PEQUENA PÁGINA SOBRE O DECOLONIALISMO

Creio que ainda há muita dúvida sobre o que é ser decolonial, afinal, as pessoas rezam para um deus branco, macho e europeu, colocado na condição de salvador por um grupo de religiosos ligados à dominação de um monarca, que exigiu sacrifício dos pobres e as facilidades de “salvação” para os ricos, que recebem todo tipo de indulgência, basta que ajudem nas “obras” das igrejas.

Do ponto de vista político e ideológico, a estrutura colonial impõe pela dominação a língua, a cultura, a religião e a verdade conceitual que subjuga e produz o extermínio. Talvez seja preciso revelar a história dos oprimidos, dos excluídos e de todos os que silenciaram e ficaram com as sobras, enquanto os vencedores, à custa de muita exploração e crueldade, escreveram a História que conhecemos e ficaram com os bens que foram pilhados dos povos. É preciso mostrar a trajetória que alimenta a vida dos resistentes, como resposta às inquietações dos que buscam um caminho alternativo à verdade imposta pelos colonizadores.

Crítica da razão mestiça, livro que consolida a trajetória de reconhecimento de uma identidade sufocada é um mergulho na cultura brasileira, revelando o processo de dominação presente desde a Carta de Caminha, que se estendeu como conceito durante o processo colonial e chegou até hoje, quando os decoloniais tupiniquins ainda não entenderam o que é ser de periferia, excluído e carregando as marcas da hibridização como uma chaga visível na mistura racial, étnica e cultural.

Conheço muitos equivocados neste processo de desconstrução: feminista que é tão autoritária quanto o sistema nos oprime, antirracista que é tão soberbo quanto o chicote que nos açoita. E o que dizer de intelectuais subnutridos que se apegam aos seus tutores, colonizados que colonizam a partir das regiões mais ricas do Brasil, que fazem claque para dominarem os apegados às estruturas engessadas de uma formação imposta?!

Muitos de nós somos herdeiros de uma estrutura familiar patriarcal, cristã e de lugares definidos. Alguns são bons de discurso e apanham e/ou batem na/o companheira/o em casa. Alguns são igualitários, mas não passam de postadores de exemplos com frases feitas nas redes sociais para definirem suas ideologias. Há um conhecimento milenar que é preciso ser aprendido, duvidado e superado, quando não servir ao nosso modo de vida. Mas isso só pode ser feito se a mente não for enturvada pela dominação mais massiva, a dominação interior. Quem quiser debater decolonialismo deveria, antes, procurar revelar suas experiências de vida, suas vivências em situações que exigem reação e tomada de posição. A maioria de nós tem discurso, mas não tem prática nem vivência nem liberdade de ser e agir. Corre-se todo tipo de risco com a liberdade, inclusive a de não ser aceito pelos seus possíveis parceiros.

Sigamos. Temos muito a desconstruir. A dependência é uma doença que pode ser curada pela ousadia do conhecimento. É caro, é espinhoso, traz desilusões, mas é muito gratificante ser livre e estar ao lado dos que lutam sem medo das barreiras e dogmas. Há-Braços. Abracemo-nos!!!

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