No decorrer dos tempos os homens inventaram e construíram, mediante interesses e engenharias bizarras:
– cercas que prendem;
– muros que dividem;
– diques que represam;
– grades que confinam;
– instituições que dominam;
– leis que encarceram;
– armas que matam;
– moedas que compram.
A solidariedade acabou. O Planeta virou um circo.
Assiste-se a palhaçadas e a malabarismos por todos os lados. Mas poucos estão rindo nos camarotes; alguns nas arquibancadas com sorrisos pálidos; muitos apenas matam o tempo, aturdidos com o espectro dos dilemas da vida que os amedronta e os angustia.
O palhaço, que tenta puxar sorrisos, cai de fome no picadeiro e finge ter encerrado a sua apresentação. As cortinas se fecham e todos continuam suas rotinas com “normalidade”.
MUNDO CÃO! Digito essa frase cabisbaixo e com lágrimas nos olhos.
Por que tudo tem que ser assim? Pensei!
Fui à janela e vi pessoas batendo panelas e proferindo frases de protesto contra o governo.
Imaginei: o que passaria pelas cabeças de Rousseau, Hegel, Engels e Schopenhauer se estivessem aqui? Deixei Marx de fora. Ele é minha inspiração quando estou nos movimentos de rua.
Ironizei a frase de Stuart Mill: “SOBRE SEU PRÓPRIO CORPO E MENTE, O INDIVÍDUO É SOBERANO”.
Olhei no jornal os protocolos de combate ao covid 19: quarentena, isolamento social, higiene máxima … .
Larguei o jornal e repeti automaticamente enquanto rabiscava a figura do presidente de cabeça pra baixo: quarentena, isolamento social, higiene máxima. Piada de mau gosto para os moradores de rua, os favelados e demais segregados … frutos de um modelo político-econômico anacrônico e perverso.
O caos está instalado.
Em 1651, o filósofo inglês Thomas Hobbes já falava: “O homem é o lobo do homem”. Consequências? Sim, e desastrosas. Hoje, qualquer indivíduo, pobre ou rico, pode morrer em condições miseráveis. O covid 19 veio com moral para fazer magnatas, coletores de impostos e juízes refletirem a respeito da desumanidade que há entre os humanos. A cura será rápida se houver quebra do modelo imperialista e a ética e a solidariedade brotarem.
O coronavírus não veio para matar. Veio, sim, com autoridade para rasgar a lona do circo, levantar o palhaço caído de fome e mandar que todos sejam atores.
A conversa oficial de doenças negligenciadas terminou. Existem povos negligenciados.
Agora todos podem ver que o capitalismo está moribundo, usando a máscara suja do neo-liberalismo escravizante.
O coronavírus não veio para matar. Sua missão é fazer com que todos se perfilem e olhem para dentro de si … com as lentes do coração.