Há pouco mais de dez dias, tive uma conversa em forma de palestra com mulheres empreendedoras, a convite da Penha Moura – Conselheira da BPW Fortaleza e 1a. Diretora Secretária Executiva da BPW (Business Professional Women) Brasil, organização com atuação em mais de 100 países, com foco em “agregar mulheres de negócios e profissionais, orientando e coordenando seu desenvolvimento pleno”.
O tema sugerido foi “Comunicação Assertiva para o Fortalecimento Feminino”. No contexto geral abordei a questão da comunicação e fiz referência ao modelo de Marshal Rosemberg, psicólogo clínico norte-americano, que nos anos 1960, trabalhou em escolas para facilitar a implantação da nova lei de direitos civis, que buscava o fim do preconceito e da violência social. Quando as escolas foram obrigadas a receber também os negros, havia uma tensão alta e perigosa. O trabalho dele era promover o relacionamento saudável e produtivo através da comunicação. Em 2003 ele lança o livro “Comunicação Não Violenta”, que chega ao Brasil em 2006. Virou um clássico — é didático, acessível e tem rigor científico. Bom de ler, além de útil e necessário.
O livro expõe um modelo de comunicação de quatro pontos: observação, sentimento, necessidade e pedido. Simples assim.
Ele explica como palavras “podem ser janelas ou paredes” e fundamenta o modelo no conceito de empatia. Empatia é a capacidade de sintonizar com o outro, ser capaz de observar e entender o outro, talvez até sentir o que ele sente.
Por que é tão importante a comunicação? Porque é com o outro que vivemos, é com o outro que nós realizamos e nos realizamos, é na relação com o outro que nos conhecemos e nos definimos…e quase tudo isso se faz através da comunicação. Via palavras, olhares, sorrisos, atitudes, gestos, iniciativas, presença…
No relacionamento com o outro, há as pessoas mais relevantes e os momentos mais marcantes. Família e colegas de trabalho, no sentido amplo, importam especialmente.
O relacionamento saudável depende centralmente da habilidade de comunicação. E essa habilidade não é inata, ou seja, ninguém nasce com ela, e mesmo que alguns tenham mais vocação e facilidade, convém a todos dedicar atenção ao tema, investir nele.
Claro que muito da comunicação é individual, tem a ver com o jeito, o estilo e a história de cada um, é isso que faz da questão algo marcadamente pessoal. Entretanto, alguma técnica, abordagem científica e orientação podem ser úteis e/ou necessárias.
Depois do evento, recebi de algumas participantes a demanda de voltar ao assunto.
A demanda era simples: volte a falar do assunto, repita, insista, faça uma campanha pela CNV. Faça as pessoas entenderem a dimensão estratégica da comunicação entre pessoas comuns, mesmo nas situações mais banais, no cotidiano da família, entre colegas, sempre.
É o que faço agora, usando trechos selecionados diretamente do livro que ensina a Comunicação Não Violenta (CNV), cuja compreensão dispensa que você seja um profissional da área.
Leia e releia a explicação do próprio Rosemberg para os quatro pontos do seu modelo.
“O primeiro componente da CNV acarreta necessariamente que se separe observação de avaliação. Quando combinamos observações com avaliações, os outros tendem a receber isso como crítica e resistir ao que dizemos. A CNV é uma linguagem dinâmica que desestimula generalizações estáticas. Em vez disso, as observações devem ser feitas de modo específico, para um tempo e um contexto determinado. Por exemplo: “Zequinha não marcou nenhum gol em vinte partidas”, em vez de “Zequinha é um péssimo jogador de futebol”.
“O segundo componente necessário para nos expressarmos são os sentimentos. Desenvolver um vocabulário de sentimentos que nos permita nomear ou identificar de forma clara e específica nossas emoções nos conecta mais facilmente uns com os outros. Ao nos permitirmos ser vulneráveis por expressarmos nossos sentimentos, ajudamos a resolver conflitos. A CNV distingue a expressão de sentimentos verdadeiros de palavras e afirmações que descrevem pensamentos, avaliações e interpretações.”
“O terceiro componente da CNV é o reconhecimento das necessidades que estão por trás de nossos sentimentos. O que os outros dizem e fazem pode ser o ‘estímulo’, mas nunca a causa de nossos sentimentos. Quando alguém se comunica de forma negativa, temos quatro opções de como receber essa mensagem: – culpar a nós mesmos; – culpar os outros; – perceber nossos próprios sentimentos e necessidades; – perceber os sentimentos e necessidades escondidos por trás da mensagem negativa de outra pessoa. Julgamentos, críticas, diagnósticos e interpretações dos outros são todos expressões alienadas de nossas próprias necessidades e sentimentos.”
“O quarto componente da CNV aborda a questão “do que gostaríamos de pedir uns aos outros para enriquecer nossa vida”. Tentamos evitar frases vagas, abstratas ou ambíguas, e nos lembramos de usar uma linguagem de ações positivas, ao declararmos o que ‘estamos’ pedindo, em vez de o que ‘não estamos pedindo’. Quando falamos, quanto mais claro formos a respeito do que desejamos obter como retorno, mais provável será que o consigamos.”
Usando essa técnica e esse modelo, em 2002, o autor agiu como consultor e facilitador na Venezuela, para, através da CNV, evitar uma guerra civil.
Nós, também podemos evitar guerras e guerrilhas no nosso cotidiano, nas nossas famílias e nas nossas empresas.