Categoria:

Tags:

PRÉ-LEITURA DO LIVRO “SOBRE A LEITURA”, DE MARCEL PROUST


O AUTOR

Marcel Proust (1871-1922) foi um importante escritor francês, criador de vasta e original obra literária, o mais conhecido de seus livros, “Em busca do Tempo Perdido”. 

A PUBLICAÇÃO 

O livro “Sobre a Leitura”, de autoria de Marcel Proust, foi lançado pela Amazon Kindle em 2017, com 70 páginas. Completa a obra um depoimento de Celeste Albaret à jornalista Sônia Nolasco-Ferreira sobre os últimos dez anos de vida de Proust, pra quem ela trabalhou diretamente. 

CIRCUNSTÂNCIAS 

Marcel Proust atendeu a um pedido de um escritor amigo para prefaciar seu livro. Proust achou por bem falar de sua visão sobre leitura de livros, para o que usou de experiências pessoais da infância e de autores como Racine, Shakespeare, Homero e Victor Hugo, entre outros. Muito depois, este texto virou livro. 

A IMPORTÂNCIA DO LIVRO 

Falecido em 1922, Proust comentava que Stendhal teve que esperar cem anos para sua obra literária ter o devido reconhecimento. E acrescentava que o reconhecimento para ele, Proust, viria bem mais rápido. E efetivamente ele teve sua obra consagrada em “apenas” cinquenta anos. E chegou com força enorme, crescente. A ponto mesmo de editores transformarem em livro um prefácio um pouco mais alongado. E o interesse na publicação foi imenso. Claro, todos queriam saber o que Marcel Proust diria “sobre leitura”. 

O LIVRO 

O livro se estrutura em dois blocos de texto breves. 

O primeiro é a abordagem de Marcel Proust para a leitura de livros. O autor consegue ser original e significativo, num tema que sempre é exaustivamente abordado, pois o livro é objeto apreciado e cultivado por pessoas altamente qualificadas. 

O segundo bloco traz a conversa de uma jornalista com a profissional que dava total assistência a Proust ao longo dos dez anos finais de sua vida, já doente (tinha crises de asma), mas movido pelo compromisso consigo mesmo de completar sua obra. Neste momento, o tema é o próprio autor, sua vida, suas memórias, seus hábitos, sua vida social e até questões íntimas. 

CURTAS 

“… o meu dever é escrever um livro, fazer a minha obra, o tempo passa. Não posso perdê-lo. 

“… Sempre gostamos de sair um pouco de nós mesmos, de viajar, quando lemos.

“… A leitura está no limiar da vida espiritual; pode nela introduzir-nos, mas não a constitui.

“… Talvez não haja, em nossa infância, dias que tenhamos vivido mais plenamente do que aqueles que acreditamos ter perdido sem vivê-los, aqueles que passamos na companhia de um livro. 

“… Coisas que uma espécie de ilusão nos faz ver a poucos passos e que, na verdade, estão a séculos de distância…

“… algumas vezes, em casa, na cama, muito depois do jantar, as últimas horas da noite também abrigavam minha leitura, mas isso somente nos dias em que eu havia chegado aos últimos capítulos de um livro, em que não havia muito mais a ser lido para chegar ao fim.

BONS MOMENTOS 

“… E quando nossos pais nos encontravam lendo e pareciam sorrir de nossa emoção, fechando o livro com uma indiferença afetada ou um tédio fingido; essas pessoas por quem tínhamos arquejado e soluçado, não as veríamos nunca mais, nunca mais saberíamos algo a seu respeito. Já havia algumas páginas que o autor, no cruel “Epílogo”, tivera cuidado de espaçá-las, com uma indiferença incrível para quem sabia com que interesse eles tinham sido seguidos passo a passo até ali.

“… Não escapei a seu sortilégio: querendo falar sobre elas, falei de tudo menos dos livros, porque não foi deles que elas me falaram. Contudo, talvez as lembranças que elas foram devolvendo uma após a outra tenham, elas próprios, sido despertadas no leitor e, pouco a pouco, demorando-se nesses caminhos coloridos e tortuosos, o tenham levado a recriar em seu espírito o ato psicológico original chamado leitura …

“… Tentei mostrar nas notas que acompanham esse volume que a leitura não poderia ser equiparada a uma conversa, mesmo que com o mais sábio dos homens; que a diferença essencial entre um livro e um amigo não é seu maior ou menor grau de sabedoria, mas a maneira pela qual nos comunicamos com eles; a leitura, ao contrário da conversação, consiste para cada um de nós em tomar conhecimento de um outro pensamento, mas estando sozinho, isto é, continuando a gozar da força intelectual de que usufruímos na solidão e que a conversa dissipa imediatamente, continuando a poder ser inspirados a permanecer em trabalho fecundo do espírito sobre ele mesmo.

“… e esta é, com efeito, uma das grandes e maravilhosas características dos belos livros (que nos fará entender o papel ao mesmo tempo essencial e limitado que a leitura pode desempenhar em nossa vida espiritual), que para o autor poderiam se chamar “Conclusões “ e, para o leitor, “Incitações“. Sentimos muito bem que nossa sabedoria começa onde a o do autor acaba, e gostaríamos que ele nos desse respostas, quando tudo que pode fazer é nos dar desejos.

“… O que falta, portanto, é uma intervenção que, mesmo vinda de outro, ocorra no fundo de nós mesmos, o impulso de outro espírito, mas recebido em meio à solidão. Ora, vimos que essa é exatamente a definição da leitura e que somente à leitura ela convém.A única disciplina que pode exercer uma influência positiva sobre tais espíritos é, portanto, a leitura: como queríamos demonstrar, dizem os geômetras.

“… O gosto pelos livros parece crescer com a inteligência, um pouco acima dela, mas no mesmo tronco, assim como toda paixão é acompanhada de uma predileção pelo que cerca seu objeto, pelo que se relaciona com ele e em cuja ausência ainda o comenta. 

“… Um espírito original sabe subordinar a leitura à sua atividade pessoal. Ela não passa para ele da mais nobre das distrações, a mais enobrecedora, principalmente, já que somente a leitura e o saber proporcionam as “belas maneiras“ do espírito. Só podemos desenvolver a força de nossa sensibilidade e de nossa inteligência em nós mesmos, nas profundezas de nossa vida espiritual. Contudo, é nesse contrato com os outros espíritos, que constitui a leitura, que se dá à educação das “maneiras“ do espírito.

Sobre o autor:

Compartilhe este artigo:

PRÉ-LEITURA DO LIVRO “SOBRE A LEITURA”, DE MARCEL PROUST