No começo foi apenas um estalo, um insight. Você descobre que sabe fazer algo que alguém valoriza, algo que alguém se dispõe a pagar para ter, usar ou experimentar. Você segue fazendo. E a roda gira. Então, você produz mais e divulga entre familiares e vizinhos. E vende. E segue vendendo, divulgando e aperfeiçoando – cria uma marca, bota uma embalagem, descobre novos compradores, chega ao bairro vizinho… entra na internet e recebe encomendas, aluga um ponto, convoca dois sobrinhos para ajudar na produção, venda e entrega, abre uma conta no banco…Você é empreendedor e continua na informalidade. O ciclo é simples e direto: produz, vende, recebe, você comanda e controla tudo.
Até que alguém resolve comprar uma quantidade maior e te pede uma Nota Fiscal. Neste momento, você procura um contador e obtém um CNPJ (um número de 14 dígitos, uma barra e um traço),fixa um endereço e sai da informalidade. Mas continua um empreendedor. Seu processo simples é todo o seu mundo. Você continua fazendo o que sabe fazer bem feito e se relaciona apenas com seus clientes e ajudantes quase íntimos.
Quando é que um empreendedor se torna um empresário?
Nem sempre isso acontece, nem sempre é necessário. Nem sempre a dimensão dos negócios e a abrangência e a complexidade das relações exigem esse salto. Tornar-se um empresário só faz sentido a partir do momento em que o seu negócio ganha uma organicidade, uma vida própria, e inúmeras relações que exigem rigor profissional se estabelecem. Você saberá qual é esta hora. Você perceberá que tem que profissionalizar suas relações com quem o ajuda na produção, na venda e no recebimento; quando notar que você nem conhece mais a metade dos seus clientes; quando desconfiar que estabelecer processos e controles pode sair mais barato do que cuidar de tudo e a atender a todos pessoalmente (porque fazer isso sem profissionais e sem processos e controles se tornou impossível).
Nessa hora você percebe que a empresa pode funcionar ou já funciona independente de você e até apesar de você.
Você está deixando de ser apenas empreendedor e se tornando também um empresário quando seu negócio ganha vida e autonomia (não podem depender mais só de você). O negócio virou uma empresa. E exige gestão e há condições de pagar por ela. A hora de profissionalizar a gestão pode ser adiada por um longo tempo, porque os custos dela podem ser altos. Lembre-se: gestão é simples, e quanto mais simples melhor.
O mais importante é que você nunca deixe de ser empreendedor e que nunca deixe de ter o foco na conquista e satisfação dos clientes, em primeiro lugar. Depois disso assegurado, mantenha o olhar atento ao crescimento das vendas e do lucro, no caixa e na equipe.
O empreendedor e o empresário em você devem conviver. Isso implica em saber que haverá conflitos entre um e outro. Você será o árbitro dessa disputa. Nenhum dos dois pode vencer sempre. Você será obrigado a fazer escolhas. E essas escolhas trazem risco. Há risco em crescer e há risco em não crescer. Há risco até em não arriscar.