WEIMAR FOI UMA ILUSÃO QUE ILUMINOU AS NOSSAS FANTASIAS

Só para refrescar a memoria dos esquecidos.

A esquerda brasileira é espertamente seletiva no que lembra, no que quer esquecer e no que pretende ignorar.

A turma do “Centrão”, por sua vez, não dá por menos e ainda se intitula democratas,sabe-se o que entendem por esse substantivo anfíbio.

Houve tempo quando se enxergavam como “liberais” e a militância da esquerda se tinha por “comunista”.

As voltas que a semântica deu, nesse entretempo ideológico, obrigou-os, entretanto, a abandonar a matrícula de origem e assumir uma nova imagem, mais moderna.

Têm-se, agora, por “progressistas” ou “socialistas”, evitam as citações bombásticas de Marx e os anacronismos teóricos de Lenin, e se recolhem à sombra da Escola de Frankfurt e do Foro de São Paulo.

Até falam inglês, já que a França perdeu a primazia revolucionária no Ocidente, desde que Napoleão pôs ordem na casa. Há quem faça coisa melhor dos que os “allons-enfants”, na Ásia, e exporte para a América Latina.

Pois bem, nos idos de 64, a censura, a denúncia e uma forma de persuasão a que alguns radicais chamam malevolamente de tortura causaram imensos incômodos entre os neófitos em ações subversivas.

Desses eventos, todos guardam lembrança viva. Mas esqueceram dos processos de limpeza ideológica empregados e em Cuba e na União Soviética de Stálin.

Fui chefe de departamento, diretor de Faculfade e reitor, malgré moi, nesses anos “gris”. Valiamo-nos da ”exaustão”, revolucionária, já perceptível, então, no olhar desconsolado das forças de terra-mar e ar e da política, para criarmos espaços, mínimos que fossem, de liberdade para as nossas pajelancas político-doutrinárias. Hoje, seriam creditadas como terrorismo retorico expresso.

Disso todos se lembram. Mas não encontram semelhanças daqueles tempos com as engrenagens que se vão montando, dotadas de uma poderosa artilharia jurídica e hermenêutica que abalariam a segurança dos teóricos constitucionalistas de Weimar…

Tudo passa. Nada importa neste planeta varado pela pós-modernidade. Um download e um reset valem mais, na guerra moderna, do que seis mísseis no ar ou do que uma litania de Marx recitada par a militância…

Paulo Elpídio de Menezes Neto

Cientista político, exerceu o magistério na Universidade Federal do Ceará e participou da fundação da Faculdade de Ciências Sociais e Filosofia, em 1968, sendo o seu primeiro diretor. Foi pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação e reitor da UFC, no período de 1979/83. Exerceu os cargos de secretário da Educação Superior do Ministério da Educação, secretário da Educação do Estado do Ceará, secretário Nacional de Educação Básica e diretor do FNDE, do Ministério da Educação. Foi, por duas vezes, professor visitante da Universidade de Colônia, na Alemanha. É membro da Academia Brasileira de Educação. Tem vários livros publicados.