Aos seus exigentes olhos, pode até parecer que não tenho pernas…
Mas nada me impede de correr até você e contagiá-lo com a minha alegria, com a minha felicidade, em um generoso e afetuoso abraço.
Aos seus insensatos olhos, pode até parecer que não tenho braços…
Mas nada me impede de acolhê-lo no colo, de acomodá-lo em meu regaço amigo e fazer com que sua frágil alma se deleite com carícias nunca sequer por você sonhadas.
Aos seus incrédulos olhos, pode até parecer que nada vejo…
Mas nada me impede de sentir as descompassadas batidas do seu coração, simplesmente porque tenho epiderme tão sensível que consigo até perceber com que massa se reveste o seu espírito.
Pode até ser que eu não consiga alcançar o seu padrão de perfeição.
E isso é até justificável. Até porque eu não a desejo para mim.
Mas eu consigo, sim, num esforço sobre-humano, ultrapassar os limites da minha capacidade pessoal.
E vou mais além, sim. Até atingir o extremo da minha perfeição.
E isso, a rigor, é o que importa. Aliás, isso é o que me satisfaz.
Sei que sou normal! Desejo que você também o seja!
Um beijo amigo em seu saudável coração!
E que ele continue batendo tranquilo, assim como o meu!
Agora, por favor, jamais esqueça:
O SOL BRILHA PARA TODOS NÓS!!!
Post Scriptum:
Ayla Paula: Foi lindo, uma emoção sem tamanho. E aquele obstáculo – a escadaria – se transformando em rampa foi algo indescritível!! Amo a criatividade brasileira, quando para o bem!
Vanda Maria Bessa: Lindo texto, amigo Luciano. Abraços.
Marta Moreira: Muito lindo e emocionante.
Marylia Costa: Que texto lindo, meu PAI!!!
Assim como fiz repetidas vezes durante o espetáculo de ontem, chorei novamente…
Não é choro de dor, de pena ou de qualquer sentimento pejorativo.
Meu choro é de GRATIDÃO.
Por estar viva!!!
E que, assim como vimos nos heróis paralímpicos, nunca nos faltem A FORÇA, O FOCO E A FÉ!!!
AMO você!!!
E você sabe…
Ayla Paula: Marylia, ontem, quando aqueles pais entraram levando a bandeira olímpica, com suas botas conduzindo suas crianças “andando”, o Rocha Neto dormia ao meu lado na cama. Nossa! Chorei e agradeci ao mesmo tempo que me senti egoísta. GRATIDÃO é a palavra!
Francisco Luciano Gonçalves Moreira: Marylia, filha minha, esse texto eu escrevi – acho até que o recebi de presente de alguma divindade que sempre me inspira – entre o momento da dança do casal de deficientes visuais e o instante em que a bailarina de pernas mecânicas encanta um robô que se curva à sua beleza e desenvoltura. Como é possível ver, trata-se de mensagem construída com a mais profunda das emoções. Eu sou do tempo em que a primeira preocupação dos pais, tão logo um filho nascia, era averiguar minudentemente o corpo do rebento para certificar-se de que nada o maculava fisicamente.
Em O GUARDIÃO DE MEMÓRIAS, de Kim Edwards, o médico David Henry é quem, com a enfermeira Caroline Gill, faz o parto da esposa Norah, que dá à luz filhos gêmeos. O primeiro, Paul, nasce perfeitamente saudável. A segunda, Phoebe, apresenta sinais da síndrome de Down: “os traços inconfundíveis, os olhos repuxados como que numa risada, a prega epicântica entre as pálpebras, o nariz achatado”. Movido “por um impulso irrefreável e por dolorosas lembranças do passado”, o médico, esposo e pai “toma uma decisão que mudará para sempre a vida de todos e o assombrará até a morte: ele pede que sua enfermeira […] entregue a criança para adoção e diz à esposa que a menina não sobreviveu”.
A vida me ensinou que as piores deficiências humanas, aquelas que mais estragos causam, não são de natureza física, mas psíquica; não se alojam no corpo, mas se escondem na alma.
Carlos César Silva Silveira: Obrigado, mano querido. Mas desculpa a pretensão porque esse emocionante e inspirado texto foi feito para mim, ok? Sei que muitos o querem, porém já me apropriei dele.
Francisco Luciano Gonçalves Moreira: É com imenso prazer que ora formalizo a doação. Costumo dizer que texto é como filho: tenho a certeza de que o produzi; amo-o completamente, até porque carrega muito de mim nas suas entranhas; mas, quando cria asas e se vai, ao mundo pertence. Cuide bem dele. Um abraço fraterno, mano querido.