OS AUTORES
André Roncaglia e Paulo Gala são graduados, mestres e doutores em Economia, além de escritores e professores universitários.
A PUBLICAÇÃO
O livro “Brasil, uma economia que não aprende – novas perspectivas para entender nosso fracasso”, de autoria de André Roncaglia e Paulo Gala, foi lançado em 2020, com 242 páginas, custeado por financiamento coletivo. Apresentações de Luís Carlos Bresser-Pereira e Antônio Carlos Castro e prefácio de Luiz Gonzaga Belluzzo, todos economistas.
CIRCUNSTÂNCIAS
Algumas pessoas são levadas a crer que o desenvolvimento dos países é um processo natural e inevitável, questão de tempo. Não é verdade. E mesmo que fosse, alguns países demorariam mais tempo que outros. Além disso, além do tempo, há a questão da velocidade. Vejam o caso do Brasil: desde os anos 1930 se diz que o Brasil é o país do futuro.
A China e a Coreia do Sul desenvolveram-se em uma geração, três décadas bastaram.
Esta decisiva questão tem pelo menos duas perspectivas de análise: as teorias do desenvolvimento econômico e a realidade objetiva.
Este livro trata destas questões teóricas enquanto debate o desempenho concreto da economia brasileira com foco nos últimos cem anos.
A IMPORTÂNCIA DO LIVRO
As discussões teóricas e práticas sobre a economia brasileira estão cada vez mais pobres e radicais. Exemplo: querem que o país escolha entre mercado e Estado, como se fossem excludentes. Não são. Outro exemplo: querem que o país escolha entre o desenvolvimentismo e o ultraliberalismo. Não cabe, não precisa. Ou entre nacionalismo e abertura, como se fossem inconciliáveis.
Este livro é uma contribuição necessária, útil e oportuna para valorizar e qualificar este debate.
O LIVRO
O livro debate com honestidade o que há de relevante na economia brasileira, em termos de desempenho desde 1930 até a atualidade, colocando como pano de fundo o que há de mais central nas teorias de desenvolvimento econômico desde os anos 1600, com as ideias ainda hoje atualíssimas do economista italiano Antônio Serra.
O livro defende honestamente a ideia de que o Estado tem papel estratégico decisivo, que o mercado precisa do Estado (e vice-versa), que o Brasil estava no caminho certo entre 1930 e 1980.
Também defende que industrialização é condição essencial do desenvolvimento econômico e que os países ricos mentem e manipulam a boa fé dos países pobres para defender os interesses de suas próprias empresas multinacionais.
O livro entrega o que promete no sub-título: novas perspectivas para entender o fracasso do Brasil.
INSIGHTS
“Todos os países ricos amadureceram suas economias na direção de maior complexidade, enquanto todos os países pobres falharam em tal propósito. Como chegar lá continuará sendo objeto de acaloradas disputas teóricas e políticas.
“Eles não fazem tudo isso porque são ricos, mas, ao contrário, por terem chegado antes e protegerem suas conquistas econômicas e tecnológicas é que conseguem se manter na liderança do mundo.
“… as ocupações em si e os tipos de vagas de trabalho são mais importantes do que a qualificação. Se não houver postos de trabalho qualificados, não adianta qualificar a população.
“Na Ásia, a ‘abertura’ funcionou; na América Latina e África, não.
“Nossa produção industrial colapsou com queda de 20 por cento entre 2014 e 2016.
“Países ricos produzem serviços sofisticados como Uber, Netflix e Amazon, nós dirigimos Uber, assinamos Netflix e compramos na Amazon.
IDEIAS CENTRAIS
“Para o grupo dos economistas ortodoxos ou “mainstream”, o desenvolvimento econômico tende a ser um processo espontâneo guiado pelo mercado e que depende basicamente de boas políticas internas…na metáfora futebolística, os países ricos ficaram ricos porque descobriram seus “Romários” em cada posição do campo de futebol, mas sem um técnico que definisse uma estratégia de jogo.
“Para o grupo dos desenvolvimentistas ou heterodoxos, o processo de desenvolvimento econômico se dá num contexto de interação estratégica entre nações. Especialmente no que diz respeito ao domínio de técnicas produtivas e capacidade de aprendizagem em setores específicos. Aquilo que o economista convencional vê como causa do desenvolvimento é tido como resultado.
“O processo de desenvolvimento não é setor-neutro, depende da composição agricultura, serviços e indústria do PIB e do tipo de produto que um país é capaz de produzir. A produtividade da economia deixa de ser algo que depende dos indivíduos, como na visão ortodoxa, e passa a ser algo sistêmico, que depende da configuração setorial e produtiva de uma economia.
“Trabalhadores inseridos em setores tecnologicamente sofisticados serão produtivos devido às características intrínsecas do setor e não às dos trabalhadores. A empregada doméstica que é retreinada para trabalhar numa fábrica tem sua produtividade aumentada enormemente, por exemplo.
“Na conhecida expressão do economista alemão Friedrich List, após atingirem um elevado estágio de desenvolvimento os países ricos “chutam a escada”, tentando impedir que os países pobres percorram o mesmo percurso; são estratégias de maximização do lucro das próprias empresas multinacionais.
“O Brasil conseguiu avançar muito em sua transformação estrutural até os anos 1980; chegou na metade da jornada, parou e depois começou a regredir…Quase conseguimos nos desenvolver, faltou pouco. No início dos 1980 a produção industrial brasileira era maior que a chinesa e a coreana somadas.
“A era Vargas, depois JK,o milagre econômico e o II PND, apesar de todos os seus problemas, coroaram o salto tecnológico e de complexidade da economia brasileira do período desenvolvimentista. A Petrobras, a CSN, o BNDES e tantos outros marcos do Brasil foram criados nessa fase. O plano de metas de JK lançou as bases de infraestrutura rodoviária, ferroviária e energética que usamos até hoje.