Os Reis do Verão: E as bordas da juventude pelos limites da liberdade

A juventude e toda a gama de questões que ela suscita há muito estão representadas no cinema. Do início do século XX, passando pelas adaptações dos contos da literatura contemporânea até os trabalhos dos anos 1960 (A Última Sessão de Cinema) e 1990 (Conta Comigo), essa fase foi escrita sobre variadas perspectivas. Chegando na segunda década dos anos 2000, o espírito juvenil seguiu forte na tela. Premissa essa que observamos no primeiro trabalho em longa-metragem de Jordan Vogt-Roberts e seu distinto “Os Reis do Verão” (The Kings of Summer – 2013).

O filme parte de um argumento simples. Cansados da rotina sufocante a que se submetiam em suas casas, Joe (Nick Robinson), Patrick (Gabriel Basso) e Biaggio (Moises Arias) constroem uma casa numa floresta e lá decidem viver de maneira totalmente independente. A vida fora da cidade e longe da família, no entanto, os mostrarão que a liberdade pode ser, não necessariamente uma fuga, mas sim uma experiência rumo ao amadurecimento de suas pessoas.

Esse amadurecer é, portanto, uma das bases que conduzem a estória do longa. Sua estrutura se cristaliza através da progressão a qual cada uma das personagens estão condicionadas. A escolha de Vogt-Roberts nos diz muito de um projeto que se ancora em tudo o que seus caracteres têm de mais potentes. E apesar de se tratar de uma comédia que explora o universo de adolescentes que estão no limiar de suas vidas, The Kings of Summer abre mão de qualquer estereotipia no trato desse cinema de gênero.

Atuar nesse campo da cinematografia exige do realizador, entre outros pontos, montar um elenco no qual ele possa confiar o enredo proposto e trabalhar numa dinâmica balanceada em doses homeopáticas e equivalentes de desapego e técnica. Esta, relacionada à estrutura fílmica; Aquela, ligada ao trato da ideia enquanto concepção de um fazer artístico.

Em se tratando de estrutura, nosso longa mergulha na atmosfera da cultura pop e a partir dela se metamorfoseia. Por essa mesma razão que não estamos diante de um projeto naturalista. Aqui, há espaço para a performance, a concepção do flasgback em conjunção com a narrativa não-linear, assim como a linguagem do videoclipe e os promissores pontos de fuga que o cinema independente sempre se valeu e ainda hoje se vale. As escolhas que o filme aponta podem parecer excessivas. Mas não o são.

Porque é nessa profusão conceitual que o filme se consolida. Inclusive em termos de metragem. Uma vez que os 90 minutos que o constitui se tornam suficientes para a apresentação da estória em curso. Os garotos entram na floresta com uma visão sobre o mundo e chegam ao final da aventura – assim como nós mesmos enquanto espectadores – maiores do que lá entraram. (Clique na imagem abaixo para ampliar).

The-Kings-of-Summer-Trailer-1-960x540A liberdade se torna algo que transcende a aura conceitual do trabalho. Esse sopro libertário não obstante é o que assegura o êxito da empreitada fílmica. E a marca de Vogt-Roberts se inscreve na tela por meio de tudo o que é argumento e interpretação. Em seu papel, o ator interpreta, nos faz rir a partir do texto. Mas a maneira como a dramaturgia é montada não emerge da comédia besteirol, ela flerta com esta por seu caráter despojado, mas seu compromisso é com uma mensagem que guia a obra.

Essa mensagem é o que assegura a distinção de The Kings of Summer. Um projeto que se torna original devido ao traço da autoria que o encerra. Já que cada take desse filme o assegura como um belíssimo exercício fílmico cuja existência certamente se colocará como modelo de realização no gênero. Não de imediato, mas com a gradativa força que grandes filmes se ramificam na história do cinema. Onde as bordas da juventude pelos limites da liberdade resultam numa equação que tem como produto a maturidade da vivência humana em consonância com as experiências a ela destinada.

FICHA TÉCNICA
Título Original: The kings of Summer

Gênero: Comédia, Aventura, Drama

Tempo de duração: 95 minutos

Ano de lançamento (EUA): 2013

Direção:   Jordan Vogt-Roberts

 

Daniel Araújo

Crítico de Cinema, Realizador Audiovisual, e Jornalista.

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Daniel Araújo

Crítico de Cinema, Realizador Audiovisual, e Jornalista.