PRÉ-LEITURA DO LIVRO “A DESOBEDIÊNCIA CIVIL”, DE HENRY DAVID THOREAU

O AUTOR

Henry David Thoreau era naturalista, filósofo e escritor norte-americano (1817-1862). Concluiu estudos em Harvard em 1837. Tinha amizade próxima e afinidades intelectuais com Ralph Waldo Emerson.

A PUBLICAÇÃO

O livro “A Desobediência Civil” foi lançado em 1849, nos Estados Unidos, em forma de ensaio. Organiza conferências do autor sobre o tema.

Este é seu livro mais popular, outro famoso  é “Walden”, relato da vida simples à beira de um lago, numa cabana que ele mesmo construiu.

CIRCUNSTÂNCIAS

Thoreau teve um atrito com um coletor de impostos e foi preso. Passou um dia na cadeia e foi solto quando alguém pagou por ele, à sua revelia. Ele recusava-se a pagar tributos a um governo que (além de aprovar a escravidão) usaria os recursos para uma campanha de guerra injusta contra o vizinho México. Essa experiência marcante foi comentada e justificada em palestras. Três anos depois viraram livro, inicialmente com o nome de A Resistência Civil ao Governo, depois A Desobediência Civil.

A IMPORTÂNCIA DO LIVRO

Thoreau considerava que os governos fazem leis e atuam com apoio na conveniência. E as pessoas devem agir com base na consciência. Ele acreditava que eram campos  diferentes, dizendo que se deve ser ‘Homem’, antes de súdito. E defendia a possibilidade de desobedecer ou revoltar-se sob certas circunstâncias e situações limite.

Suas ideias vão ganhar muita força com a resistência pacífica de Mahatma Ghandi, na Índia, nos anos 1930/40, e de Martin Luther King, nos EUA, nos anos 1950/60.

A desobediência civil é ato público, coletivo e sem violência.

O LIVRO

O ensaio se estrutura em dois grandes capítulos em pouco menos de 80 páginas, antecedidas e seguidas de textos analíticos  de estudiosos (na edição Amazon Kindle). Comenta-se que o autor teria sido justamente considerado um dos primeiros pacifistas e abolicionistas, um dos originais defensores das ideias libertárias e anarquistas.

Mais recomendado é que cada um faça seu próprio juízo, após atenta leitura de sua obra. As tendências e inclinações estão todas lá no texto, mas a argumentação, segundo seus críticos, seria quase circunstancial, não é suficientemente sólida, direta. Estaria restrita aos campos moral e filosófico. 

INSIGHTS

“… Penso que devemos ser homens em primeiro lugar, para só então sermos súditos. 

“… A única obrigação  que tenho o dever de assumir é a de fazer, a qualquer momento, o que penso que é o correto…

“… a maioria dos homens, portanto, serve ao Estado não exatamente como homens, mas como máquinas, com seus corpos. 

“… existem 999 defensores da virtude para cada virtuoso…

“… Quando o atrito acaba tomando conta da máquina, e a opressão e o roubo se tornam organizados, digo que devemos nos livrar dessa máquina….

“… Minha briga é com homens, não com pergaminhos… 

“… Num governo que prende injustamente qualquer um, o verdadeiro lugar de um homem justo é também a prisão. 

IDEIAS CENTRAIS

“…Todo homem reconhece o direito a se rebelar; isto é, o direito de negar lealdade e de resistir ao governo quando sua tirania ou sua ineficiência se tornam insuportáveis. 

“… ao contrário daqueles que se proclamam antigoverno, o que proponho de imediato não é que tenhamos governo nenhum, mas que tenhamos, sim, imediatamente, um governo melhor…

“… a razão prática  pela qual se permite que uma maioria governe, e assim permaneça por um longo período, não é porque essa maioria tenha maior probabilidade de fazer o que é certo, nem que isso pareça justo para a minoria, mas sim por ela ser fisicamente mais forte…

“… uma consequência comum e natural do respeito indevido pela lei é a visão de uma coluna de soldados, coronéis, capitães, recrutas, e os demais, marchando em admirável ordem, atravessando colinas e vales em direção à guerra, contra sua vontade e também contra seu bom senso e sua consciência…

“… Na maior parte dos casos não  existe qualquer livre exercício do juizo nem do senso moral; em vez disso, os homens se colocam no mesmo nível das árvores e da terra e das pedras; talvez se possa fabricar homens de madeira capazes de servir a esse mesmo propósito. Esses homens não merecem mais respeito do que um espantalho…

“… Apenas uma minoria, como os heróis, os patriotas, os mártires, os reformistas — no melhor sentido da palavra — e os ‘Homens’, serve ao Estado usando também sua consciência e, dessa forma, necessariamente resiste a ele na maior parte do tempo…

“… Meu principal objetivo neste mundo não é fazer dele um bom lugar para se viver, mas apenas viver nele, seja bom ou mau. Um homem não deve fazer tudo, e sim alguma coisa; mas só porque não se pode fazer tudo não precisa, necessariamente, fazer algo da maneira errada…

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.