A imprensa brasileira tem umas coisas curiosas. Uma delas é a facilidade com que constrói, divulga, repete e busca consolidar “consensos”. Leonel Brizola foi um dos primeiros a perceber e reagir a isso, e pagou um preço alto, pois virou também ele um alvo consensual – até hoje a ele é atribuída a culpa por todos os problemas do Rio de Janeiro. João Goulart foi outro que sofreu nas linhas e entrelinhas da imprensa, desde que ainda nos anos 1950, como ministro do Trabalho varguista, decretou um aumento de cem por cento no salário mínimo. Getúlio Vargas foi atacado, cercado e praticamente levado ao beco sem saída do suicídio, depois que chegou pelo voto à presidência e governava dentro das regras (GV foi golpista e ditador entre 1930 e 1945). Não deve ser coincidência o fato de que todos são caracterizados e qualificados de populistas disfarçados de trabalhistas.
Mais recentemente, Lula e Dilma viraram alvos e foram bombardeados até serem derrubados do poder e presos (Lula e ilustres membros da burocracia do partido trabalhista).
Eles continuam sendo bombardeados todo dia. A Dilma e a Lula são creditados todos os problemas do Brasil – violência, corrupção, desemprego, déficit fiscal, baixo crescimento, má qualidade do serviço público.
Não há debate na imprensa. Quando o programa se diz de debate, colocam-se três pessoas e todas elas expressam quanto a esta questão sempre e invariavelmente a mesma opinião. As referências são expressas na mesma linguagem – o desastre do pt, o descalabro da Dilma, a corrupção institucionalizada de Lula, o radicalismo do pt. É um bombardeio permanente, sem tréguas, sem ressalvas, sem o “outro lado”. É uma campanha de propaganda, mais do que jornalismo, longe de ser jornalismo.
Nesse contexto como esperar que algum cidadão tenha um juízo próprio diferente? Praticamente impossível, porque é extenuante ficar sempre contra a maré, contra o tal consenso – o ouvinte, o leitor, o telespectador cansa e desiste.
Por tido isso é impressionante a resistência dos que ainda acreditam.
Recentemente, nos últimos dez meses,especificamente, tão largo e fundo é o desgoverno, que está cada vez mais difícil para os próprios jornalistas continuarem mantendo o teatro da desinformação militante.