“É a nau perdida/Trem que chega/A nova dança/Mata verde, esperança/Em suas tranças vou voar”, diz a bela poesia de Geraldo Azevedo.
Num país em que se faz júri para julgar a vítima em vez do criminoso, cria-se o “estupro culposo” para isentar a figura do estuprador e mulheres (infelizmente muitas!) saem em defesa do machismo, falta muito pouco para se eleger Tim Maia como nosso maior filósofo. É só recordar a afirmação a ele atribuída: — “O Brasil é o único país onde prostituta tem orgasmo, cafetão tem ciúme, traficante é viciado e pobre é de direita”. Incorreção política à parte, é algo hilário o que se vê hoje sobre o país.
A propósito, por curiosidade, vasculho mensagens na internet que “analisam” as eleições americanas e deparo com coisas impagáveis de um e outro lado, isto é, de “torcedores” de Donald Trump ou Joe Biden, reflexo em grande parte da polarização que tomou conta do país nos últimos anos. E a mesma a “sensatez”, claro: “Ganhamos”, é como começa sua mensagem um entusiasta brasileiro do partido republicano, quase como a dizer que obteve informações de dentro da Casa Branca. Nada que se compare, no entanto, ao que afirma um deputado federal cearense sobre o atual presidente americano candidato à reeleição: “Trump é um defensor das liberdades e dos pobres e negros, o melhor presidente americano desde Ronald Reagan”.
Um outro, desfiando reflexões dignas de um especialista, chama a atenção para o fato de que uma vitória de Joe Biden “é um risco para o Brasil, porque fortalece o PT”. E por aí vai a enxurrada de loucuras sobre a eleição para presidente dos Estados Unidos e em que dimensão isso nos diz respeito. Tom Jobim estava com a razão: “O Brasil não é para amadores”.
E assim, sem rumo certo, vamos nós, nesta nau dos insensatos, tristes diabos à procura da sobrevivência política em meio a um mar revolto.
Haveremos de deparar, por milagre ou sem ele, com o coqueiro da ilha sob cuja sombra aguardaremos a chegada do salvador.