágil, porque para o fiel Deus é tudo, é o que lhe dá sentido em viver, principalmente quando se é um fiel desamparado na vida social, econômica e política de uma determinada sociedade. Sendo assim, tais fiéis entregam suas vidas nas mãos de Deus, entregam sem vacilar seu dízimo para as Igrejas, acolhem como verdade absoluta as orientações recebidas pelos seus pastores, pastoras ou padres, por acreditarem piamente que eles representam a vontade de Deus. E ai daqueles crentes que não seguirem a vontade de Deus! Que o digam as fogueiras da Inquisição Católica.

A fé produz a ação. A manipulação da fé, produz comportamentos manipulados. É aqui que reside o psicopoder desenvolvido pelo bolsofascismo. Muito maior que o biopoder outrora analisado por Michel Foucault, porque além de vigiar e punir, o psicopoder tem a capacidade de influenciar as pessoas: à medida que detém o conhecimento do funcionamento da lógica inconsciente, controla o comportamento social das massas desamparadas. Como no exemplo do sacerdote alemão que na missa, depois de fazer a campanha aberta da direita, admoestou os fiéis: “Quem não votar, comete pecado e precisa se confessar”.

Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .

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Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .