Uma lástima que desde a NEP – Nova Política Econômica – que admitiu concessões de práticas burguesas como forma de adaptação inicial à implementação do capitalismo de Estado posterior, pós-revolucionária e proposta por Lenin, tenha provocado a continuidade de relações mercantis cada vez mais praticadas depois de sua morte precoce.
No Brasil, portanto, não poderia ser diferente, fato que denuncia o caráter antidemocrático da democracia (tomando-se por termo o significado semântico que a palavra adquiriu sub-repticiamente). É por isso, entre outras razões, que nego meu voto, como protesto, e sem medo de ser feliz, e sem medo da direita.
As eleições Parlamentares brasileiras de 2022 aprofundaram a tradicional predominância elitista de classes sociais no parlamento, e isto tem se transformado num tormento dentro do quadro de dificuldades de depressão capitalista mundo afora ao qual o Brasil não pode ficar imune, obviamente.
Como se vê, há uma hegemonia de poder conservador elitista configurado nas 326 cadeiras de partidos de direita, que equivalem a 63,5%; 61 partidos de centro, que equivalem a 11,8%, e 126 partidos de esquerda, que equivalem a 24,5% do total de cadeiras.
Aí está a razão pela qual no Brasil a direita, ao perder o controle do executivo, tenta reforçar o poder político do parlamento como forma de submeter as verbas orçamentárias discricionárias ao seu controle. Assim, o Congresso Nacional concede a ele mesmo o poder de derrubar decisões do Supremo Tribunal Federal, ou seja, de eliminar do Poder Judiciário qualquer análise de descumprimento constitucional pelo parlamento.
O capitalismo é isso, a autotélica lógica de apropriação indébita da riqueza abstrata socialmente produzida (e que remunera seus agentes mais proeminentes, o grande empresariado) no seu desiderato de acumulação ad infinitum. Ora, se é assim, como poderia o parlamento ter natureza diferente da que tem, se sua função precípua é a elaboração de leis voltadas para a regulamentação e manutenção desse modo de relação social enquanto instituição do Estado burguês???
Uma vez investido como parte da casa, não podem denunciar o caráter parlamentar, porque se assim o fizessem estariam ofendendo o famoso “decoro parlamentar de salão” e, também, porque não se pode denunciar a prostituição dentro de um prostíbulo, se me permitem o exagero. Além do mais, os salários e verbas partidárias sustentam muita gente que por dependência econômica beija a mão de quem segura o chicote.
A luta política dentro da imanência capitalista sempre naufraga no vazio da sua inconsistência.
Abaixo a casa das elites!