Pré-leitura do livro Quase Romance, de ALDER TEIXEIRA

O AUTOR

Alder Teixeira é Especialista em Literatura Brasileira, Mestre em Literatura Brasileira e Doutor em Artes. É professor universitário e autor de contos, crônicas e ensaios sobre Arte. Publicou vários livros.

A PUBLICAÇÃO

O livro Quase Romance, de autoria de Alder Teixeira, foi lançado em 2021, pela Editora Sarau das Letras, com 126 páginas, prefácio de Clauder Arcanjo, comentários de Dimas Macedo e Heliana Querino.

CIRCUNSTÂNCIAS

Alder Teixeira escreveu muitos textos e vários livros de qualidade. Este é seu primeiro romance. E faz uma estreia impressionante em todos os sentidos – forma, conteúdo, trama, linguagem, narração, estilo. Professor universitário no campo aberto da arte em geral, mas, sobretudo, um expert nas questões do cinema e da literatura, produz uma obra que cultua os clássicos das duas áreas, naturalmente, mas o faz com originalidade, sem qualquer concessão ao lugar comum, nenhum recurso ao clichê.

A IMPORTÂNCIA DO LIVRO

Alder Teixeira é uma referência importante no ambiente universitário, como professor. Na sociedade é reconhecido como um intelectual que contribui para o debate das questões públicas – na política e na cultura. Seus livros Estratégias Narrativas da Cinematografia de Ingmar Bergman, Do Amor e Outras Crônicas, Componentes Dramáticos da Poética de Drummond, Da Arte e Outras Questões (este em parceria com a arquiteta Carolina Araújo), entre outros, tiveram receptividade e boa crítica. Criou-se justificada expectativa quando se soube que ele lançaria um romance. Mais interesse ainda despertou quando se soube que o romance fugiria de vários dos padrões literários.

O LIVRO

O amor, a paixão e a traição estão no centro do enredo e espalham-se a partir das relações entre Paulo e Ana, e envolvem Mara, Wagner, Linda e Giovana. Caberá ao leitor dizer onde começa o amor e onde termina a paixão. Caberá ao leitor envolver-se para julgar se houve traição, e de quem. Ambientado nos anos 1960 e 1970, o texto capta o clima da ditadura brasileira e da Revolução dos Cravos portuguesa. Os personagens só crescem enquando a leitura avança. Os homens se mostram como de fato são, vulneráveis. As mulheres, ponto mais alto do texto, são encantadoras. Os pontos de vista se alternam, como se alternam os narradores, as cenas vão e vêm com cortes e flashbacks precisos. Quase Romance se estrutura elegante entre a plasticidade do cinema e a riqueza da literatura.

CURTAS

“…uma coisa fica, e é a suma das sumas, ou o resto dos restos, a saber, que é a minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me…”

…Como é próprio da classe média brasileira, tu te realizavas com a vida vidinha que levávamos, meio trabalhadores e meio patrões, deslumbrados com o conforto de nossa casa…

…Na fotografia em que estamos juntos, os olhos de Ana miram os meus com uma paixão digna de heroínas dos romances românticos. Por que morre a paixão?

…o homem que admirei um dia não existia mais, curvado ao peso de sua insegurança e dos medos que o levaram a trair suas próprias ideias da forma como o fez…

…Falhara como homem e como escritor. Logo agora, quando Ana estava de volta e, por certo, haveria de ler o livro, descobrindo nas dobras do artifício e da mediocridade, o que existia de pessoal na história

…estou na história tanto quanto você! Ali estão todos os homens… São os conflitos humanos que importam, que constituem a substância da narrativa… Não seja leviano, me perdoe!

…Comovia-lhe o fato de que, desse amor tão marcado de contradições, nada mais restasse além de alguns livros e a fotografia sobre cuja face deitava o olhar entre amargo e terno…

BONS MOMENTOS

…Cai por terra o que restou dos nossos sonhos. Nossos? Não, caiu por terra o sonho de Ana, que, aos poucos e cada vez mais, deixam de me seduzir certas ideias, como se Ana e eu estivéssemos de uma vez por todas em campos opostos. Ela, com sua utopia. Eu, com a minha realidade. Se aquela me roubou o objeto amado, esta me trará de volta o Paulo que perdi em mim. Foda-se a utopia.

…O clima é cada vez mais grave. Fecha-se o Congresso Nacional. A cada dia, novos brasileiros desaparecem sem que jamais se tenha deles qualquer notícia. Redações de jornais são invadidas, teatros parcialmente destruídos, universidades e escolas, devassadas. Há, por parte dos movimentos de resistência à ditadura, um recuo natural, e o país se curva, impotente, diante da força bruta de seus algozes.

…Linda me beijou o rosto bem na comissura dos lábios, surpreendendo-me e, a um só tempo, acentuando o meu nervosismo e causando um prolongado arrepio da pele. Foi assim, meio por acidente, meio que por intenção, que nossas bocas se tocaram pela primeira vez.

…A assertiva do herói de Machado de Assis corta-lhe o peito como um ferro em brasa. Mais que a dor da perda, já distanciada pelo passar dos muitos anos, é o orgulho ferido, um tipo de humilhação para o que não encontra palavras, que o maltrata outra vez ao contemplar a foto que lhe caíra casualmente às mãos de dentro de O Caminho de Swann.

…Como não fumasse, ela oferta-lhe um cravo. Não tendo outra forma como reagir ao gesto doce da mulher, o soldado coloca o cravo no cano do fuzil. Celeste os ofereceu, em seguida, a outros soldados, que também os colocaram na ponta de suas armas. Os outros empregados do “Franjinha”, que ali se encontravam, passaram a distribuir os seus cravos também. Em poucos minutos, eram centenas de fuzis ornamentados com as flores com que se pretendia tão-somente comemorar o primeiro aniversário de um restaurante. Era a Revolução dos Cravos.

 

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.