Vamos debater Fortaleza, custe o que custar

O Custo da Cidade é o título do artigo oportuno do experiente jornalista Arnaldo Santos, abrindo este ano eleitoral para falar de coisa sensível, o dinheiro de Fortaleza, o orçamento de 2024, que a imprensa noticiou dizendo duas coisas: o total é 13 bilhões de reais, reservado 1 bilhão para investimento, números redondos. Arnaldo faz perguntas que a imprensa e o parlamento já deveriam ter feito e respondido. E espera que os candidatos respondam.

Querendo ir além dos dois números acima, lancei no Google: orçamento Fortaleza 2024. Num click apareceram mais de 20 janelas. Opa! Surpresa boa durou pouco. 18 das janelas eram sobre o orçamento deste ano para o time de futebol, o Fortaleza, o tricolor de aço.

As duas únicas que se referiam à cidade eram “notinhas” que informavam os dois números acima. Opa! Que pena! O clube de futebol parece mais transparente que a Prefeitura.

Insisti e achei algo como “portal da transparência” e entrei. Lá estavam orçamentos de vários anos anteriores e o de 2024.

Esperei algo didático e amigável, uma linguagem acessível, coisa objetiva, os números essenciais ordenados para bem orientar qualquer fortalezense. Afinal era um portal da transparência.

Bem, o que vi foi o orçamento de 2024 para Fortaleza em linguagem escrita de diário oficial, em dois volumes, e, creiam, em 1.227 páginas. Não informam, desinformam. Mais confundem do que esclarecem. Uma enxurrada de números e rubricas em quadros ilegíveis. Vão dizer que cumprem a lei. Não, usam a lei para cobrir a desfaçatez.

Sou habituado a lidar com discursos de transparência e práticas de opacidade com dinheiro público. Isso vem de longe. E os governantes fazem cara de paisagem e seguem falando de prestação de contas e escondendo o jogo.

De fato, prefeitos poderiam dar bom exemplo. Lembro do prefeito de Icapuí, 1986-1990, de memória cito seu nome, José Airton Cirilo, usando muros da cidade para mostrar como gastou o que arrecadou. Deve haver outros assim. Lembro o deputado estadual Eudoro Santana esmiuçando o orçamento do estado para jornalistas. Vereadores Durval Ferraz e Heitor Ferrer cobrando os prefeitos. Eram os anos 1980/1990. Lá se vão mais de três décadas e os governantes não se constrangem de manusear bilhões de reais e não prestar contas da maneira que deveriam.

E eles não parecem constrangidos. Essa eleição de 2024 vai ter que discutir a cidade a sério. Custe o que custar.

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.