TEXTÍCULOS INFRINGENTES – Parte 5

As fábulas da Criação: a terra é plana, Adão e Eva é de direita e o macaco de Darwin, de esquerda

O “criacionismo” ganha força no Brasil. Novos “olhares” são lançados sobre a história do homem e da mulher sobre a terra. O “finis terrae” é prova de que o planeta é uma planície arquitetada pelo Criador, inspirado nas linhas da baushaus, não há ladeira nos mares e oceanos, logo a terra não é redonda. O homem é nascido de uma mulher, cuidadosamente montada a partir de um costela de Adão, obra do Criador que deixou Miquellangelo tomado de inveja. Adão foi esculpido no barro, argila do Éden, e o Moisés de Miquellangelo, de mármore de Carrara… O macaco de Darwin foi uma obra de ficção mal acabada. Até então, essas intrincadas questões eram de natureza científica ou religiosa. Com o tempo, a transformação do homo sapiens em homo ideologicus fez do macaco e de Darwin ativistas de esquerda e de Eva e Adão, militantes de direita.

Há 3 anos 

Duas afirmações temerárias: que o Brasil está preparado para enfrentar o coronavírus e que não há motivo para pânico. Ainda.

Esquerda ou direita?

Fascista ou nazista é todo aquele que não pensa como nós – e diz porquê.

Ideologias

Povo carente de educação é presa fácil de qualquer ideologia: todas prometem a salvação por caminhos improváveis.

Cortes e Cortes

Usarão as Cortes Supremas, por onde quer que existam, os mesmos métodos e critérios e a mesma suprema indiferença em relação ao bom senso e ao interesse público – presas a velhos tropos jurídicos, doutrinas e concepções? Ou as novidades ainda por desembalar?

A pós-modernidade brasileira

Decididamente,  nós, brasileiros, somos modernos, mais para pós-modernos.Sem educação, vivendo na pobreza, sem família estruturada, desfeita pelos desafios da sobrevivência e da miséria, ralos princípios morais e formação religiosa de ocasião, na crença de divindades múltiplas, paternalistas e regeneradoras – qual a imagem que fazemos do mundo e dos valores de uma sociedade civilizada?

A lanterna na escuridão

Um país mergulhado na escuridão da ignorância. Deixamos governos autodenominados “democráticos”, populistas no desvio das conveniências, entorpecido por ideologias que minavam as suas decisões e estratégias de governo – para mergulharmos no “salvacionismo” anunciado pela “revelação” de outro governo, sem prumo político e, aparentemente, sem rumo.

Utopias para lá de utópicas

As utopias por parecerem assim tão boas e portadoras de grandes transformações entrevistas pela criatividade, transformaram-se em um grito de fé. Usá-las para redimir as criaturas e as suas dores e desesperanças sem que  elas conheçam as intenções do gesto obsequioso é armar uma fake news histórica para legitimação de rancores e anseios estimulados. As ideologias, como a fé, são promessas de uma salvação impossível, ópio para convencer os desvalidos de esperanças.

Discriminação “cabeça-chata”

Universitários cearenses dão um “susto de brincadeira” em família judia, desrespeitando a sua origem étnica e religiosa. Cearense, fruto de uma saudável miscigenação, não pode dar-se ao luxo de discriminação racial. Por aqui, como dizia Gilberto Freyre, nossos ancestrais estão na senzala ou nas sacristias…

Lavanderia

O Brasil tornou-se uma imensa lavanderia, parafraseando Chico…

Mau jornalismo

Greenwald significa “mau jornalismo”, em inglês: “Nixon was found of greenwalding his opponents”.

Jornalismo

O jornalismo não e crime: é expressão da liberdade e da democracia. Depende do uso que dele se faz…

A dialética, obra divina

Um amigo reflexivo, como os tenho – e bastantes, diz estar convencido de que a dialética é um sopro divino, é criação bem sucedida do Criador. Céu e Inferno – e um Poder Moderador, o Purgatório.

A reabilitação de Stalin

Começou o passa-pano para a reabilitação de Stalin como estadista e líder dos povos. Não será de admirar quando começarem a escovar o bigodinho de Hitler…

Evolução de ideias

A universidade brasileira, nas últimas três décadas abandonou a condição de “cidade da inteligência” para as utopias de uma “aldeia ideológica”.

Luta de ideias

Como serão tratadas as confissões fundamentalistas e as ideologia radicais que se chocam com a essência dos princípios democráticos? Há quem, teimosamente, defenda o emprego radical de instrumentos mais revolucionários — como a educação, por exemplo.

A universidade ensina ou aprende?

À universidade importa entender, produzir e construir conhecimento. O resto fica para as instituições  e os partidos em uma democracia estável e organizada.

Realismo político

O “realismo político” dos partidos políticos, no Brasil, está na chave do erário. Não há vida útil política no Brasil sem o sopro do Estado e de suas “burras” republicanas.

Os culturocratas, a nova classe

E os culturocratas, hein? Serão tudo ou não serão nada…

A invenção de Bolsonaro e de Lula

Quem inventou Bolsonaro? Bolsonaro é a criação de uma convergência de fatores, muito mais divergentes do que geometricamente convergentes. Esquerda e direita alimentam-se de seus contraditórios históricos salvacionistas. Ele é a síntese dos contrários, é a força resultante de movimentos que se opõem e se anulam. É fruto da pobreza, da ignorância e da cupidez das elites e de utopias mal enroladas e das revelações de um populismo que, entre nós, é a versão corrente de anunciadas formas de esquerda. Lula fala platitudes, obviedades, com visível descuido. Assim como o povo gosta. “ — Para quem dizia “menas verdade”, usar a expressão “em passant” já é algum progresso”, confessa o citoyen Lula da Silva…. Bien sur, monsieur.

A universidade no Brasil

A universidade pública é autônoma, didática e administrativamente, mas não é soberana dentro do Estado. Ela responde pela missão que lhe é própria, que vem de suas origens remotas, enquadra-se nos limites da lei e da organização política do país. É pública pela destinação do seu trabalho e pelos meios que a sustentam. Mas não é estatal, desde que os recursos que a mantêm têm origem na contribuição dos cidadãos. O Estado não gera os haveres que o mantêm. Assim, a universidade. Assim funciona a democracia e o governo por ela legitimado diz-se democrático.

Explicadores profissionais

Há tanta insensatez espalhada pelo mundo (ainda que não seja de modo equitativo) que a mídia que tudo sabre, sobre tudo opina e julga e  preconiza o futuro e o passado, que poderia dispensar os seus comentaristas. Não há mais o quê explicar.

A mídia e o governo

A mídia não precisa de repórteres: o governo produz os fatos e as notícias.

As derradeiras instâncias

E que tal falarmos sobre a prisão em 2ª. Instância antes de derrubarmos o capitalismo?

Democratas de ocasião

Difícil mesmo é tolerar a opinião dos outros.

Goebbels e a Cultura

Fantástico! Precisou um secretário desmiolado citar Goebbels para todo mundo sair teorizando sobre Cultura … e liberdade.

Os avatares da Cultura

“Quando ouço falar em Cultura, puxo o meu revólver”, de uma peça teatral de Hanns Jost, 1933. “Quando ouço falar em revólver”, saco minha cultura, Luis Pawells. “Quando ouço falar em cultura, saco o meu talão de cheques”, de uma magnata-mecenas americano.

Funk

“Funk também é cultura”, de um pensador de programas de auditório.

Fé de menos ou fé demais

O problema não é ter medo do fim. É pressentir as dores físicas e morais do fim. A fé, infelizmente, nem sempre tem efeitos analgésicos opioides…

Ideologias

As ideologias radicais veem na liberdade de expressão ameaça perigosa às suas crenças e ao espírito de construção de “um novo homem”…

Fascistas são os outros

Ditaduras e as leis

Ditadura que se preza, de direita ou de esquerda, não sobrevive sem leis, normas e uma Constituição. É da sua índole…

As ideologias que mais suspeitam da liberdade são as que mais defendem a democracia – e a liberdade.

Há uma incompatibilidade de origem entre as ideologias salvacionistas (esquerda/direita) e a liberdade de expressão.

Dinheiro para a Cultura

Há algumas formas, dentre outras, para manietar e controlar a cultura: censurando ou financiando, detratando ou elogiando. Os prêmios, os sodalícios e a vida literária constroem os escritores, só não lhe trazem leitores. Leitor está em falta no mercado.” Tem, mas está faltando…”

Arte nacionalista?

Onde o nacionalismo sequestrou a arte, roubou, antes, a liberdade.

Discípulos sem mestres

No Brasil, ninguém é discípulo de ninguém. Todos agem por conta própria.

Mais Maias

Em algum tempo perdido no passado, juristas inspiravam ideias e propósitos de governo. Hoje, Pachecos e Liras controlam as gavetas, a pauta e a República e estão prestes a fundar um novo sistema político.

Rio de Janeiro

RJ: Um juiz de Deus e um juiz de Vara. Já Minas, tem um Juiz de Fora. Salve-se quem puder.

Proust

Proust reconhecia a um primeiro olhar entre intelectuais e homens de sociedade, os “inúteis” e os “inúteis indispensáveis”. Madame de Thèbes interpretava para Proust a linguagem hermética do non-sense das conversas do restaurante do Ritz.

Vida difícil

Está difícil viver com certa dignidade entre tanta imbecilidade. No Brasil, o “amor próprio” fugiu antes de ser “ferido”…

Direita/esquerda

A diferença essencial entre direita e esquerda não está na terapia proposta. Mas na sua posologia. Não é uma questão de ideologia, mas de simples topografia ética…

Os extremos se tocam

Os extremos ideológicos não vivem um sem o outro. Como nenhum deles tem peso específico, só existem no contrapeso – um do outro.

Sartori

Giovanni Sartori, indagado por um aluno se era de direita ou de esquerda: “— Há muito tempo procuro saber”…

Liquidação

O funk, o axé e a música sertaneja liquidaram com a música popular brasileira. Mas a Lei Rouanet enriqueceu os solfegistas de uma nova era.

Erros

Esmero-me na escolha do próximos erros que cometerei. Por uma questão de criatividade – uma certa vaidade, de fundo – não quero repeti-los…

Essa capacidade de aceitar o novo é que nos permite não repetir os mesmos erros: cometemos outros mais sofisticados.

Valéry

“La liberté est un état d’esprit”. Que o digam os gulags de Stálin e a Papuda de Brasilia…

O Porschat e Maomé

Faltou gás e coragem para a turminha da Porta dos Fundos fazer gracinha com o profeta Maomé…

Com quantas universidades se faz uma Universidade de Harvard?

Renúncia parlamentar

E se o Congresso, num assomo patriótico, renunciasse coletivamente?

Os dois poderes

O STF legisla, julga e administra. O Congresso nomeia e gasta. A amputação de Montesquieu.

Parlamentarismo/presidencialismo

Uma República que mal se sustenta com um presidencialismo de ocasião, vai mudar com um  semi-presidencialismo ?

Senado

Que força sobrenatural domina a presidência do Senado? Por que os seus presidentes assemelham-se tanto?

A mediocridade no Poder

Por que os medíocres fazem carreira nos governos e lá ficam por tanto tempo. E se reproduzem com tamanha rapidez ?

O juridiquês em debate

Os tropeços teóricos que acodem a alta judicatura e a baixa também, impõem reforma urgente do ensino jurídico. Suspeita Beneplácito Astuto, o jurista que fala javanês,  que de direito os bacharéis podem até saber um pouco, o que eles não sabem ainda é que não falam português…

Da justiça dos homens e de Deus

No princípio, fez-se o verbo. Depois, os substantivos, seguidos dos adjetivos e, por fim, os advérbios. No oitavo dia, o Criador descansou – e criou o transitado em julgado em última instância. Após, naturalmente, alguns embargos de declaração.

Desvio de dinheiro público

A ação por desvio de dinheiro público prescreverá em 5 anos. É o que se poderia chamar de incentivo ao empreendedorismo público-privado. Melhor do que empréstimo a fundo perdido do BNDES…

Como criar um partido político

Para criar um partido político, no Brasil, não precisa de povo. Basta meia dúzia de cartolas. O Fundo partidário faz o resto.

O sonho de Montesquieu

Montesquieu acordou e recriminou-se: “—Por que não me ocorreu criar um Quarto Poder?

Morales imorales

Morales, o Evo, bem entendido, de vasta cabeleira preta com asa de graúna, declara que voltará para “pacificar e redemocratizar” a Bolívia. Esse lado irônico de Morales não era conhecido.

Instâncias e Varas

Com quantas instâncias se cumpre justiça no Brasil?

Paulo Elpídio de Menezes Neto

Cientista político, exerceu o magistério na Universidade Federal do Ceará e participou da fundação da Faculdade de Ciências Sociais e Filosofia, em 1968, sendo o seu primeiro diretor. Foi pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação e reitor da UFC, no período de 1979/83. Exerceu os cargos de secretário da Educação Superior do Ministério da Educação, secretário da Educação do Estado do Ceará, secretário Nacional de Educação Básica e diretor do FNDE, do Ministério da Educação. Foi, por duas vezes, professor visitante da Universidade de Colônia, na Alemanha. É membro da Academia Brasileira de Educação. Tem vários livros publicados.