O QUE FAZER DE TANTO CONHECIMENTO E DE SABERES CRESCENTES — E COMO DOMINÁ-LOS?

Vali-me de um texto bem posto em grupo de abonados homens de saber que nos iluminam com a sua cuktura pelas redes sociaus. Abonados de um capital intangível — a inteligência. E, parece-me, estava bem inspirado neste impulso intrometido, a tal ponto que até recebi encorajamento de meu dileto cidadão de cultura, Eduardo Diatahy, a continuar nessa peleja.

E pus-me a deitar ideias mal-cosidas, desafiando o desleal corretor do meu iMac, tão servil mas, também, tão hipócrita. Preveni-me para não fazer citações pretensiosas de semiólogos celebrados ainda que pouco lidos; de trazer Barthes à colação, arrancando-o do seu repouso definitivo. Notas de roda-pé, nem pensar. É o que irão ler, se lhes sobrar coragem para essa travessia atrevida.

Não espero comentários, estímulos ou critica, além das gratas jaculatórias que me dispensarão os amigos cúmplices. De um modo geral, os que leem escritos alheios, os mais destemidos que de fato leem, mantêm-se calados ou elogiam pela simples consulta às benditas orelhas dos livros. Ou ao ultimo parágrafo dos artigos.

Pois, vamos lá.

A própria demarcação dos saberes constituídos não esgotam os anchos territórios abarcados pela Ciência.

A divisão de conhecimentos e de matérias por temas afins nada mais é do que estratégia didática para apreensão do todo pelas suas partes. São fronteiras imaginárias, como a linha do equador que separa os hemiferios mas ninguém a vê.

A atomização — o corte do conjunto em tomos, em fatias — não demonstra que as demarches de apropriação de saberes nela encontre o limite da sua incontrolável expansão.

Tomando como exemplificação: a estrutura universitária apoiada em departamentos exemplifica a divisão burocrática na qual se baseia o acesso ao conhecimento, às tarefas do magistério e ao esforço da pesquisa.

Em instituições acadêmicas mais avançadas, o território departamental cedeu espaço à confluência temática de saberes organizados e por ser ordenado.

A mesma tendência pode ser observada e reconhecida no rol das carreiras de formação profissionalizante. As profissões, como as conhecemos, estão em via de desconstrução.

As especialidades cederão o passo à consolidação de bases mais amplas de técnicas, habilidades e de pressupostos teóricos.

Se essa possibilidade não ocorrer, terá sido pela permanência dos ideais humanistas que reconheceram na técnica, na tecnologia e na especialização dos saberes, um traço totalitário dissimulado pelo prestígio social da ciência. As ideologias militam em favor da “desespecialização” do conhecimento.

Afinal, desse imenso territorio de ideias e certezas, bases de uma militância eficiente, emerge o encantamento de uma forma ativista do conhecimento enciclopédico.

Um sinal visível desses contrapontos está na sobrevivência de profissões calcadas no universo das aspirações humanistas seculares.

Saídos de formações universitárias associadas às letras e às ciências sociais, na perspectiva de campo mais ampla, para as quais não existe mercado de trabalho ou empregos, muitos desses jovens tornam-se graduados sem trabalho. A não ser em nichos acolhedores do serviço público.

Nada, entretanto, é de todo previsível ou plausível nessa complexa engenharia de produção de conhecimentos.

A velocidade da propagação do conhecimento e a sua expansão, a sua utilidade efetiva, mas também a sua fruição desinteressada no plano da cultura, tornam essas especulações frágeis e contingentes.

Paulo Elpídio de Menezes Neto

Cientista político, exerceu o magistério na Universidade Federal do Ceará e participou da fundação da Faculdade de Ciências Sociais e Filosofia, em 1968, sendo o seu primeiro diretor. Foi pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação e reitor da UFC, no período de 1979/83. Exerceu os cargos de secretário da Educação Superior do Ministério da Educação, secretário da Educação do Estado do Ceará, secretário Nacional de Educação Básica e diretor do FNDE, do Ministério da Educação. Foi, por duas vezes, professor visitante da Universidade de Colônia, na Alemanha. É membro da Academia Brasileira de Educação. Tem vários livros publicados.

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Paulo Elpídio de Menezes Neto

Cientista político, exerceu o magistério na Universidade Federal do Ceará e participou da fundação da Faculdade de Ciências Sociais e Filosofia, em 1968, sendo o seu primeiro diretor. Foi pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação e reitor da UFC, no período de 1979/83. Exerceu os cargos de secretário da Educação Superior do Ministério da Educação, secretário da Educação do Estado do Ceará, secretário Nacional de Educação Básica e diretor do FNDE, do Ministério da Educação. Foi, por duas vezes, professor visitante da Universidade de Colônia, na Alemanha. É membro da Academia Brasileira de Educação. Tem vários livros publicados.