I – DA PETIÇÃO
Ó Thémis!
A vós, que sois
A divindade grega do jusnaturalismo,
A Lei dos Deuses,
Eu vos imploro:
Iluminai
Diké, vossa filha,
A divindade grega do juspositivismo,
A Lei dos Homens,
De sorte que,
No caso concreto, na questão fática,
Com a destreza com que maneja a balança
Da igualdade, da isonomia,
Empunhe a espada
Do poder-dever,
E estabeleça o devido equilíbrio.
Por ser de Justiça!
II – DOS FATOS
Porque nasci mulher, pobre e negra,
Você me vê como presa fácil, fêmea incauta, sexo frágil, e então se acha no direito de sujeitar-me ao imoral e malquisto contato com o seu duro membro, à plena luz para fora posto.
Porque nasci mulher, morena e pobre,
Você se acha no direito de sujeitar-me à sua macheza covarde, manipulando o seu rijo órgão e estimulando-o com o roçar da glande intumescida na suave e sacrossanta pele do meu rosto.
Porque nasci mulher, pobre e mulata,
Você, macho, sexo forte, desencobre a sua sem-vergonhice e masturba-se até ejacular no meu pescoço uma gosma imunda, nojenta, repelente, que pelo meu colo escorre. Bicho e lixo.
Você, um traste repugnante, atrevidamente indelicado, inconsequente e delinquente, se acovarda e fantasia de síndrome – de quê, mesmo?! – o seu vil, ascoso e ultrajante esguicho.
Se, nascida mulher de qualquer classe e cor, me divirto e me embriago,
você se aproveita da minha circunstancial fragilidade
e agride covardemente a minha feminina identidade,
introduzindo o seu perverso dedo nas minhas intimidades,
sem se preocupar, insensivelmente, com o que isso me causa de estrago.
Saiba, carrasco tormentoso, que a minha dor vai muito além de um inconsciente medo!
Você nasceu pobre de espírito e, da natureza humana, não passa de mero arremedo!
Sinto muito nojo de você! Eu o abomino! Quem, de sã consciência, não o despreza?!
Você consegue ser mais asqueroso que a gosma nojenta da sua covarde macheza.
Você demonstra ser mais desprezível que o seu dedo medonho, sórdido e execrando.
Você se revela pequeno; tanto menor quanto o seu membro ignóbil, abjeto e nefando.
III – DA CONCLUSÃO
Ó Thémis!
Ó Diké!
Que sempre se estabeleça
O império da Justiça!