O próximo presidente do Banco Central do Brasil, por Osvaldo Euclides

Se a guerra é importante demais para ser deixada aos cuidados dos generais, se a economia é estratégica demais para ser entregue ao comando dos economistas, sem nenhuma sombra de dúvida pode-se dizer que os bancos centrais jamais poderiam ser entregues ao mercado.

O caso do Brasil é ainda mais dramático. Além de ser entregue ao mercado, o Banco Central vem há mais ou menos três décadas executando políticas descasadas com o interesse mais legítimo do crescimento da economia, da geração de emprego e do desenvolvimento do País. Descasamento é até uma palavra suave para a gestão do BC.

O Banco Central tem gerido de maneira desastrada e contrária ao bom senso as duas políticas mais importantes da economia, a taxa de juros e a taxa de câmbio. Por mais que ele se esconda da responsabilidade sobre o câmbio, dizendo que a taxa é flutuante, até as pedras sabem que isso é conversa para boi dormir. O Brasil não tem tamanho, estrutura e mercado para deixar que a taxa flutue.

Mas desastrada não é uma palavra forte para o desempenho dessa instituição pública tão conectada ao mercado. Examine-se o desempenho no histórico de anos e décadas e se verá o desastre.

Gerir a dívida pública e, através dela, fazer política monetária é sua primeira missão. Possivelmente não há país no mundo que tenha um gasto tão alto em termos de custo direto da dívida ou em termos de custo em relação ao PIB. E os resultados contra a inflação são pífios. De tal maneira que o BC aplica freios constantes (como pode um veículo acelerar se o freio de mão está puxado?) ao acrescimento ou entramos em recessão, do contrário a inflação explode. A desculpas amarelas de que a dívida é alta, que o Governo não tem crédito, que o Brasil tem singularidades, são apenas isso, amarelas.

Gestor das contas internacionais em dólares, montado em reservas em moeda forte monumentais (uma das maiores do planeta) e regulador de toda transação de câmbio, o coitado do Banco Central sequer consegue evitar a montanha russa da taxa de câmbio. Esse sobe-e-desce até poderia ser razoável quando o país era dependente e fraco, há anos não é mais o caso.

Via taxa de câmbio e via taxa de juros, o Banco Central mexe com a vida e com o dinheiro de cada um dos duzentos e cinco milhões de brasileiros e suas empresas.

O Banco Central é tão importante e decisivo que nem quando um governo que se dizia popular chegou ao poder, sua gestão deixou de ser entregue ao mercado. E o país era tão fraco e dependente, então, que a Embaixadora dos Estados Unidos foi ouvida sobre a questão.

Então, para presidente do Banco Central, o que se sugere como alternativa a entregar o seu comendo direto ao mercado: eleições?

Diretas ou indiretas?

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.