A terceira temporada desta série que está na Netflix “O Segredo do Templo” se passa inicialmente em Istambul e conta a história de Atiye, uma artista plástica que tem uma vida normal ao lado de seu namorado e família, mas que ao mesmo tempo existe dentro dela uma inquietude, algo que não se encaixa e a perturba, fazendo com que pareça que ela está sempre um tanto quanto aérea.
A série retrata sem mencionar a velha religião da região da Capadócia antes do judaísmo, cristianismo e islamismo, onde os poderes eram transferidos de geração em geração pelas mulheres. A Capadócia fica no meio da Turquia, numa região chamada Anatólia Central, e fica no centro de uma área que teve há milhões de anos uma atividade vulcânica intensa.
Tudo muda quando Atiye conhece Erhan, um arqueólogo envolvido na escavação do templo mais antigo do mundo, Göbekli Tepe, que fica a aproximadamente 15 km de ?anl?urfa (Urfa) no sudeste da Turquia, situado entre as nascentes dos rios Tigre e Eufrates, que praticamente coincide com a localização bíblica do Eden (80 km). Estando nestas ruínas, Atiye se depara com um símbolo misterioso que marcou sua infância e que desenhava desde sempre. A partir daí, ela decide descobrir o significado e origem do mesmo, e nesta busca seu passado vem à tona com segredos que estão conectados ao antigo templo.
Trata-se de uma série onde os antepassados, o passado e o futuro retornam o tempo todo, e enquanto assistimos, ficamos imersos num emaranhado constante, e toda vez que pensamos que já estamos entendendo tudo, surge algo novo a se desvencilhar. O ponto alto desta série parece estar na permanência constante dos afetos que estão intimamente conectados a história de vida de cada personagem, sendo a cura e a revivência do nascimento ligados à figura feminina numa dimensão antropológica.
O estudo da arqueologia está relacionado com a investigação da presença de vestígios de materiais humanos, e tem como objetivo compreender os mais diversos aspectos da humanidade. Freud dizia que o trabalho de construção na psicanálise é semelhante ao trabalho do arqueólogo. Ambos encontram dificuldades em reconstruir por meio da adição e da combinação os restos que sobreviveram, mas no caso da psicanálise, o material a ser tratado não está destruído, ainda permanece vivo, sendo a reconstrução apenas um trabalho preliminar, enquanto que na arqueologia, a reconstrução é o objetivo final dos esforços do escavador: o material existe, e estar diante desta evidência instiga desvendar.
A religião é uma das atividades mais universais da humanidade, praticada por todas as culturas desde o início dos tempos, e surgiu do desejo de encontrar um significado para a vida, centrado na crença, nos rituais sobrenaturais, servindo de guia para a humanidade. Trata-se de uma série muito interessante, que desvenda e reorganiza a linha do tempo de seus personagens à medida em que eles se percebem conectados ao desconhecido de suas próprias histórias.
É o tal negócio, achamos que podemos esconder quem somos alimentando um falso-self, mas enquanto não nos olhamos, o passado se reproduz nas gerações presentes e futuras, o que acaba perturbando viver a própria história: não dá para esconder, tem que acessar, que estabelecer conexão.
Nesta série tão instigante, os personagens estão permanentemente correndo atrás do desconhecido, e de algum modo, encontram reminiscências dentro de si e na natureza o tempo todo: a estrela na testa, o desenho circular, inscrições, o olho grego, a árvore da vida: existe inquietude em tudo que está ao redor. É um retorno constante a si mesmo, que acontece por meio das simbologias que estão presente em Göbekli Tepe e seus antepassados.
Vale muito a pena assistir e se conectar com as histórias destes personagens, são segredos do universo que estão contidos no templo e nos personagens: são três temporadas de imersão.