A Ucrânia foi invadida. A ONU, a OTAN e outros organismos internacionais reagiram com palavras e sanções de resultados incertos, que dificilmente poderão reverter os fatos. O Iraque, fraco, foi atacado e severamente punido por invadir o Kuwait. A Sérvia, fraca, foi duramente castigada por usar a força contra os bósnios e os cossovares. A OTAN interferiu na guerra civil da fraca Líbia. Ao tempo das intervenções citadas não havia potência capaz de opor poderio conjunto dos EUA e Europa. A Geórgia, fraca, foi invadida pela forte Rússia em 2008. Não houve reação semelhante à que foi feita contra o Iraque por ter invadido o Kuwait e depois anexou a Crimeia. Não houve reação significativa.
Nem é preciso lembrar as invasões do Tibete pela China em 1950, da Hungria pela URSS em 1956, da Tchecoslováquia em 1968 para perceber que a lei do mais forte prevalece nas relações internacionais. Tim Bouverie (1987 – vivo), na obra “Negociando com Hitler” relata situação nos anos trinta, quando o líder nazista desrespeitou tratados, militarizou a Renânia, anexou a Áustria, os Sudetos e a Tchecoslováquia, sendo apaziguado pela comunidade internacional, até que invadiu a Polônia, que não era tão fraca e deu ao mundo a esperança de que poderia resistir, lutou valentemente e provocou a reação dos aliados. Ficou a lição segundo a qual quem tem alguma força, em certas circunstâncias, pode receber apoio. Os fracos são abandonados.
Outra lição é que as democracias tendem a apaziguar os fortes agressivos, ao invés de opor resistência efetiva aos seus abusos. Também fica evidente a tendência dos agressivos fortes para continuar praticando arbitrariedades, sentindo-se cada vez mais fortes e desprezando os apaziguadores vacilantes e fracos. A lógica do poder é a expansão. Sanções podem criar dificuldades econômicas que servem de pretexto para os agressores fortes praticarem novas agressões. As guerras acontecem quando as democracias estão fracas e as ditaduras fortes. A OTAN está desunida, os países que a compõem estão internamente divididos, afogados em dívidas, cortando orçamentos militares, dominados por um pacifismo que desconfia do próprio país e confia nas ditaduras adversárias, como Bertrand Russell (1872 – 1970), que queria a dissolução das forças armadas britânicas para converter Hitler à paz (Thomas Sowell, 1930 – vivo). A Europa depositou a sua defesa unicamente nas armas nucleares e nos EUA. Mas tais armas não inspiram confiança. Não é seguro pensar que americanos, britânicos e franceses farão ataques nucleares sabendo que a resposta será arrasadora. Por isso Putin a toda hora ameaça com a guerra nuclear.
Republicas bálticas, Geórgia, Moldávia que se cuidem. Até a Suécia e a Finlândia foram ameaçadas caso se abriguem na OTAN. A rendição da Europa é uma possibilidade em face da soma do argumento militar e da dependência do gás dos russos. Ai dos fracos. No início do século XX havia consciência disso no Brasil. No mundo letrado havia quem se preocupasse com a defesa do nosso país. Em 1916 foi criada a Liga de Defesa Nacional, fundada por Olavo B. M. dos G. Bilac (1865 – 1918, autor da obra “A defesa nacional”), Pedro A. C. Lessa (1859 – 1921), sob a presidência de ninguém menos do que Ruy de O. Barbosa (1849 – 1923). Hoje não temos consciência de que o primeiro dever do príncipe é preparar a guerra (Nicolau Maquiavel, 1469 – 1527), pois os romanos já diziam, si vis pacem, parabélum. Já fomos ameaçados pelos concorrentes do agronegócio a pretexto de defender índios e a Amazônia.