Admitindo-se a provável hipótese de que mantenha-se o atual chefe do poder executivo até dezembro de 2018 e que também não sejam afastados de seus cargos os presidentes do Senado e da Câmara, é possível imaginar o quadro de eventos que vai definir o Brasil dos próximos muitos anos, já que a esquerda não poderá, sob qualquer pretexto, disputar normalmente e ganhar as eleições presidenciais.
Ressalvando que os economistas não conseguem sequer prever o passado, eis um desenho do médio prazo. Depois da Lei do Teto que congela os gastos sociais e administrativos por 20 anos e passada a dita Reforma Trabalhista (negociado vale mais que legislado, favorecendo o empregador), inevitável que se aprove a Reforma da Previdência (que só ataca o problema por baixo, ou seja, não enfrenta nem resolve nenhum problema). Haverá, então, uma temporada de discursos e até debates sobre outras reformas (política, tributária etc), mas nada acontecerá de relevante.
Relevantes serão as mudanças silenciosas.
Concretamente, vão acontecer os muitos negócios e as decisivas transações de alto valor financeiro e estratégico que complementam as 3 mudanças ditas acima. Para começar, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES, terá seu sangue totalmente drenado, seu oxigênio será retirado (de uma só vez, ano passado, retiraram-lhe 100 bilhões de reais). Em paralelo, Banco do Brasil e Caixa Econômica deverão ser privatizados ou manietados e entregues a ‘gestões de profissionais do mercado’. Essas mudanças, junto com a mudança na Previdência pública, completam o conjunto de mudanças que interessam e atendem aos interesses dos banqueiros privados.
Quem conhece um pouco da história empresarial privada brasileira dos últimos sessenta anos, sabe que não há uma única média ou grande empresa (agrícola, industrial, comercial ou de serviços) que tenha nascido, crescido e sobrevivido sem o apoio de uma dessas três instituições (BB, CEF e BNDES, sem falar nos regionais BNB e BASA). Também se sabe que o banco privado nacional não gosta de risco, evita emprestar, só empresta com garantias excepcionais, empresta apenas a curto prazo e a juros muito altos.
As grandes empresas e as corporações mais relevantes (menos de mil empresas) já não dependem do sistema bancário para financiar-se. São capazes de recorrer direto ao mercado de capitais ou ao sistema financeiro internacional. Mas, onde ficam as outras milhões de empresas? Como vão financiar-se?
Argumentar que essas instituições oficiais de crédito e financiamento devem ser privatizadas porque são corruptas ou mal geridas, é um exagero, uma desproporção. Isso não convence sequer a mais tola criança. Propor ajustes em sua gestão seria razoável e perfeitamente factível.
Os empresários sabem, por exemplo, que o BNDES é uma instituição séria e bem gerida, com um corpo técnico competente, criterioso e com alto grau de transparência em suas transações. Toda a onda midiática contra ele é preponderantemente uma questão política. Os empresários também sabem que vão ficar em boa parte sem crédito adequado a suas necessidades (o perfil do banco privado é muito diferente).
Outras mudanças também afetarão os empresários de forma duramente negativa. A privatizacão do setor elétrico cria um fator de risco enorme para empresas eletrointensivas. Essa política de preços de combustíveis da Petrobrás (ou a sua privatização explícita ou não) é outro canhão apontado contra quem produz e quem distribui (imagina o preço do óleo combustível oscilando com a volsa de commodities de Chicago!!!). Até o pequeno comerciante sertanejo sofrerá inutilmente, desnecessariamente. Importante: não há uma confluência perfeita entre os interesses do “mercado” e os interesses dos empreendedores.
Que jornalistas e economistas ‘de mercado’ não falem nisso, tudo bem. Mas, e os empresários? O que explica seu silêncio? Sentem-se constrangidos? Por que não defendem seus legítimos interesses e abrem um debate?