A racionalidade weberiana e o Brasil contemporâneo, por Gilvan Mendes

O Brasil não é para iniciantes. Essa frase já foi tão repetida por analistas políticos profissionais da imprensa que se transformou em uma espécie de clichê. Porém , é fácil verificar o quanto essa expressão  pode  ser bastante  reveladora sobre nossa realidade social. Como a população de um País tão importante para as Américas , consegue cair no comodismo e aceitar que Michel Temer continue governando , com suas reformas impopularese denúncias de corrupção ,  e que Aécio Neves retome seu posto no Senado sem nenhum constrangimento? A resposta talvez  esteja na relação entre razão e emoção na sociedade brasileira.

Max Weber foi um renomado sociólogo alemão. Dentre suas várias contribuições metodológicas para as ciências sociais está o conceito de ”racionalização’ , que segundo o autor seria uma ferramenta usada pelas civilizações para tornar eficiente e impessoal as ações sociais dos indivíduos , ou seja , se o sujeito quiser tirar a carteira de motorista tem que primeiro  provar que pode exercer a função de dirigir , por isso tem que se submeter a um teste racional  e ser avaliado de uma maneira objetiva 

 Utilizando dessa definição weberiana , Sérgio Buarque de Holanda explica  em seu ”Raízes do Brasil ‘ , que somos um povo  que historicamente tem dificuldade em lidar com a racionalidade e aceitar  a sua consequência lógica que seria a formação de um burocracia   impessoal , sem brechas para  privilégios de família e oligarquia  , seguindo a lei e passando uma imagem  de legalidade para o povo. Ao contrário disso  somos ”cordiais’ e nos deixamos levar pela sensibilidade e emoção , resultando em uma ordem social confusa.

 Talvez essa reflexão nos auxilie no entendimento dessa inércia política que vivenciamos. O sentimento tribal e partidário atualmente sobrepuja a apuração objetiva dos fatos , isso faz com que os aliados de Temer e Aécio na sociedade civil e no parlamento  que antes tanto reclamavam das denúncias de corrupção no governo anterior , prefiram nesse momento silenciar e fingir que nada de errado está acontecendo. Além disso ,  estamosimersos em um clima de polarização  ideológica , onde cada grupo quer que o seu lado esteja ”ganhando”  , assim o atual  ”time” contrário ao PT e a esquerda no geral prefere ver o circo pegar fogo do que renegar Temer e suas medidas. 

Se quisermos sair dessa situação , precisamos começar a optar por caminhos políticos racionais e democráticos. Aceitaremos esse desafio?  

Gilvan Mendes Ferreira

Cientista social graduado pelo Universidade Estadual do Ceará-UECE, com interesse nas áreas de Teoria Política , Democracia e Partidos Políticos.

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Gilvan Mendes Ferreira

Cientista social graduado pelo Universidade Estadual do Ceará-UECE, com interesse nas áreas de Teoria Política , Democracia e Partidos Políticos.