OS NOVOS SABATINOS PAPOS DE CALÇADA

Nos idos e saudosos tempos, quando a violência urbana se restringia a práticas marginais ambientadas em zonas periféricas da metrópole, com avanços pontuais pelas áreas centrais e bairros tidos como nobres, eles, vizinhos de muitos anos, costumavam sentar-se na calçada de suas modestas casas, sempre nos sábados e fins de tarde – que, como diz o letrista, caía feito um viaduto, recurvando-se com a trajetória do sol, crepuscular e gradualmente – e deleitavam-se em conversas que se alongavam pela noite adentro – a vida fluindo feito um aqueduto, líquida, espontânea –, atualizando dados de toda e qualquer ordem, por eles considerados significativos ou simplesmente convenientes, opinando sobre fatos de toda e qualquer natureza, em especial política, policial e esportiva, servidos pela imprensa, principalmente a televisiva, à apetência para o conhecimento de quem interessar pudesse, e, o que era bem mais gostoso, porquanto isso lhes propiciava momentos de descontração e até risos despretensiosos, falando da vida alheia, enquanto as respectivas mulheres, matronas dignas de todo o respeito, tricotavam os alinhavos de arremate de cada caso então trazido à baila, ao tear das coseduras de dramas vivenciados por personagens conhecidos mas necessariamente distantes.

Eram eles o Teodósio, professor universitário, mais conhecido como Teo, e o Gildevan, servidor público estadual, eletricista de profissão, mais conhecido como Gil, ambos sexagenários, já aposentados, com filhas e filhos bem encaminhados na vida e netos e netas que lhes enchiam a alma de júbilo e rejuvenescimento, ausentes ou presentes, bem mais cá do que lá.

Chegavam a jantar na calçada. Isso mesmo. Arrumavam – eles e as suas mulheres, naquilo que competia a cada um dos comensais –, ali na junção das duas calçadas, uma farta mesa improvisada, com opções fornecidas pelas respectivas cozinhas e com copos, pratos e talheres descartáveis. Era uma festa, inclusive com música ambiente, diretamente do Pioneer instalado no longevo e bem conservado Opala cinza claro do professor, quando ouviam as vozes marcantes e inconfundíveis de Altemar Dutra (Que queres tu de mim? / Que fazes junto a mim? / Se tudo está perdido, amor), Moacir Franco (Tua ilusão entra em campo num estádio vazio / Uma torcida de sonhos aplaude talvez), Demônios da Garoa (De tanto levar / Frechada do teu olhar / Meu peito até / Parece sabe o quê? / Tauba de tiro ao Álvaro), Noite Ilustrada (Eu daria tudo o que tivesse / Pra voltar aos tempos de criança), Chico Buarque (De que me vale ser filho da santa /Melhor seria ser filho da outra / Outra realidade menos morta / Tanta mentira, tanta força bruta), Elza Soares (Ai, mulata assanhada / Que passa com graça / Fazendo pirraça), Elis Regina (A tarde caía feito um viaduto / E um bêbado trajando luto / Me lembrou Carlitos), entre outros consagrados protagonistas da versada e versátil Música Popular Brasileira. Música mesmo! Prazerosa de se ouvir! Letra e poesia em plenas núpcias! Teo curtia uma cervejinha bem gelada, então acomodava o isopor bem próximo de sua aconchegante espreguiçadeira e servia-se com parcimônia e naturalidade. Gil nutria uma paixão inexplicável, porque só se manifestava nos fins de semana, por modestas doses – um dedinho no fundo do copo – de aguardente branca, regionalmente bem qualificada, mantendo o litro ao rés do chão e com o copinho de vidro e fundo grosso emborcado no gargalo da garrafa, à mão obviamente, perto da cadeira de braços em que sempre se acomodava. Cada dose era um gole só. Nada de arrepios ou mogangas. Nem exageros.

Com o vertiginoso alastramento da violência urbana – como furiosas águas vazadas em arrombamento de açude em vigoroso inverno –, o avanço da marginalidade para além das fronteiras que antes a continham, de certo modo, nas periferias das grandes urbes, a maior diversidade do modus operandi de quem não nutre o menor respeito pelo patrimônio e pela vida do outro e o consequente redimensionamento do temor que invariavelmente provoca o cerceamento da liberdade do cidadão comum, dos homens e mulheres de bem e de bens, o costume dos sabatinos papos de calçada foi duramente afetado; e os vizinhos, Gil e Teo, suspenderam, em homenagem à vida e por tempo indeterminado, a tão agradável prática e se recolheram no interior de suas modestas moradias, sob a proteção de fornidas grades de ferro nas janelas e portas frontais. Logo se adaptaram a esse novo tipo de relacionamento humano, restrito a cumprimentos quase formais em encontros fortuitos, eventuais, infrequentes.

Com o advento do novo coronavírus e a consequente e paulatina instauração no seio da desditosa e perplexa humanidade, dois fenômenos, distintos na essência embora idênticos na origem, vivenciaram os dois casais amigos e vizinhos. Num primeiro momento, o recomendável isolamento em casa, mediante o imperioso distanciamento das pessoas, devido à impositiva restrição da dinâmica social visando a reduzir a propagação do vírus ágil e letal, não lhes causou graves transtornos, não exigiu deles grandes sacrifícios, porquanto já levavam, de certa forma, uma vida de quase reclusão. Havia, sim, alguns contratempos, mas nada que lhes impingisse maiores consequências, severos desafios. Num segundo momento, tão logo perceberam, pelo que liam e ouviam nos jornais impressos e televisivos, o arrefecimento da marginalidade, lembrando Raul Seixas (E o ladrão não saiu para roubar / Pois sabia que não ia ter onde gastar) e a sua atualíssima O dia em que a Terra parou, com as ruas vazias de gente e de emoções, pálidas e frias, desprovidas de vida, eles decidiram retomar, com ajustes e adaptações às novas regras de comportamento social em tempos de pandemia, os já saudosos papos de calçada sabatinos. E, embora sem abraços, jantar, cerveja, aguardente e música, mas com máscara, álcool em gel e segura distância entre eles, as conversas fluíam naturalmente, até que o céu se encobria de nuvens carregadas, explodindo em relâmpagos e trovões, e, antes que o aguaceiro desabasse sobre suas cabeças de alvas cãs, Leo e Gil, bem como as suas digníssimas consortes, dona Sirleide, também professora aposentada, e dona Oscarina, cozinheira de mancheia e prendada em artes manuais – costura, bordado, renda, tricô, crochê –, despediam-se e se protegiam no prazenteiro aconchego dos seus respetivos lares.

 

E eu, na condição de eterno aprendiz em tudo que faço, de cronista principiante, perspicaz e intrometido – E enxerido! no dizer da tricoteira –, consegui recolher alguns trechos dessas interessantes conversas, dos quais ora lhes dou ciência, prescientes leitoras e leitores.

 

Em um desses sábados recentes.

– Professor, desculpe-me a ignorância, mas me esclareça uma dúvida. Se o pestilento é o novo coronavírus, porque dizem a Covid-19? – É o eletricista quem indaga, enfatizando os artigos definidos “o” e “a”.

– É assim que a gente tem ouvido na televisão… – Complementa a mulher dele, dona Oscarina.

– Não é porque se refere à doença, Teo?! – Antecipa-se a professora Sirleide.

– É isso, querida! – E, com ar professoral e sem arrogância, o mestre leciona, como se estivesse em sala de aula. – Covid-19 é o nome abreviado da doença causada pelo vírus, cuja manifestação foi cientificamente identificada no final do ano passado, portanto o 19, e denominada Corona Vírus Disease, ou seja, Doença do Coronavírus. Daí dizer-se a Covid. Assim como se diz a Aids, de síndrome. É assim que a gente ouve na televisão, é verdade. Permitam-me uma divagação. Isso me remete a um fenômeno sociolinguístico, de língua em uso, bem atual. Vejam bem. O televisor é o aparelho receptor, o que compramos em loja de eletrodomésticos, pomos num lugar estratégico em nossa casa e por ele nutrimos uma certa idolatria; a televisão é a emissora que produz e nos envia as imagens que tanto nos atraem, nos embevecem, nos entretêm. Só que o uso diverso desses termos, pela recorrência está pondo em extinção o vocábulo televisor e dando ao aparelho receptor o mesmo rótulo antes atribuído tão somente à emissora. A minha televisão – é como todos nós hoje nos referimos ao televisor. Como a língua é dinâmica – expande-se, retrai-se, atualiza-se, viceja, vive – e se nutre do uso pelo homem, quem a molda, e até a maltrata, é o seu usuário natural, não há como interromper este processo. Perdoe-me, Gil, se me alonguei na resposta, se fugi ao que seria do seu interesse.

– Nada, professor. Quanto à televisão, eu já havia percebido isso… essa confusão entre o aparelho e a emissora. E com o rádio…?

– Com o rádio não há registros que sugiram fenômeno idêntico. O rádio continua sendo o receptor e a rádio, a emissora.

– Teo, acerca ainda da pandemia, é certo que depois dela nós não seremos mais os mesmos, muito menos habitaremos o mesmo mundo ou levaremos a vida da mesma forma. – É a professora Sirleide quem manifesta tal sentimento em relação ao porvir da humanidade. – Isso me causa uma preocupação tão intensa que quase chega a ser perturbadora. O que você pensa sobre isso?

– Pelo que eu tenho lido a respeito, Sir, a ciência sairá fortalecida desta crise global, mais crucial que a que se instaura em tempos de guerra, por ser invisível e ainda indecifrável o inimigo que deve ser vencido. Não se trata, a rigor e até prova em contrário, de luta por eventuais ganhos, mas por evitar sensíveis perdas. De todos os envolvidos. As armas são outras. As estratégias também são outras. Passada a tempestade, o ser humano terá de se repensar. Não haverá lugar para o mesmo. O ser humano terá de se reinventar, de se recolocar no seu espaço vital. Fala-se de uma solidariedade global, em que todas as nações, independentemente da posição que ocupem no ranking do poder econômico, se obrigarão a compartilhar informações, descobertas, conhecimentos. Se assim não acontecer, o redesenho do mundo pós-vírus poderá levar a humanidade a isolamentos regionais de consequências desastrosas, incluindo a extinção. O monitoramento das pessoas ganhará status de política pública de interesse mundial. Ferramentas tecnológicas de alto desempenho irão invadir as nossas intimidades. O risco de uma nova pandemia, por erro ou falha em avançadas pesquisas em laboratório ou, o que é pior, por atitudes terroristas de quem adora ver o circo pegar fogo, exigirá dos governos, de todos os governos, o controle rigoroso da saúde, principalmente, de seus concidadãos. Chips subcutâneos ou braceletes ou capacetes se aliarão a microcâmeras e a outros artefatos com alma de algoritmos na luta pela prevenção que evitaria a repetição da grave crise que ora nos atinge a todos, de custo social e econômico elevadíssimo. Penso que, se Saramago ainda estivesse no meio de nós, logo publicaria mais um de seus ensaios, agora sobre a guerra biológica. A biologia e a tecnologia, parceiras ou adversárias?! Amigos, esta máscara, a cujo uso devo adaptar-me, simboliza, para mim, o marco zero de uma nova era que certamente nos imporá a aproximação da robotização.

Silêncio.

 

Em outro sábado ainda mais recente.

– Alguém aqui desconfiava que o Mandetta não cairia? – Quem indaga é o professor, que complementa: – Porque eu não.

– Claro está, Teo, que nessa ruptura, desfecho de uma crônica política que vinha sendo costurado a cada dia, há um misto de ciúme e inveja. A inveja de quem não dispõe da mesma loquacidade, da mesma eloquência, do discurso que não só esclarece, mas também convence. E o ciúme de quem teme perder o que ora mais estima – o poder. Parece criança birrenta que briga com os coleguinhas na inocente defesa de um brinquedinho qualquer. Será que Freud explica?

– Concordo com a senhora, dona Sirleide. Esse tratamento de confrontação, o presidente já vem dispensando a alguns outros que surgem como potenciais adversários na luta pela tão sonhada reeleição. Assim com o Luciano Huck, quando chegou até a ameaçar a poderosa Rede Globo, com o Jorge Dória, com o Wilson Witzel…

– Gil, amigo, não nos esqueçamos de Moro. Há quem sustente que o convite para compor o ministério já trazia o propósito de, com a aproximação, cortar-lhe as asinhas, impor-lhe um rigoroso controle e, aos poucos, arrefecer-lhe o ânimo, fazê-lo acordar do sonho impossível. E o Moro seria assim um Sísifo modernoso.

– Sísifo, professor? – Quem faz a indagação, com ar de espanto, é a prendada costureira.

– Dona Oscarina, Sísifo é um personagem da mitologia grega, condenado a rolar incessantemente uma rocha até o cume de uma montanha, de onde a pedra se precipitava por seu próprio peso. Simboliza a terrível punição imposta ao presunçoso, mediante o trabalho inútil e sem perspectiva.

– Amigos, a gente tem visto e ouvido coisas estarrecedoras. Desde a construção de um herói popularesco que superestima as manifestações de seus apoiadores, que ameaça com o poder de sua caneta Bic azul os que não seguem o seu manual de conduta e que se propõe a expor a própria vida a todos os riscos, até o da contaminação pelo vírus, com o único propósito de impor a sua vontade, até a demonstração do pânico das pessoas ante o medo da morte que lhe sorri tão próxima. Vejam bem. Uma médica paulista contou, em reportagem jornalística, que uma idosa, sua paciente, rogou-lhe que a ajudasse a adquirir um respirador mecânico, dizendo-se disposta a investir nisso até a quantia de cinquenta mil reais. Foi por ela demovida da ideia, com o aconselhamento de que se mantivesse em quarentena, seguindo rigorosamente o tratamento que lhe indicara e, certamente, o risco de contrair a Covid-19 tenderia a zero. – E Gil arremata com uma pergunta. – Será que ela saberia entubar-se na hora em que isso se tornasse indispensável à manutenção de sua tão preciosa vida?

– Certamente, não! – Eis o alinhavo de quem habilmente faz dançar os bilros que lhe oferecem a renda.

– Olha, eu acho que falta a ele a compreensão de que, eleito por mais de cinquenta milhões de brasileiros, tornou-se presidente de uma Nação continental, com mais de duzentos milhões de habitantes. – E dona Sirleide, com o olhar elevado para o céu enegrecido, desprovido de luz estelar, parece pensar em voz alta. – Ele não tem noção da grandiosa responsabilidade que lhe foi confiada. Os destinos de um povo trabalhador, honesto e sofrido. Carente de um verdadeiro líder.

– Pois bem, amigos. O presidente, em arroubos de deidade toda poderosa, perdeu a oportunidade de montar o cavalo selado que passou à sua frente. Bastava ter assumido o papel de coordenador de todas as ações, nesta árdua luta contra o inimigo maior: o vírus ágil e letal. Teria até conseguido o que sempre quis, sem se expor, sem exprimir a sua incompetência. Assim não agiu. Deve pagar caro por isso. Quem sobreviver…

 

E, enfim, no último sábado.

– E o magistrado curitibano, que um dia, lá atrás, sonhara com os píncaros da glória, com a bênção das urnas digitais, com a tão desejada delegação de poder que emana do povo, rendeu-se às pressões do inimigo com quem convivia como se amigos fossem. Será, professor, que o Moro morreu abraçado com o seu sonho impossível?

– Caro amigo, Gil. A bomba explodiu em briga de cachorro grande. Ambos têm razão, cada um de per si. Ambos perdem alguma coisa, ao final da refrega. E o Brasil se aproxima de mais um processo de ruptura democrática, de impeachment. Basta que reste provada a ilegítima intervenção, obviamente por interesse pessoal, do presidente na Polícia Federal.

– Me explica uma coisa, Teo.

– Pois não, Sir.

– O que faz ser ilegítima essa alegada intervenção?

– O fato de ser a PF um órgão investigativo, uma polícia judiciária. A Constituição Federal veda qualquer interferência política nas investigações confiadas à PF. Até porque elas podem envolver deputados, senadores, ou seja, altas personalidades republicanas.

– Gil!

– Diga, Carina, amor meu!

– Ontem, no jantar, você fez um comentário sobre a fala do presidente que achei interessante, sabia? Você pode repetir…

– Sim. Com prazer. É sobre ele ter dito, desqualificando o argumento do Moro de que teria recebido carta branca para agir, que “autonomia não significa soberania”.

– No jargão popular, meu caro Gil, Sir, dona Carina, equivale a “eu lhe dou a mão e você quer o braço todo”. Ou seja, ir além do que devia e podia.

– Isso mesmo, professor. Só que a soberania exercida com excessos resvala para a tirania.

– Eu fico aqui matutando com as contas do meu terço. E logo me lembro da “mosca azul” do Frei Beto. É como se uma mosca inoculasse no homem, tão logo ele assume o poder, a convicção, a certeza de que tudo pode. A ideia do Chefe Supremo que opera, soberano, onisciente e onipresente, sobre tudo e sobre todos. No seu discurso de defesa, contra as acusações de seu ex-ministro, o presidente deu uma demonstração clara de não saber ser líder. O líder não ameaça; o líder convence, conquista. O líder não manda; o líder se impõe, comanda. O líder não arrota poder; o líder exerce o poder. Aqui, eu me calo, amigos.

– Muito bem, Sir. Você disse muito bem o que todos nós sentimos. – E Teo obteve de Gil e de Oscarina a aprovação com um simples movimento de cabeça. Então, voltou o olhar crítico para onde eu me escondera e me interpelou. – Ei, você aí. Vai permanecer calado, só ouvidos, ou vai dizer alguma coisa?

– Professor, amigos, mil perdões pela intromissão. Sou cronista e, como tal, não posso perder uma oportunidade dessas. Faz parte do meu ofício, me entendam, por favor!

E dona Oscarina resmungou à meia voz:

– Enxerido!

Fiz de conta que nada ouvira e prossegui:

– Permitam-me sugerir que vocês acessem a minha página no Facebook e conheçam a postagem que fiz no dia do confronto Messias versus Moro. Apenas isso, obrigado!

Antes de desaparecer, eu os vi entretidos com o que liam na tela de seus celulares. Exatamente isto:

“Há poucos dias, o Alcolumbre, presidente do Senado, afirmou que o governo Bolsonaro teria acabado. Obviamente isso não equivalia a dizer que o Messias iria despedir-se da presidência da República, ele que já sinaliza o desejo de ser reeleito. O poder é apaixonante. Ocorre que: o rebaixamento do Lorenzoni, o coordenador dos trabalhos de transição e braço direito do eleito, para um segundo plano; o namoro, com casamento já bem encaminhado, com lideranças do Centrão, o que faz ressurgir a famigerada política do toma-lá-dá-cá; o aceno para a recriação do Ministério do Planejamento, pasta que seria desmembrada do super Ministério da Economia; a sinalização de recriação do Ministério do Trabalho, apenas para atender condição imposta pelo Roberto Jéferson (lembram-se dele?); a defenestração do Mandetta, em plena pandemia, situação crucial para toda a equipe da Saúde, e a consequente substituição por empresário (ex-médico) que integrou a equipe da vitoriosa campanha eleitoral; a exoneração do Diretor Geral da Polícia Federal assentada em práticas que podem, inclusive, ser tipificadas como à margem da Lei; a renúncia de Moro, com discurso que mesclou despedida, frustração e denúncias; a fritura do Guedes, o todo-poderoso da Economia, também conhecido popularmente como “Posto Ipiranga”; tudo isso sugere, ao menos isso, que o governo inaugurado com dois super ministros, com a bandeira de combate à corrupção e ao crime organizado e com um corajoso projeto de recuperação da economia vai aos poucos se esfarelando, se desmiliguindo, já não mantém o mesmo rosto, a alma já se entregando aos oportunistas de plantão. Não se sabe o que vai resultar de tudo isso. Quem sobreviver… Há um cheiro ruim no ar, advindo do centro do poder. E não é de cadáveres insepultos, vítimas da Covid-19.”

“[Os digitais] Alimentam expectativas positivas quanto à sorte futura do planeta e estão convictos de que a tecnologia, aliada à inteligência e à criatividade, vencerá os instintos autodestrutivos da humanidade.” (Domenico de Mais, em O ócio criativo. Rio de Janeiro: Sextante, 2000).

Francisco Luciano Gonçalves Moreira (Xykolu)

Graduado em Letras, ex-professor, servidor público federal aposentado.