“…O racismo que existiu no século XIX não é o mesmo que existiu no XX, que não é o mesmo de hoje. O racismo tem um aspecto dinâmico e um propósito específico, garantir as vantagens econômicas materiais do grupo racial dominante. Ele pode assumir diversas formas, inclusive a da negação.
Ou seja, o projeto racial brasileiro, curiosamente, opera como uma ideologia antirracista, a ideia da democracia racial. O racismo no Brasil tem essa característica de ser encoberto, mas também aversivo. Há uma defesa pública da igualdade, mas no espaço privado os indivíduos só mantêm contato com gente da mesma raça.
Além disso, frequentemente nos deparamos com exemplos nítidos de racismo institucional, caso da prisão do Rafael Braga ou da declaração do comandante da Rota, segundo quem os moradores dos Jardins não podem ser tratados da mesma forma que os habitantes da periferia. Muitos negam que esses casos possam ser classificados como racismo. Sempre há a vontade, a intenção, de mascarar a discriminação no Brasil…”
Adilson José Moreira sempre quis entender os mecanismos que perpetuam o racismo. A curiosidade tornou-se o principal objeto de suas investigações acadêmicas desde a graduação na Universidade Federal de Minas Gerais.
Doutor pela prestigiosa Universidade Harvard, Moreira acaba de lançar O Que É Discriminação?, livro que esmiúça o conceito de direito antidiscriminatório, disciplina obrigatória nas faculdades do ramo nos Estados Unidos e praticamente desconhecida no Brasil.
(Entrevista à Carta Capital, trecho inicial).