Sair da recessão foi apenas o primeiro passo, por Haroldo Araújo

Inflação crescente e PIB decrescente era o cenário em 2015, quando os juros vinham em ascensão perigosa. Os investidores refaziam posições e a volatilidade cambial completava o cenário ameaçador. A experiência de Henrique Meirelles no comando da Fazenda se aliava à competência de Ilan Goldfajn no Banco Central, era o “Dream Team”, só faltava a disposição política de um Presidente que se dispusesse a ser o alvo das críticas e inquietações. Deu certo.

Poderíamos afirmar que Michel Temer foi capaz de blindar a equipe econômica. Ponto para ele pela sabedoria. Foi exatamente essa blindagem que nos ajudou a sair da recessão! Como? A credibilidade era conquistada e não tinha o objetivo de angariar popularidade, ao aprovar a Reforma Trabalhista e a do Teto de Gastos os agentes tinham como fazer previsões. Não havia um projeto de poder , mas de país: Brasil em primeiro e projetos políticos pessoais depois.

John Heywood (1497-1580) foi um escritor inglês, poeta e colecionador de provérbios: “Roma não foi construída em um dia”, pode significar de grão em grão. Para se criar ou construir algo muito grande: “De grão em grão”. O Brasil está diante de um desafio para o seu povo e seu próximo Presidente da República. Como dissemos, o primeiro passo foi dado e certamente vencemos, mas não podemos comemorar e sim ter compreensão e cautela para seguir adiante.

O próximo passo é mostrar ao mundo que estaremos dando sequência às medidas que nos tiraram da recessão e manter a credibilidade internacional. Pela sinalização às agências de avaliação de risco sobre a manutenção dos rumos iniciais, com a continuidade da política de saneamento das Finanças Públicas. Estamos com um déficit primário de 2% do PIB. Se incluirmos os juros da dívida, ainda no ano de 2018, esse déficit sobe para 7%. Não tem coelho na cartola.

Há sinalização de partidos políticos e conversas no sentido de manter no Banco Central o atual presidente e até de convencer Meirelles a voltar ao comando do Ministério da Fazenda. Pode-se perceber que o próprio PT já sinaliza ter absorvido a ideia de que, um bom governo, precisa de uma boa equipe econômica e isso é um avanço. Onde está o avanço? O reconhecimento de que as instituições públicas deverão ser comandadas por técnicos preparados e apartidários.

O processo que está em curso sob o comando de Ilan Goldfajn na política monetária, cambial e creditícia tem sido capaz de oferecer estabilidade econômico-financeira às demais instituições do mercado financeiro e extensivas ao setor real da economia, e, por via de consequência, também acolhe essa estabilidade à economia como um todo. Podemos destacar que as expectativas de que as eleições causassem instabilidades foi abortada com a isenção de Ilan.

A operação “Lava Jato” foi e é primordial para o saneamento das práticas políticas e a ela o povo brasileiro precisa dar apoio e desejar sua continuidade. Acontece que nem tudo é motivo de comemoração! E o fato é que não podemos deixar de reconhecer que nossas lideranças políticas foram tragadas pela operação. Precisamos ficar atentos para o vácuo na política e tanto isso é verdade que trouxe para destaque duas lideranças que se polarizam em função da “Lava Jato”.

Temos uma elevada margem de dados que nos impendem a prever que decidiremos o nome do futuro Presidente do Brasil entre duas lideranças que se salvam desses escombros. Uma das lideranças demonstra integral apoio às estruturas jurídicas e institucionais no processo em que o Juiz Moro prendeu autoridades e a outra que apresenta questionamentos. Nunca imaginei que o Brasil fosse a continuar como prisioneiro de uma nova polarização, esquerda e direita.

Com a blindagem da Economia, o Brasil poderá acolher qualquer uma das lideranças que vencer.

 

Haroldo Araujo

Funcionário público aposentado.

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