AS ÚLTIMAS DÉCADAS, por Alexandre Aragão de Albuquerque

​​Hoje, 05 de julho, a Comissão Especial da Reforma da Previdência na Câmara Federal aprovou o fatídico texto da reforma da previdência, um dos compromissos programáticos do Golpe de 2016, retirando direitos adquiridos e renda dos assalariados para transferir ao capital financeiro, afetando drasticamente o sistema de proteção social construído com a Constituição de 1988. Desde a época Temer, apesar da  “prometida salvadora” reforma trabalhista, o país encontra-se com elevadíssimo grau de desemprego (15 milhões), além de uma enormidade de trabalhadores e trabalhadoras ocupados em postos informais. Portanto, é balela o discurso propagandeado divulgando que a reforma da previdência tirará o Brasil da forte recessão econômica na qual se encontra nos últimos quatro anos.

No alto da madrugada, a deputada Luiza Erundina (PSOL – SP), com seus 84 anos de vida, integrante do Movimento Político pela Unidade (MPPU), num solene discurso, emocionando a todos os presentes, bradou: “Vamos manter a nossa posição de resistência às maldades que estão sendo perpetradas contra o nosso povo. Claro que estamos cansadas, mas não desanimadas. A luta só está começando. A força do povo é suficiente para lutar contra essas maldades, esse movimento que se faz de traição ao povo e de confisco das conquistas e direitos que a duras penas o povo brasileiro acumulou ao longo das últimas décadas”.

Nas últimas décadas, mais precisamente de 2003 a 2014, o Brasil vivenciou uma experiência muito particular. Apesar de o Presidente Lula nunca haver declarado que iria fazer um governo socialista, o PT conseguiu, segundo a ONU, gerar a maior política de inclusão social da história do Brasil: os mais pobres tiveram crescimento percentual de renda acima dos mais ricos. Como lembra LULA, “se alguém quer resolver os problemas do Brasil, alguém tem que utilizar a palavra “povo”, alguém tem que olhar para as pessoas e enxergar um ser humano, não como um problema, mas como uma solução. Foi por isso que no início do meu governo eu coloquei todo o ministério num avião para visitarmos os quatro lugares mais empobrecidos do Brasil, para conhecermos o mundo real dos pobres, não o mundo de Brasília”.

Apesar da difícil correlação de forças para executar as políticas de inclusão, afinal dos 513 deputados eleitos em 2002, apenas 91 eram do PT, foi necessário criar uma arquitetura política capaz de tecer coalizão de forças favorável. Como resultado desta determinação, LULA foi o presidente da república que mais colocou estudantes na Universidade; quem mais construiu universidades federais e institutos tecnológicos; quem mais realizou transferência de renda, com aumentos reais do salário mínimo ano a ano; quem mais fez assentamento dos sem-terra; quem criou 20 milhões de empregos com carteira assinada, legalizando 6 milhões de microempreendedores individuais. Tudo isso começou a incomodar a elite brasileira autoritária que não admitia ver pobre viajando de avião nem ocupando as bancas nas universidades.

O Golpe de 2016 perpetrado pela Rede Globo com setores dos Poderes Institucionais teve como alvo os acertos de política social dos governos do PT. O autoritarismo no Brasil não aceita a distribuição de renda nem inclusão social: toda vez que surge um governo que tenta fazer seriamente política social inclusiva, ele é derrubado. Como lembra Mia Couto, brilhante escritor moçambicano, “em tempo de terror, muita gente escolhe um monstro para se proteger”. A partir de 2013 os golpistas criaram um terror midiático, demonizando o Lula e o PT. Essa era a única estratégia capaz de eleger um inepto para promover monstruosidades políticas no Brasil. Mas como disse Erundina, a luta só está começando! As revelações do Intercept são apenas o começo.

Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .

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Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .