O AUTOR
Lira Neto é escritor e jornalista nascido em 1963. Tem pós-graduação em semiótica e comunicação e em história. É vencedor quatro vezes no Prêmio Jabuti de Literatura, por textos biográficos. Tem treze livros publicados.
A PUBLICAÇÃO
O livro “Edson Queiroz:Uma Biografia”, de autoria de Lira Neto, foi lançada em em 2022 pela Bella Editora, com 398 páginas.
CIRCUNSTÂNCIAS
Edson Queiroz, cearense de Cascavel, nascido em 1925, em três décadas (basicamente ao longo dos anos 1950, 1960 e 1970), construiu o maior e mais diversificado grupo empresarial do Norte e Nordeste. E teria ido ainda muito mais longe se não lhe tirasse a vida um acidente aéreo em 1982.
Nas palavras do próprio autor do livro: “Descobri esse personagem e me deparei com a certeza de que uma biografia do Edson Queiroz tinha que mostrar o tino singular que ele tinha para os negócios e ao mesmo tempo a irreverência dele, essa coisa brincalhona, tipicamente cearense”.
A IMPORTÂNCIA DO LIVRO
Agricultura, indústria, comércio, comunicação, educação, mineração e mercado imobiliário. Edson empreendeu, brilhou, cresceu e lucrou em todas essas áreas econômicas. Sua contribuição para o desenvolvimento do Ceará, do Nordeste e do Brasil foi extraordinária. Sua personalidade, seu estilo e suas habilidades (e limitações e fracassos) merecem ser conhecidas e avaliadas pela sociedade.
Este livro é uma pesquisa séria e pode ser uma relevante contribuição para quem tem interesse em conhecer uma trajetória empresarial inimitável.
O LIVRO
O autor estrutura a biografia do empresário Edson Queiroz em vinte e dois capítulos breves, em ordem cronológica. Esta opção do autor permite mostrar ao leitor o decisivo papel de seu pai, Genésio, como incentivador, conselheiro e financiador de seus primeiros passos de empreendedor.
A obra também destaca a enorme dimensão de Yolanda na vida do biografado, ao relatar com riqueza de informações o relacionamento entre os
dois, desde os primeiros momentos, até nas delicadas situações de problemas de saúde.
O leitor não deve esperar uma nuvem de dados econômico-financeiros, o biógrafo não exagerou nos números, e essa escolha torna a leitura mais leve, sem prejuízo da compreensão das dimensões dos negócios em jogo. De fato, até referências mais importantes têm seus valores atualizados para a moeda de 2022, quando o livro foi editado.
Se o leitor é cearense e mora em Fortaleza, encontrará em muitas páginas personagens e eventos marcantes da história daqueles tempos.
CURTAS
“…“O Nazareno (Albuquerque) é um dos meus“, dizia Edson, em alusão explícita aos esquerdistas que sempre fizera questão de abrigar nos quadros da rádio, do jornal e, a partir daí, também da TV.
“… não é necessário que à pobreza da terra se alie a pobreza cultural do homem…
“… temos de transformar o Ceará numa tábua de pirulitos, furando poços de 20 em 20 km…
“… mesmo sem ter formação em engenharia, Edson questionava cada decisão, querendo compreender os porquês e os detalhes técnicos das operações…
“… Edson seguia a fazer planos para o futuro, mas também começara a dedicar mais tempo a si próprio e à família…
“… o filme “O homem de papel” foi triturado pela crítica e resultou em fiasco para o produtor de primeira viagem… Resultado: foi a primeira e última vez que Edson investiu na chamada sétima arte.
BONS MOMENTOS
“… Quando Yolanda Vidal Queiroz assumiu a presidência dos negócios da família, o grupo Edson Queiroz, com 31 anos de existência, já era o maior conglomerado empresarial de todo o Norte e Nordeste. Reunia um total de 24 empresas, que ofereciam cerca de 10.000 empregos diretos e operavam nos mais diversos ramos de atividades, incluindo água mineral, agronegócio, beneficiamento de castanha, comércio de eletrodomésticos, comunicação, distribuição de gás liquefeito, educação, indústria metalúrgica, mercado imobiliário, mineração e reflorestamento.
“… em 1979, entraria no ramo das águas minerais, ao adquirir a marca Indaiá. Ao comprar uma série de lavras e fontes naturais, logo assumiria a liderança do mercado estadual, ampliando em seguida a atuação para todo Norte e Nordeste. Além das garrafas convencionais, o know how obtido com a distribuição do gás em domicílio inspirou o modelo similar na entrega sistemática de garrafões plásticos com capacidade para 20 litros de água. Em um processo de sinergia entre as empresas irmãs, a Esmaltec começou a produzir os bebedouros elétricos Gelágua, de uso doméstico, para acoplagem do garrafão. Mas, o gás, acima de tudo, continuava a ser a principal fonte de renda para o conglomerado, respondendo por 40 por cento do faturamento total.
“… uma cena divertida ficaria na memória dos sobrinhos e netos: Edson dançando ao som de uma música alegre, equilibrando o copo de uísque sobre a cabeça. Os velhos truques de mágica dos tempos da adolescência foram recuperados, em sessões dominicais para a criançada. Além de ilusionista e prestidigitador, Édson também encarnava o papel de médico e enfermeiro, cuidando de mazelas e machucados que podiam ir de uma unha encravada a um braço quebrado…
“… estava tudo pronto para funcionar, faltava apenas a autorização oficial. Dinheiro não faltava, ressaltou. O déficit previsto para os primeiros dois anos de funcionamento seria cobertos pelas empresas do grupo, que responderiam pela manutenção dos investimentos da universidade, destinando-lhe cinco por cento do lucro operacional.… “Se não aprovarem o funcionamento da universidade, irei fazer no local, sob protesto, a maior fábrica de papel higiênico da América Latina”, prometeu Edson.
“… impaciente com as dificuldades e problemas reportados pela equipe de montagem, Edson decidira inspecionar por conta própria as condições da torre (de transmissão de TV), cuja altura equivale a um prédio de 27 andares. Galgou a escadinha metálica, degrau a degrau, perante o olhar de perplexidade dos técnicos, funcionários e curiosos que passavam pela rua. No topo, sob o sol escaldante de Fortaleza, o vento despenteava-lhe os cabelos e fazia tremular os tecidos da roupa. “Desça daí, comandante! “, suplicavam os auxiliares.
“… Edson, porém, foi categórico. Não permitiu que a mulher prosseguisse nos estudos — e muito menos que trabalhasse fora de casa. Também lhe cortou o prazer de tocar piano, deleite que a acompanhava desde os tempos de menina. Do mesmo modo, vetou-lhe a leitura de romances e poemas.
“… quando, em 1971, o ministro da Educação, Jarbas Passarinho, esteve em Fortaleza para uma visita oficial oficial ao Ceará, foi prontamente convidado para um debate na recém-inaugurada TV Verdes Mares. Edson autorizou que (Nazareno) Albuquerque escalasse uma jovem e aguerrida militante do movimento estudantil — a futura vereadora Rosa da Fonseca, então com 22 anos — para participar do programa. O ministro se sentiu confrontado com as perguntas da moça e, ao final, tratou de deixar isso claro ao dono da emissora. “Releve, ministro, é apenas uma estudante“, Edson tentou contemporizar. Mas, Rosa seria presa horas depois — e passaria dois anos e dois meses na cadeia, enquadrada na Lei de Segurança Nacional.