As velas do Mucuripe vão sair para pescar – Fátima Teles

Era uma sexta-feira e eu estava completando quarenta e cinco anos. De presente dei-me um passeio eu sai num barco do Mucuripe e navega por toda a orla .

Andei a pé apreciando a paisagem da orla de Fortaleza que para mim é a mais bonita do Nordeste. Cheguei no Mucuripe, comprei o ingresso juntamente com outro amigo. A primeira fotografia foi retirada aos pés de Iracema e sua família. As esculturas feitas pelo Pernambucano José Corbiniano Lins em homenagem ao romance Iracema, escrito pelo Fortalezense José de Alencar, representam a Literatura Cearense e a colonização portuguesa. As esculturas são Iracema, seu esposo o Português Martim Soares Moreno, o filho do casal Moacir e o cachorro de estimação, Jati, todos em cima de uma jangada. As estátuas colocadas no Mucuripe em Mil Novecentos e Sessenta e Cinco são até os dias de hoje a maior atração. Elas são o símbolo da Cidade de Fortaleza. A praia do Mucuripe foi o cenário escolhido pelo Escritor José de Alencar para o Romance Iracema. Por isso é tão importante as Esculturas da família da índia Cearense.

Para mim como interiorana ir até Fortaleza e não ir ao Mucuripe e levar de lembrança uma fotografia com as estátuas da família de Iracema era como se não tivesse ido. Depois da foto nos dirigimos até o barco eu nos conduziria ao passeio.

Saímos e começamos a nos distanciar. Eram 16:00 e o barco estava repleto de turistas. Eu sentei-me num banquinho e pus-me a imaginar a História do Mucuripe.

O Mucuripe se configura como Bairro desde Mil Novecentos e Quarenta, mas era em tempos mais remotos uma Vila pequenina de pescadores. Na contemporaneidade a especulação imobiliária é caríssima, diante o progresso da Capital. O Mucuripe atualmente é o luxo da aldeia.

Nos tempos de Vila dos pescadores foram construídas duas igrejas. Uma à margem do Riacho Macieó, à esquerda, à beira-mar, a Capela dos pescadores também conhecida como Igrejinha de São Pedro (Padroeiro dos Pescadores), e à margem do Riacho Maceíó, bem próximo às dunas, a Igrejinha de Nossa Senhora da Saúde.

Lá ainda foram construídas uma estação ferroviária para atender as demandas do porto , o segundo Cemitério Público de Fortaleza, São Vivente de Paula e o farol do Mucuripe que está sempre a olhar as velas que saem para pescar e com seus olhos de farol ainda visualiza quem nunca mais volta da pescaria, quem foi levado pelas águas de Iracema.
O Mucuripe foi também conhecido por sua tradicional feira todas às quintas-feiras.

Penso nas leituras que fiz sobre estudos que dizem que antes mesmo de Pedro Álvares Cabral, navegador Português, aportar na Bahia em Mil e Quinhentos, outro navegador espanhol chamado Vicent Pinzón desembarcou na praia do Mucuripe dando-lhe o nome de cabo de Santa Maria de La Consolación.

Eu e o amigo ao gole de uma cerveja sorrimos e questionamos: Então, será que o Brasil começa sua História em terras Cearenses e não Baianas?

As jangadas escoradas no porto vão ficando cada vez mais distantes e a cor azul do mar vai nos impressionando no passeio. O vento bate no rosto e a brisa nos deixa leves. O motor se esforça para nos levar até onde está programado.
São 17:30 e o sol começa a ir embora. Fortaleza tem um lindo Pôr do sol. O barco para para que nós vejamos um navio naufragado intitulado de Mara Hope. Iniciamos a volta e pegamos ondas altas. O barco sofre um problema e o motor quebra. Ficamos em pânico, mas o mestre da embarcação ligeiramente pega os remos e consegue pedir a ajuda de outros barcos. Voltamos e eu continuei a pensar nos contrastes do Bairro do Mucuripe. De um lado o luxo de edifícios suntuosos e do outro lado as casinhas precárias situadas em área de risco.

Saímos do barco já a noitinha e fomos até o mercado dos peixes que é o mais antigo e também o maior da capital. Pedimos meio kg de Camarão para degustarmos e fomos ver a orla iluminada de Fortaleza a partir do Mucuripe que é conhecida como um cartão postal diante o vislumbre da paisagem noturna da Cidade.

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