O AUTOR
George Steiner (1929-2020) foi escritor, crítico literário e acadêmico francês. Escreveu 48 livros. Era excelente orador.
A PUBLICAÇÃO
O livro ‘Aqueles que queimam livros ‘, de autoria de George Steiner, foi lançado em 2008, reeditado inúmeras vezes, inclusive em 2020 pela Editora Âyiné, com 92 páginas.
CIRCUNSTÂNCIAS
George Steiner era um estudioso do Holocausto, uma das violências desproporcionais do nazismo alemão, que literalmente queimava livros. Como um dos maiores críticos literários do século XX, estudioso da história, ele mergulha também na análise da importância dos grandes livros religiosos, como o Corão e a Torá, sempre tendo como pano de fundo a leitura como prática necessária ao crescimento individual, mas também ao desenvolvimento da sociedade no sentido mais amplo.
A IMPORTÂNCIA DO LIVRO
Diz-se de Steiner que era, como orador, um arrebatador de plateias, fosse falando a outros acadêmicos, a um público qualquer ou mesmo eventualmente a seus alunos. Seu texto não é menos atraente, especialmente quando trata da dimensão estratégica da literatura. Este livro trata de livros de um modo geral, livros religiosos e das conexões entre a escrita e a oralidade. E coloca a leitura numa posição central no desenvolvimento humano, desde sempre. E faz advertências sobre ameaças modernas contra o livro e a cultura.
O LIVRO
O livro é composto de três textos breves. George Steiner deve até tê-los escrito e usado em algumas de suas palestras e conferências.
O livro viaja no tempo e chama a atenção para eventos significativos, como, por exemplo, para o fato de que dois grandes homens, Sócrates e Jesus, não escreveram.
Mostra como o poeta alemão Heinrich Heine, em 1821, já advertia para o significado político do ato de levar livros à fogueira.
Breve e leve, a obra, que faz por merecer toda recomendação de leitura, pode ser lida em menos de três horas contínuas.
CURTAS
“…Em 1821, na Alemanha, comentando uma onda de autos de fé, Heine observa: “Onde se queimam livros, acaba-se queimando pessoas “.
“… A escrita é um arquipélago no meio de uma imensidão oceânica da oralidade humana.
“… A educação moderna é vítima da amnésia institucionalizada, que priva o espírito infantil de toda referência vívida.
“… O autor deve morrer, mas suas obras sobreviverão, mais sólidas que o bronze, mais perenes que o mármore.
“… Nossa verdadeira pátria não é um pedaço de terra cercado ou defendido por armas… Nossa verdadeira pátria sempre foi e sempre será um texto.
“… A internet implica uma nova metafísica da consciência, tanto individual quanto social.
“… Os livros são a chave de acesso para nos tornarmos melhores.
BONS MOMENTOS
“… As bestialidades do nazismo, da forma como foram preparadas, organizadas e executadas na Europa do século XX, foram perpetradas no centro da cultura. Em nenhum outro país a vida intelectual, a produção e a inteligência dos livros, a cultura humanística nas universidades e no grande público, foi tão honrada e encorajada como na Alemanha. Em nenhum momento, as forças da cultura e da recepção humanísticas impediram o triunfo da barbárie.
“… Aqueles que queimam livros, que banem e matam poetas, sabem exatamente o que fazem. Seu poder é incalculável. Precisamente porque o mesmo livro e a mesma página podem ter efeitos totalmente díspares sobre diferentes leitores. Podem exaltar ou insultar; seduzir ou enojar; estimular a virtude ou a barbárie; acentuar a sensibilidade ou anulá-la. De maneira verdadeiramente desconcertante, podem fazer as duas coisas praticamente ao mesmo tempo, em um impulso tão complexo, tão híbrido e tão rápido em sua alternância, que nenhuma hermenêutica, nenhuma psicologia podem predizer nem calcular a sua força.
“… Em uma Casa do Livro se esqueceu rapidamente que os livros não são um fato nem universal, nem inevitável. Que são inteiramente vulneráveis ao fim e à destruição. Que têm sua própria história, como todas as outras construções humanas, na qual começos implicam a possibilidade e a eventualidade de um encerramento.
“… A autoridade do texto escrito é evidente nos documentos teológicos, nos códigos jurídicos, nos tratados científicos, nos manuais técnicos; e, ainda que de maneira mais sutil, até mesmo autossubversivas, nas composições cômicas ou efêmeras; está mesmo assim presente em todos os textos de natureza contratual . O autor e seu leitor são ligados por uma promessa, de sentido. Na sua essência, a escrita normativa, prescritiva, para usar uma palavra que, pela riqueza de suas conotações e de seu significado mais profundo, solicitam uma atenção particular.
“… Os déspotas não amam e, a fortiori, não lançam desafios, nem aceitam contestações. Tampouco os livros. É ao escrever outro texto que nos esforçamos a questionar, Tar ou invalidar um texto. Daí a lógica inercial Dos comentários e do comentário aos comentários ao infinito, já previsto na sombria prevista do Eclesiastes, quando diz que a fabricação dos livros será sem fim o mal-estar de Freud diante da análise interminável é claramente talmúdico.
“… Sócrates e Jesus Não escreveram. Muito provavelmente o segundo era iletrado. As descobertas filosóficas, no caso do primeiro, as revelações de inspiração divina, no caso de Jesus, são orais. Nascem do cara cara, da oralidade metafórica da palavra falada.