A peleja pela radicalização da democracia

No último dia 29 de janeiro realizou-se, após três anos de jejum, uma reunião do Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores do Ceará, reivindicada pelo Movimento PT Lá e Cá, com o objetivo de debater a proposta da Tese da candidatura própria do PT ao governo do estado, visando à construção de um palanque fiel e forte ao presidente Lula, sem ambiguidades nem vacilações. Como proposta operativa, o PT Lá e Cá propõe a realização de diversos seminários nas regiões do estado, com ampla participação da militância, sob a coordenação de uma comissão instituída paritariamente pelo Diretório. Contudo, devido à intensa concentração de poder nas mãos de uma corrente, surpreendentemente a pauta acima, reivindicada no documento entregue ao presidente do Diretório, em 13 de dezembro de 2021, foi suprimida da reunião e permutada pelo lema: “Derrotar o fascismo no Ceará e no Brasil – Lula presidente, Camilo senador”.

Outro ponto requerido pelo PT Lá e Cá foi a abertura de um amplo diálogo com a militância, para a realização de um balanço das gestões do governo Camilo Santana, analisando seus aspectos positivos e negativos, cuja avaliação deve servir de base na elaboração do novo programa do próximo governo estadual do PT, visando ao aprofundamento da democracia participativa, tendo como base o modo “petista de governar”, capaz de fazer avançar um modelo de desenvolvimento econômico socialmente distributivo, que apresente não apenas “saúde fiscal” (que isoladamente representa apenas um corolário neoliberal), mas que simultaneamente seja capaz de redistribuir a riqueza produzida socialmente no Ceará, estado no qual a concentração de renda é secular, e de respeito efetivo aos direitos humanos, priorizando as minorias empobrecidas cearenses que padecem pela falta de moradia de qualidade, de segurança cidadã, de saneamento básico, entre os muitos direitos que lhes são negados.

Por um lado, em um dos pontos de relevância da resolução final da reunião do Diretório ficou confirmada “a construção de uma ampla aliança para as eleições de 2022 no estado, que reafirme a coesão da base de sustentação do atual governo Camilo Santana, do PT. Portanto, o debate em torno da candidatura própria do PT ao governo do estado em 2022 mantém-se ainda mais vivo com esta resolução. Neste sentido, deverá se intensificar o processo de ampla discussão com a militância petista cearense, com os movimentos sociais, sindicatos e organizações da sociedade civil.

Por outro lado, verificou-se uma evidente contradição na “moção de solidariedade ao companheiro Lula”, emitida pelos membros da reunião. Destaca-se que foi uma nota muito tímida diante do volume de ataques infames e irresponsáveis perpetrados pelo candidato Ferreira Gomes (PDT) à presidência contra o Presidente Lula e contra todo o Partido dos Trabalhadores. Havia inclusive uma proposta, elaborada por um conjunto de forças, que inexplicavelmente não foi apresentada, de uma Moção de Repúdio a Ciro Gomes. Em todo caso, a nota de solidariedade destaca que os seus ataques alimentam preconceitos e os instintos reacionários que dão sustentação ao ódio fascista que ameaça nossa frágil democracia”. Portanto, o documento confirma que os ataques de Ciro se equivalem às ameaças fascistas de Bolsonaro. Ambos situam-se no mesmo plano. Mas, mesmo assim, há petistas que defendem, contraditoriamente, a união com Ciro Gomes.

Por fim, com a indicação pelo Diretório do nome de Camilo Santana para pré-candidato ao Senado federal, abre-se uma brecha enorme de um possível apoio ostensivo da máquina administrativa do estado do Ceará a Ciro Gomes, uma vez que o governo do estado ficará nas mãos do PDT. A vice-governadora Izolda Cela, que assumiria o governo com a saída de Camilo, já declarou seu voto.  O mais correto politicamente para o PT cearense seria, além de lançar sua candidatura própria ao governo do estado, Santana permanecer até o fim do seu mandato, garantindo o controle da situação, conforme o Presidente Lula já sinalizou em agosto último quando de sua passagem pelo Ceará. Fato difícil de acontecer, mas em política tudo é possível.

Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .

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Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .