Construímos juntos, tu e eu
Nossa bela torre de marfim
Pusemos em cada canto nu
Um sentimento
Em cada degrau, um alento
O tapete ao chão estendido
Na brancura se fez
Das sancas um inefável amor
A base era sólida
Corria pelos dedos nossos
O concreto da vida
No seu cume o céu cingia
Dos mal-amados vergando
As setas traiçoeiras
Do alto divisávamos, tu e eu
A vastidão e pequenez dos vales
Do findo e do prosaico
De tudo que de marfim não era
A relva, as bestas e as gentes
Víamos, assim, mais além
Além do mais… tu e eu
Quando no topo – afiada
A ponta de agulha surcando
A trama do infinito
Víamos a unidade e incompletude
Do trabalho por fazer
Seu portal, de um carvalho vigoroso
Ostentava nosso brasão brilhante
De ouro ornado no esmero dos dias
Mas então… a nuvem negra
O oculto inimigo
Era o raio que fulminava
Era a torre que caía
O portal ao chão
O carvalho em brasa
Desbotada a pintura rasa
Já não era nosso, o “nosso” brasão
Nas paredes, o branco já não há
Densa fumaça em cada fresta
Do templo o silêncio quebrado
O vulgar sujando a utopia do privado
Agora todos entram…
Riem, bebem e cospem no chão
Na parede, escrito a sangue
A contabilidade do inventário de mágoas
Escombros de marfim, estéreis
Aos pés da douta vilania
– Meu Deus!
Quanto existe, na rasa vala que há,
Entre as coisas e as palavras!
Que dor é esta que existe
Mas nome não tem?