Uma carta para Luana

24 de julho de 2020

 

Olá minha cara amiga! Tenho tantas coisas guardadas na minha cabeça para te dizer… no caso para te relembrar, mas sei que não chegarei nem perto de cumprir tal missão, tão cheia de aventuras tem sido tua vida! 

Tenho vivido tantos momentos novos e desafiadores que as vezes me falta fôlego para sentar e pensar nos acontecimentos.

Eu sei que daqui há alguns anos o “corre, corre” da vida e os problemas comuns do cotidiano serão outros. Mas por hora, eu prometi a mim mesma que não ocuparia minha mente consumindo um futuro que não existe; eu tenho muito fortemente esse hábito de ficar matutando por coisas que são apenas uma possibilidade. 

Quero te dizer que tenho vivido coisas muito boas e bonitas nessa trajetória de uma mulher que acabou de se tornar mãe. 

A pandemia da Covid 19 gerou uma mudança enorme da nossa rotina. Aaron estava com seis meses quando meu trabalho parou. Desde então a vida mudou muito. Não digo completamente. Algumas coisas eu já evitava fazer por conta da alergia do Aaron. Nós evitávamos passar muito tempo fora de casa; tínhamos o cuidado para que Aaron não corresse risco de contaminação de leite ou traços através da pele no contato com outras pessoas; entre outras medidas que já faziam com que nós meio que estivéssemos em quarentena antes da quarentena do coronavírus começar. 

Mas nossa rotina deu uma reviravolta – de uma forma que qualquer criança consideraria benéfica – papai que quase nunca estava em casa, passou a estar conosco todos os dias. Mamãe que precisava viajar todas as semanas e deixar o bebê em casa não foi mais. 

No momento mais complicado para conciliar a vida de mãe com a vida profissional, a pandemia chegou. Eu estava vivendo uma onda frenética, meu maior problema todos os dias era a segurança alimentar do Aaron. Ele precisava do meu leite nos dias que eu ficava fora de casa, mas o que eu retirava nunca era suficiente. Era agoniante pensar que meu filho poderia ficar sem comer nos dias que eu viajava para trabalhar.

Hoje Aaron está com onze meses, quase completando um ano. E meu sentimento é de gratidão por poder ter estado ao seu lado nos momentos difíceis da alergia. Fizemos a introdução alimentar e depois paramos tudo. Aaron reagia com dor a praticamente todos os alimentos que tentávamos incluir na sua alimentação. Voltamos novamente depois de um mês e uma semana, dessa vez com a orientação certa. Recomeçamos devagarinho. Respeitando todas as necessidades dele. Sem uma cobrança para que ele passasse a comer vários alimentos de uma vez por medo de não ter leite suficiente.

Hoje Aaron já come bem, três refeições por dia! Incluímos na sua dieta legumes e aos pouquinhos estamos introduzindo as frutas. Os outros grupos alimentares virão em seguida sempre com muita esperança e fé.

Ver meu filho crescer, aprendendo coisas novas a cada dia e conhecendo cada vez mais novos alimentos tem sido motivo de muita alegria para mim. Sou muito grata e repito isso diariamente. 

Com todos os desafios vivenciados, acho que em mim nenhum sentimento supera a felicidade que eu sinto quando penso que meu filho vai completar um ano de vida. Eu me sinto forte e grandiosa todas as vezes que penso nisso. Passa um filme na minha cabeça de como foi esse primeiro ano e ao final eu suspiro, um suspiro de “- eu venci”! 

É engraçado pensar assim, mas eu não vejo isso como, “- já vivi todas as dificuldades que a maternidade pode oferecer”. De forma alguma. Sei que cada fase da vida traz junto seus desafios. Apesar de ter certeza também que estou saindo de uma etapa de dependência extrema, meu filho caminha em direção a conquista da sua autonomia todos os dias e meu papel é ajudá-lo nessa jornada.  

É muito lindo olhar para esses meses que se passaram e pensar que eles foram únicos na formação desse novo ser e na minha própria construção como mãe. E é esse misto de conquistas e desafios que eu gostaria de lembrar ao olhar para esse primeiro ano que está se concluindo nas nossas vidas. Gostaria de me lembrar, que não existe momento perfeito para fazermos algo, o melhor dia é hoje. Sei que cada escolha traz junto uma série de consequências, abraçá-las, ambas, é o que podemos fazer de melhor. 

 

Com carinho, Luana.    

  

Luana Monteiro

Cientista social, mestre em Sociologia (UECE) e pesquisadora.

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Luana Monteiro

Cientista social, mestre em Sociologia (UECE) e pesquisadora.