Jamais pensei que viveria uma época em que vejo tantas barbáries. As pessoas externam a violência de uma maneira tão comum e rotineira que algumas coisas já não me chocam. E tenho medo de que como eu, muitas outras se sintam assim e o fato de não se sentirem chocadas façam atos violentos se tornarem corriqueiros e parte “normal” de uma sociedade “civilizada”.Se isso ainda não estiver acontecendo.
Hoje cedo um amigo me enviou o relato doído e chocante de uma mulher, sua amiga, postado nas redes sociais. O relato sincero, triste e revoltante de um estupro sofrido. Ontem, praticamente no meio da rua.Ali em um dos bairros mais vibe boa da vida, o Benfica.Minha primeira reação foi de instantânea náusea.Vontade vomitar mesmo.Li mais de uma vez e por mais que eu tentasse me colocar no lugar dessa mulher,eu jamais conseguiria.Acredito que ter o corpo violado é uma das formas mais absurdas e brutais da afirmação da força masculina numa sociedade doente e apática, que caminha para a alienação absoluta, sem antes no entanto destruir com os próprios dentes feito animais raivosos o que resta de dignidade da mães que lhes pariram.
A moça do relato que citei acima não entrou como dado na pesquisa realizada pela ONU Mulheres, UFC e Instituto Maria da Penha, divulgada na última quinta, 23.A pesquisa mostra Fortaleza como a terceira capital do Nordeste onde as mulheres são mais violentadas física, emocional e sexualmente.A capital alencarina só está atrás de Salvador e Natal que ficaram respectivamente em primeiro e segundo lugar neste ranking vergonhoso.
Esse panorama apontado reflete a impunidade dos agressores e a inércia do Estado. Mas também está aí e a olhos vistos que não se muda comportamento e pensamento de pessoas de uma hora pra outra. Existem ONGs, figuras públicas que realmente estão trabalhando e mostrando “serviço” de maneira autêntica, porque realmente conhecem a causa e se identificam com a luta em favor do fim da cultura do estupro e da violência contra a mulher. Mas e você? Já pensou como pode fazer sua parte?Como poderá ajudar a fortalecer a luta em favor da igualdade e para o fim do machismo?
Continuo acreditando que é verdade o que os meus pais sempre me falaram, “costume de casa vai à praça”, apenas adapto essa frase de uma maneira a dizer que dentro de casa, com a orientação dos que devem proteger e amar é que podemos formar a consciência de um ser humano solidário e que sabe o valor do respeito ao seu semelhante, independente do sexo.
O Nordeste é uma região machista, misógina, foi assim na minha geração, na geração antes de mim… e infelizmente ainda vemos a geração atual perpetuando comportamentos que dão espaço para que a cultura perversa do estupro se mantenha, mas o valor de uma educação de base igualitária é inestimável e nunca ninguém disse que era impossível.Cuidemos de remediar o que podemos e plantar o que queremos colher.Não a cultura do estupro, essa frase nunca foi tão atual e forte como nos dias de hoje.
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