CRESCENDO EM ESTATURA, SABEDORIA E GRAÇA – Alexandre Aragão de Albuquerque

Na narrativa do nascimento de Jesus de Nazaré, encontra-se um episódio marcante em sua trajetória de vida. É um evento descrito no evangelho de Mateus, no qual José com sua esposa Maria e seu filho recém-nascido fogem para o Egito, após a  visita dos Magos, quando eles ficaram sabendo que o rei Herodes planejara perpetrar um infanticídio contra todos os meninos com idade até dois anos daquela aldeia camponesa, como de fato ocorreu, segundo o evangelista. O Egito era um lugar ideal para o refúgio, pois estava fora do domínio do rei Herodes, mas ainda dentro dos territórios do Império Romano. José e sua família teriam retornado do exílio quatro anos após a fuga, logo em seguida à morte de Herodes narrada pelo historiador judeu Josefo.

Trajetórias de vida são objetos de estudo da sociologia desde a sua emergência como ciência social. Uma questão-chave nestes estudos é a busca de conexões entre uma trajetória individual e o meio social no qual ela se desenrolou. Entre os autores brasileiros que se dedicam a discutir trajetórias de vida encontramos o mestre Gilberto Freyre acerca do não menos importante Heitor Villa-Lobos, ícone da música brasileira. Em seus estudos o sociólogo pernambucano afirma que Villa-Lobos tinha realizado a façanha de realizar-se como intérprete dos componentes de uma cultura brasileira, sentindo-se não só “em primitivos e populares como em ambientes culturais com um maior grau de padrão ocidental”.

Para Freyre, o carioca Villa-Lobos era “pan-brasileiro”. Sob o impacto do convívio jovial urbano ele teria “absorvido sons” em um Rio de Janeiro, então capital do país, que “centralizava todos os sons do Brasil”. Para o sociólogo, estes sons foram percebidos pela “sensibilidade social” do compositor: “sons não abstratamente, porém sons sociais”. Construídas através deste processo, as músicas de Villa-Lobos são uma representação artística do Brasil, compostas por alguém portador de uma dupla sensibilidade – social e musical – que a partir de sua raiz carioca percebe por meio de um filtro crítico a essência da música brasileira.

No campo político temos na trajetória de Luiz Inácio Lula da Silva um exemplo ímpar de uma personalidade que soube captar não apenas os diversos sons do Brasil, mas as diversas expressões de sua alma, dos sofrimentos e aspirações de seu povo, de suas contradições estruturais resultado da trajetória histórica enquanto nação. Nascido no agreste pernambucano, migrando com a família para as palafitas paulistanas, tornado o metalúrgico do ABC a comandar a região sindicalista mais atuante no Brasil dos anos 1970, Lula foi o presidente a República (2003-2010) que, contrariamente à dominação histórica dos representantes da Casa-Grande, apontou para um sentido político, ao arregimentar as forças progressistas – populares e eruditas – em direção da conquista de um Brasil democrático, solidário e desenvolvido, além de protagonista na política internacional por meio dos diversos diálogos inter-regionais e multilaterais por ele desenvolvidos em seus governos.

Neste domingo, 29, a manipulação da mídia sob o comando da Rede Globo lavajatista voltou-se para desviar o foco da atenção da população para uma questão crucial: o julgamento iniciado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 26 da suspeição do ex-juiz Moro por sua conduta parcial e criminosa à frente da Lava-Jato, implicando a nulidade do processo contra Lula com sua imediata libertação. O Placar da primeira parte do julgamento foi de 7 x 3 a favor da suspeição do ex-juiz. O programa dominical nobre da Globo – “Fantástico” – centrou toda a carga do seu jornalismo político em direção oposta privilegiando a polêmica aberta pelo bolsonarismo em discurso na ONU contra o líder ianomami Raoni.

Desde que os relatos por parte do jornalismo investigativo de Glenn Greenwald vêm desmascarando o conluio montado pela Globo, Moro e Dallagnol na desestabilização da democracia brasileira com fins de implantar o Golpe e disso tirar proveitos pessoais, a Globo silencia e direciona sua bateria de ataque a Bolsonaro como contorcionismo jornalístico para desfocar a atenção da opinião pública e mostrar-se, falsamente, como politicamente ao lado do povo brasileiro.

Contudo, esse procedimento global de manipulação de notícias e de agendas, à medida que novos fatos trazidos pelo The Intercept Brasil revelam cada vez mais a nefasta criminalidade das ações dos agentes públicos na referida Operação Lava Jato, a força moral e política de Lula só faz crescer em estatura, sabedoria e graça. Lula é o lutador que não pertence apenas ao Brasil, é patrimônio da luta mundial. Vamos ver se no próximo dia 02 de outubro os ministros cumprirão a Justiça para com Lula, anulando toda essa patifaria montada por Moro e Dallagnol. É o que o Brasil e o Mundo aguardam.

Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .

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Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .