Dentro de poucas horas teremos um novo presidente eleito. Governará, caso tudo ocorra dentro da normalidade democrática (o que tenho razões para duvidar) pelos próximos quatro anos. Assim sendo, apresento abaixo o que me pareceu ter sido a disputa pela presidência em 2018, sobretudo no segundo turno.
Antes de tudo, uma disputa tardia. Além de ter sido a 1ª campanha pós-reforma política, que encurtou sua temporalidade, o país ainda ficou à espreita do que seria resolvido em relação à insistente candidatura de Lula (PT), o que se resolveu apenas em setembro. Logo depois, tivemos de ver o candidato favorito nas pesquisas ser retirado da disputa de rua por conta do atentado sofrido.
Assim, Jair Bolsonaro (PSL) sentiu-se à vontade para continuar a fazer campanha somente no espaço por onde iniciou-a, sabe-se lá quando: no facebook, em sua conta, onde arregimenta 8 milhões de seguidores. De lá, e somente de lá, falou com a claque que o admira sob a alcunha do “mito”, dando provas de que entende, e pretende, governar, caso eleito, apenas para seu séquito. E aqui adentramos, penso eu, no que pode ter sido a grande marca do pleito de 2018, graças ao capitão-reformado: o esvaziamento do espaço público.
Bolsonaro recusou-se a ir aos tradicionais debates televisivos, espaços consagrados pela democracia liberal, no mundo inteiro, para oportunizar a eleitores, sobretudo os indecisos, um debate em torno das ideias e propostas dos candidatos. Sobretudo no segundo turno, os debates mostram-se como oportunidades de confrontar propostas e, voilà, inconsistências e biografias. Negando-se a debater “com um poste”, Bolsonaro ofereceu resposta pronta e acabada aos seus admiradores, mas deu um gol contra que demonstra seu claro desapreço pelas instituições da democracia moderna, dentre elas a opinião pública. “Poste” ou não, Fernando Haddad (PT) foi o candidato que parte do eleitorado brasileiro colocou no segundo turno e era, pois, com ele que Bolsonaro deveria ter debatido. Mas, seria esperar demais de um político que não gosta de ser contrariado.
Além disso, negou-se a conceder entrevistas em canais ou programas que fossem conduzidos por jornalistas que não eram de seu apreço, mostrando o quanto admira, entre aspas, o contraditório.
Assim, Haddad teve de gastar parte considerável de seu tempo desconstruindo fake news desabonadoras divulgadas durante a campanha, enquanto Bolsonaro pouco ou nada falou de suas propostas (como a do ensino básico à distância, ao qual limitou-se a dizer que “estava em estudo”). O que vimos, da parte do capitão, foi ele apresentar-se como “anti-PT”, limitando-se a apontar os erros, condenações, críticas a políticas públicas do partido de seu oponente, sem expressar-se ao certo acerca do que é o Brasil que pensa, que resume no “não”: à ideologia de gênero, ao aborto, à descriminalização das drogas, aos direitos humanos etc. Sabemos o que ele quer “destruir”, mas não o que propõe “construir”.
O esvaziamento político desse segundo turno também operou-se por parte dos postulantes do primeiro turno: com exceção de Boulos (PSOL), todos os outros trataram de se manter “neutros” ou “críticos”. Marina Silva (REDE) muito tardiamente pronunciou-se; Eymael (DC), também; Meireles, Alckmin, Amoedo, Álvaro Dias e os demais, idem. Mas, sem sombra de dúvidas, vexatório e dispensável foi o feito de Ciro Gomes (PDT), à la bye-bye Brazil!
Domingo, pois, nos aguarda um pleito a ser decidido pelos sentimentos, seja de ódio ou oposição ao petismo, seja de medo do autoritarismo ou de apreço à democracia e à sua continuidade.