Desde quando assumi a Literatura como vocação e destino, vi-me bracejando em todo o sistema literário. O lugar do desejo foi ocupado pela escritura, e a reparação do desejo passou a exigir, igualmente, a leitura e os insigts da editoração, linguagens com as quais os fervores da minha alteridade foram se alargando.
Fundei jornais e revistas e, em 1990, dividi, com Audifax Rios, a criação da Editora Oficina e, com Nilto Maciel, a fundação da Editora Códice e da revista Literatura, sendo estes, durante uma década, os pontos de inflexão da minha trajetória nessa seara.
Em 1998, propus a Pedro Henrique Saraiva Leão a criação das Edições Poetaria. Na época, especialmente a partir de 1997, ele e o Pio Rodrigues lideravam o grupo Poetaria, que se reunia, às quintas-feiras, na Galeria Inez Fiúza, então sediada na Praia de Iracema, em frente ao Estoril.
A partir de uma marca por mim descoberta, em uma feira de antiguidades, que ainda hoje funciona, sempre aos domingos, no térreo do Museu de Arte de São Paulo, nasceu o estalo para a criação do tal selo editorial.
Adquirindo a preciosidade, eu a ofereci ao poeta Pedro Henrique Saraiva Leão, que se encontrava comigo em São Paulo, juntamente com o poeta José Teles, em estágio de vilegiatura.
O Mino Castelo Branco, um dos ícones do grupo, ao qual pertenciam também Dunga Odackan, Roberto Matoso e Alcântara Macedo, fez a estilização do selo das edições e a franqueou de forma a que as Edições Poetaria pudessem seguir o seu curso.
Ainda em 1998, assumi a coordenação da Poetaria, enquanto expressão editorial, e o primeiro volume editado foi o opúsculo de Pedro Henrique Saraiva Leão, Dicas a Um Jovem Poeta, no qual ele se dirigira ao jovem escritor Dunga Odackan, vindo, em seguida, o livro Trajetória, do Pio Rodrigues, consolidando-se, assim, essa marca editorial, cabendo a Geraldo Jesuino o esmero gráfico dos livros que se foram publicando.
Na tessitura do projeto uni-me ao Mestre Jesuino, e o resultado, é o trabalho que o Ceará já conhece: 45 títulos editados e diversos autores a salvo do esquecimento, entre eles, Joaquim de Sousa – O Byron da Canalha ou o Castro Alves Cearense, conforme a pesquisa exemplar de Sânzio de Azevedo.
Não se trata de uma editora, como muitos pensam, mas de uma marca com a qual elegemos os livros ou opúsculos que nos interessam, e cujas edições se encontram à margem do mercado.
A Poetaria desvela aquilo que deseja editar. Não aceita encomendas, mas escolhe as suas parcerias. As habilidades gráficas de Geraldo Jesuino são acostadas ao projeto como um plus, e os custos da impressão são repassados aos autores.
Uma pulga inteira para as nossas coceiras: é isto o que a Poetaria representa para os nossos desejos, que são as marcas da linhagem gráfica e a música serena das palavras.
A relação dos títulos editados mostra-nos aonde chegamos, o que pretendemos, o que aspiramos e aquilo que a Literatura requer da nossa atenção. A Literatura, as Brumas e os seus artifícios. A Literatura e a sua infinita sedução, a sedução de ir e de ficar, no espelho do texto, onde se projeta toda a existência.
Em 2018, a Poetaria chega a 20 anos de frutíferas colheitas, o que simboliza a vida exitosa da nossa parceria, sempre franciscana e aberta para a vida do Espírito, para a arte literária e o designer gráfico, para o ser da nossa trajetória.
Os conselheiros das Edições Poetaria são nossos convidados. Sânzio de Azevedo e Giselda Medeiros estão no topo da pirâmide. Batista de Lima, na sua linha de frente. Aíla Sampaio e Rodrigo Marques são os volantes com os quais pensamos nos nossos alicerces.
Aqueles que fizeram da Poetaria um sopro para a vida, continuam limando os seus ideais, eu e o Mestre Geraldo Jesuino, gestores, por afeto, das Edições Poetaria, devemos, especialmente ao Mino, ao Pio Rodrigues e ao Pedro Henrique Saraiva Leão o incentivo para continuar editando aquilo de que o Ceará tanto precisa: a comunhão do espírito literário.
E assim, plenos de harmonia, partimos para novas colheitas, semeando o trigo da bem-aventurança.