Separados na política, empresários e trabalhadores afogam-se na mesma crise econômica – II, por Osvaldo Euclides

Nem empresários nem trabalhadores deste imenso país são bons analistas políticos e dedicados estudantes de economia. Para falar a verdade, estatísticas costumam atribuir a mais de dois terços dos brasileiros o hábito de informar-se apenas pela televisão, e entre estes mais da metade através de um único canal de televisão. Evidentemente, com este nível de informação, baixo em quantidade, sofrível em diversidade, nulo em profundidade e fraco em qualidade, é impossível desenvolver um mínimo senso crítico para assuntos políticos e econômicos mais complexos, por si mesmo difíceis até para os escolados das duas áreas.

Isso explica em grande parte porque muitos não percebem a seriedade e a profundidade do que está acontecendo na política e na economia. O hábito da leitura, a prática do debate e a abertura para a troca de ideias não são sequer razoavelmente aceitos e exercitados, parece mais natural o isolamento de pequenos grupos e a imposição das ideias pela repetição e pelo discurso de que não há outra saída, quando há, sim, muitas outras saídas.

A crise econômica e política que se construiu nos últimos três anos é uma boa mostra do que acabamos de dizer. Os brasileiros, em sua maioria, sejam empresários ou trabalhadores, têm apenas uma vaga noção do que aconteceu de fato e do que tende a acontecer nos próximos anos. Cada pequeno, médio ou grande grupo tem suas preferências e simpatias e bebe a informação em suas fontes de confiança, e nelas passa a acreditar com convicção. E assim evita o debate, assim evita o frescor de novos pontos de vista, e assim deixa de beber em fontes alternativas…a gente fica “andando de lado e olhando para o chão”.

Empresários e trabalhadores estão presos na mesma malha da recessão e do desemprego. Este só se resolverá quando se resolver aquela. É claro que ninguém espera que o governo tenha a capacidade de investir e reverter a recessão. É óbvio que o governo não empreende para criar empregos na dimensão do que o momento requer.

Mas, quem, senão o governo, pode mexer os pauzinhos e dançar a dança da chuva?

No caminho para chegar onde chegamos, atropelamos a Petrobrás e todo o setor petroquímico, destruímos as gigantescas empresas de engenharia, asfixiamos a indústria naval, que, por uma escolha política, os governos usavam para estimular investimentos privados nacionais ou não. O pré-sal foi uma escolha política, a política de exigir que se comprasse da indústria brasileira foi outra escolha política, botar o BNDES para financiar os setores mais dinâmicos foi outro caminho político, usar fundos do FGTS e outros para empurrar a construção civil também…Foi assim que durante algum tempo, a economia local escapou, pelo menos parcialmente, pelo menos temporariamente, do tsunami financeiro mundial de 2008.

E agora, quais são as ações do Governo para evitar que se continue afundando, o que o governo fez ou faz para estimular seja quem for?

A PEC 241/55 não estimula nada nem ninguém. Ela precisa de muitos anos para produzir pequenos efeitos fiscais. A reforma da previdência também não estimula nada nem ninguém a investir, empreender e correr riscos, porque ela também só tem efeitos fiscais a longo prazo. Quanto mais austeridade, mais recessão. Quem quer crescimento a curto prazo, expande gastos.

Quando teve a oportunidade de cortar a taxa Selic em 3 por cento, o Banco Central cortou apenas 0,25%. Quanto mais alto o juro, mais recessão.

A taxa de câmbio acima de quatro reais estimulava a produção local para exportação. Reduzir a taxa de câmbio para perto de três reais estimula a produção no exterior (e facilita a importação). Quanto mais se valoriza o real, menos produção interna, mais importação.

Veja os três parágrafos acima. O governo tem três formas de interferir na atividade econômica: política fiscal (se quer crescimento, investe), política monetária (se quer crescimento, reduz juros) e política cambial (se quer crescimento, desvaloriza a taxa do dólar).

Parece estranho, mas o governo está usando as três como se quisesse aprofundar a recessão e o desemprego.

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.

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Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.