Por que olhar para cima

Nestes tempos de pandemia me tornei assídua na Netflix e as redes sociais me trouxeram notícias de um filme novo: Não olhe para cima. Acabei de assisti-lo. É um filme que seria mais um de ação americano, com sua vontade de dominar o mundo e salvá-lo de todas as ameaças que aparecem. Seria comum se não tivesse tanta semelhança com os governos estadunidense e brasileiro, com seus negacionistas de plantão, os mandos e desmandos, a falta de planejamento, o descrédito na ciência, os interesses acima da boa política, o nepotismo, a ideologia de plantão…

Se assistimos ao filme e trocamos o cometa em rota de colisão pela pandemia da Covid-19 que nos persegue há quase dois anos teremos uma releitura muito próxima da realidade: aluna e professor, a princípio, não são acreditados como cientistas e após a notícia vazar são chamados pela presidenta americana para ajudarem na resolução do problema; a mulher cientista descobre o cometa que vai colidir com a Terra e todo o crédito é do cientista, homem que passa a ser o garoto propaganda do governo. Apenas o professor permanece com a presidenta, pois a cientista é tida como surtada quando tenta em um programa de televisão alertar a população do perigo iminente. Não entendi o porquê de se colocar uma mulher na presidência se ela seria tão péssima governante. Talvez as minhas análises feministas/femininas me deixem sempre com o pé atrás quando a mulher representa o pior, ainda mais contrariando a realidade que se enxerga o tempo todo no filme ficção.
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Pois bem, a presidenta é incompetente, dominada por empresários que financiaram a sua campanha e apesar de entender a gravidade da situação prefere os interesses financeiros que trariam benefícios para o seu país e para o seu grupo de apoiadores. A presidenta tem ainda um filho completamente ciente do seu poder enquanto filho, apesar de visível a sua limitação e o seu despreparo para exercer a função de chefe de gabinete. A ciência perde para o capital e o capital não consegue dar conta do trabalho. É um aviso? Clichê ou óbvio? O negacionismo da presidenta é prontamente apoiado por parte da população que só acredita no perigo quando o vê no céu de Washington D.C. As redes sociais dão conta de distrair a população que perde o foco, apesar das notícias alarmantes. Não se trata só do Brasil, mas de informações equivocadas, controle de mídias, população desinformada, guerra de ideologias, relações de poder e influência, dominação masculina, simbolismo em cada cena.

Desculpem os spoilers, mas eu queria conversar.

Adriana Soares Alcantara

Mestre e Doutoranda em Planejamento e Políticas Públicas da UECE Pesquisadora integrante do Grupo de Pesquisa da UECE na linha "Política faccionada e atuação dos partidos políticos em âmbito subnacional". Servidora do TRE e Integrante da Comissão de Participação Feminina CPFem

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Adriana Soares Alcantara

Mestre e Doutoranda em Planejamento e Políticas Públicas da UECE Pesquisadora integrante do Grupo de Pesquisa da UECE na linha "Política faccionada e atuação dos partidos políticos em âmbito subnacional". Servidora do TRE e Integrante da Comissão de Participação Feminina CPFem