Pré-leitura do livro ‘Tudo é rio’, de Carla Madeira

A AUTORA

Carla Madeira, escritora mineira nascida em 1964, tem formação em Jornalismo, é também empresária de publicidade.

A PUBLICAÇÃO

O livro ‘Tudo é rio’, de autoria de Carla Madeira, foi lançado em 2014 em edições regionais (Quixote) e nacionalmente em 2021 (editora Record), com 206 páginas.

CIRCUNSTÂNCIAS

Um sentimento descontrolado de ciúme leva a um ato de violência masculina contra uma mulher em tempo de maternidade. As circunstâncias e os desdobramentos deste evento brutal envolvem um triângulo ‘amoroso’ e levam a um desfecho que se coloca entre uma escalada de violência e o perdão.

A IMPORTÂNCIA DO LIVRO

‘Tudo é rio’ é o maduro romance de estreia de uma escritora que até na brutalidade consegue ver e descrever beleza e delicadeza.

O livro tem tido sucesso na crítica e nas vendas, que já superaram os primeiros cem mil exemplares e seguem avançando.

O LIVRO

No triângulo amoroso que dá base à trama, duas mulheres fortes têm suas vidas sacudidas: uma puta e uma dona de casa tradicional.

O livro percorre famílias, relações de amor, sexo e ciúme. Personagens de excepcional nitidez trafegam entre a violência e o perdão. Aquela está a um estalar de dedos. Este, improvável, pois como se pode perdoar o imperdoável?

INSIGHTS

“Tão bonita quanto insuportável. Uma antipática felicidade, desumana com a solidão alheia.

“Para as putas, basta a Deus um coração puro, outras partes podem ser lambuzadas. Para as beatas, qualquer lambança no corpo contamina o coração.

“Não se iluda, o ciúme pode destruir qualquer amor. Dá muito trabalho não deixar ele devorar a alegria de ficar junto.

“Como a indiferença é serena!

“Na vida, o mal resolvido sempre tromba na gente, ninguém escapa das tangentes.

“O sofrimento é certo como a morte, e tão inegociável quanto.

BONS MOMENTOS

“Algumas vezes as mudanças acontecem na marra. Uma guilhotina afiada corta as nossas mãos, e todas as rédeas escapam. É o que pensamos ter acontecido, até que a gente se dá conta de que nunca houve rédeas. Ninguém monta na vida. Brincamos de escolher, brincamos de poder conduzir o destino.

“…Mas e o amor? O que é senão um monte de gostar? Gostar de falar, gostar de tocar, gostar de cheirar, gostar de olhar. Gostar de se abandonar no outro. O amor não passa de um gostar de muitos verbos ao mesmo tempo.

“A loucura começa como a doença, miúda. Vai se alastrando célula a célula, ocupando tudo, destruindo a saúde, acabando com a vida de quem não encontra recurso para deter os pensamentos ruins, fazedores dos mais profundos infernos. O pensamento solto, insistente e amargo constrói e antecipa a desgraça, é cruel no jeito de destruir.

“Duas mães pedem a Deus, com devoção extrema, que livre seus filhos da dor, do sofrimento, do desaparecimento, da morte. Pedem todos os dias saúde e proteção para eles, como se pedissem, sufocadas , um pouco de ar para elas. Suplicam, sem coragem de duvidar que serão atendidas. Confiam. Entregam a Deus seus corações apertados e reconhecem humildes que amor demais é um despreparo para a dor.

“Via graça em tudo que fazia, ao contrário de só querer fazer o que via graça. Enchia a boca para dizer: É para varrer? Vamos varrer, se você dança com a vassoura, ela dança com você. Se é para lavar, lave, que a alma sai limpa do esforço. Sofrer com miudeza é querer ser infeliz, ignore o cisco.

“…naquele momento, o que não queria ocupava muito mais espaço. Não queria um filho crescendo num puteiro, no colo daquelas mulheres tristes, dormindo nos lençóis manchados de porra. Vendo homens estúpidos pagando pelo que não conseguiam ter de graça, um bando de covardes que desistia de suas mulheres na cama em nome da convivência na mesa. Homens partidos

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.

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