Pré-leitura do livro AS LEIS FUNDAMENTAIS DA ESTUPIDEZ, de Carlo Cipolla

O AUTOR

Carlo M. Cipolla (1922-2000) foi um historiador italiano, professor universitário nos Estados Unidos e recebeu prêmios prestigiosos e diplomas honorários.

A PUBLICAÇÃO

O livro As Leis Fundamentais da Estupidez Humana, de Carlo M. Cipolla, foi publicado em 1976, pela Mad Millers (possivelmente inventada pelo autor), com tiragem limitada, circulação restrita e 65 páginas. Doze anos depois, em italiano, com outro título (Allegro ma non tropo) retomou sua trajetória.

CIRCUNSTÂNCIAS

A estupidez pode ser encontrada em qualquer dicionário descrita ora como a mistura de ignorância com arrogância, ora com palavras mais suaves como falta de discernimento e indelicadeza. A estupidez é uma espécie de porta larga para a violência. Normalmente, a estupidez humana é atribuída a fatores culturais pessoais, como a educação, a época, o ambiente ou até a trajetória de vida da pessoa desde a infância, influenciada por eventos e relacionamentos marcantes. Cipolla diverge dessa hipótese e diz que em qualquer comunidade, em qualquer tempo, haverá uma proporção comum de estúpidos.

A IMPORTÂNCIA DO LIVRO

O livro de Cipolla não é uma obra científica, não tem qualquer preocupação com pesquisas ou com o rigor. Na verdade, o leitor sentirá no percurso do texto alguma ironia, bom humor e até momentos de cinismo. O livro até chega a ensaiar uma abordagem matemática ao criar um gráfico em que divide as pessoas em quatro tipos – inteligentes, vulneráveis, estúpidos e bandidos –, mas sem rigor e apenas para ilustrar as relações sociais dos estúpidos.

Embora a estupidez humana esteja na moda e pareça expandir-se, interessa ressaltar que o livro é da década de 1970 e o autor diz que a proporção de estúpidos na sociedade é a mesma há séculos.

O LIVRO

O livro pode ser lido em pouco mais de uma hora, pois tem apenas 65 páginas. O autor divide seu conteúdo em nove capítulos curtos, sendo que cinco deles são dedicados a cada uma das tais cinco leis fundamentais. No restante do livro, Cipolla apresenta e explica sua formulação gráfica com os quatro tipos (inteligentes, vulneráveis, bandidos e estúpidos) e as relações entre eles. O texto é leve, direto e cabe ao leitor identificar o limite entre o que é sério e grave e aquilo que é apenas bom humor e ironia.

INSIGHTS

Primeira Lei Fundamental da Estupidez Humana – “ Todo mundo subestima, sempre e inevitavelmente, o número de indivíduos estúpidos em circulação.“

Segunda Lei Fundamental – “A probabilidade de determinada pessoa ser estúpida independe de qualquer outra característica dessa pessoa“.

Terceira Lei Fundamental – “Uma pessoa estúpida é uma pessoa que provoca perdas para outra pessoa ou um grupo de pessoas enquanto não obtém nenhum ganho para si mesma, e possivelmente incorre em perdas.“

Quarta Lei Fundamental – “ Pessoas não estúpidas sempre subestimam o poder de causar danos dos indivíduos estúpidos. Em particular, pessoas não estúpidas se esquecem constantemente de que em todo momento e lugar, e sob qualquer circunstância, lidar e ou se associar com pessoas estúpidas resulta infalivelmente em um erro altamente custoso.“

Quinta Lei Fundamental – “ Uma pessoa estúpida é o tipo mais perigoso de pessoa“ – O corolário da Lei diz que “uma pessoa estúpida é mais perigosa do que um bandido.“

“ Pessoas estúpidas causam perdas a outras pessoas sem contrapartida de ganhos para si mesma. Assim, a sociedade como um todo fica empobrecida.“

“Seria um grande erro acreditar que o número de pessoas estúpidas em uma sociedade em declínio é maior que em uma sociedade em desenvolvimento. As duas são assoladas pelo mesmo percentual de pessoas estúpidas.“

IDEIAS CENTRAIS

“Esse grupo (de estúpidos) é muito mais perigoso que a máfia, o complexo industrial-militar ou o comunismo internacional – é um grupo desorganizado e não regulamentado, sem chefe, sem presidente e sem estatuto, e ainda assim consegue operar em perfeito uníssono, como se fosse guiado por uma mão invisível.“

“É minha convicção firme, apoiada por anos de observações e experimentação, que os homens não são iguais, que alguns são estúpidos e outros não são, e que a diferença é determinada pela natureza e não por fatores culturais. Uma pessoa é estúpida da mesma forma que outra é ruiva, pertence-se ao conjunto de estúpidos da mesma maneira que se pertence ao grupo sanguíneo. Um homem estúpido nasce um homem estúpido por obra da Providência.“

“A Terceira Lei Fundamental da estupidez humana pressupõe, embora não declare isso explicitamente, que os seres humanos classificam-se em quatro categorias básicas – o inteligente, o vulnerável, o bandido e o estúpido. Uma pessoa fez uma ação que resultou em sua perda e em nosso ganho (lidamos com uma pessoa vulnerável`). Uma pessoa fez uma ação por meio da qual os dois ganharam – ela era inteligente. Uma pessoa fez uma ação que resultou em seu ganho e em nossa perda (nós tivemos de lidar com um bandido).“

“ Nossa vida diária é feita principalmente de casos nos quais perdemos dinheiro ou tempo ou energia ou apetite ou algria ou saúde devido a uma ação improvável de alguma criatura afrontosa que não tem nada a ganhar – e nada verdade não ganha nada – por nos provocar embaraços e dificuldades ou nos causar o mal. Ninguém sabe, entende, nem consegue explicar por que essa criatura afrontosa faz o que faz. Na verdade não há explicação. Melhor, há uma única explicação – a pessoa em questão é estúpida.“

“A distribuição de frequência das pessoas estúpidas é totalmente diferente daquela dos bandidos. Enquanto os bandidos, em sua grande maioria, estão espalhados em áreas, pessoas estúpidas ficam fortemente concentradas ao longo de uma linha…Há, entretanto, pessoas que, devido a suas ações improváveis, não apenas causam danos a outras pessoas, mas também ferem a si mesmas. Elas são uma espécie de superestúpidos…“

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.

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Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.